Vídeo mostra alunos de colégio cívico-militar fazendo apologia à violência dentro de unidade escolar
Alunos marcham e cantam versos “à eliminação de moradores de periferia” no Colégio Estadual Cívico-Militar João Turin, em Curitiba.
Créditos: Divulgação/Redes sociais
Eliane Alexandrino / Cascavel
“Homem de preto, o que é que você faz? Eu faço coisas que assustam o satanás. Homem de preto, qual é sua missão? Entrar na favela e deixar corpo no chão. O Bope tem guerreiros que matam fogueteiros. Com a faca entre os dentes, esfola eles inteiros. Mata, esfola, usando sempre o seu fuzil.”
Essas falas foram extraídas de um vídeo publicado nas redes sociais que revela estudantes do Colégio Estadual Cívico-Militar João Turin, em Curitiba. Nas imagens, adolescentes marcham na quadra do colégio enquanto repetem o verso acima. O que impressiona é que a cena ocorre sob a supervisão de um militar aposentado.
De acordo com a APP-Sindicato, o vídeo confirma denúncias de doutrinação e violação de direitos de adolescentes dentro do modelo cívico-militar implantado pelo governador Ratinho Jr. (PSD).
Atualmente, o Paraná conta com 312 colégios cívico-militares distribuídos em diversas regiões do estado, modelo que será ampliado em mais 33 unidades aprovadas na última consulta pública.
O programa de colégios cívico-militares foi implementado no Paraná em 2021, durante o governo Ratinho Jr., após consultas realizadas no ano anterior que, segundo relatos de comunidades escolares, ocorreram sob pressão e sem respeito à autonomia das unidades. A última consulta foi realizada em 2023.
O deputado estadual Arilson Chiorato (PT) repudia a ação e afirma que buscará providências. “É um absurdo o que a gente viu sobre essa escola cívico-militar de Curitiba, em que os alunos aparecem cantando cantigas militares. Nós já tínhamos denunciado o uso de escolas cívico-militares para doutrinação e também para espalhar ódio e agressividade. Esse exemplo é concreto. Mostra o que pode ser feito com nossos jovens por uma pessoa despreparada psicologicamente e tecnicamente, que vive num mundo abstrato, num mundo de guerra consigo mesmo”, afirma.
Chiorato também destacou que irá denunciar e levará na tribuna da Alep o vídeo que estudantes/menores de idade. “O que estamos vendo aí é exatamente o ódio que estava instalado no país está diminuindo, mas ainda existe. Nós, da oposição, vamos tomar uma medida jurídica quanto a isso. Hoje, vou denunciar mais uma vez na Assembleia do Estado, falar disso nas tribunas. Vamos tomar providências jurídicas. Não dá para permitir. Tem que haver uma posição judicial sobre o que tem acontecido, e nós vamos cobrar e ir para cima de todas as formas possíveis.
Inclusive, esse caso está tomando proporção nacional. Hoje de manhã, inclusive, conversei com o presidente nacional do PT, Edinho, sobre como encaminhar essa situação”, pontua Chiorato.
Sindicato se manifesta e critica o modelo de ensino no Paraná
A escola tem como papel central a humanização, a construção do respeito e a valorização da diversidade. Para o sindicato, o modelo cívico-militar vai na contramão desse objetivo.
“A escola tem como papel central a humanização, a construção do respeito e da diversidade. O modelo cívico-militar vai na contramão deste objetivo. O vídeo ao qual tivemos acesso e denunciamos é uma das provas, entre tantas denúncias, sobre este modelo, seja por assédio, violência ou agora pela incitação à violência e ao racismo. Continuaremos denunciando e tomando todas as medidas cabíveis para que a escola volte a ser um espaço de construção do respeito e da dignidade humana, afirma a presidenta da APP-Sindicato, Walkiria Mazeto.
O que diz a Secretaria de Educação do Estado?
A Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR) informa que, ao tomar conhecimento do vídeo divulgado na sexta-feira (28), solicitou imediatamente esclarecimentos à direção da escola e aos profissionais envolvidos.
A pasta afirma que o conteúdo não condiz com as diretrizes da rede estadual e repudia qualquer manifestação que estimule violência ou discriminação, reforçando o compromisso com uma educação pautada pelo respeito, inclusão e proteção dos estudantes.
A Seed convocou os diretores da escola onde os alunos foram filmados entoando gritos que não condizem com a grade curricular e exigirá explicações sobre a rotina.
O órgão também destacou que os colégios cívico-militares têm se destacado em projetos como o Ganhando o Mundo e o Maratona Tech, e que manifestações como a exibida no vídeo não condizem com o compromisso do Paraná com uma educação cidadã e transformadora. A secretaria informa ainda que está avaliando a data em que o vídeo foi gravado dentro do colégio.
CONFIRA O VÍDEO NO INSTAGRAM DA GAZETA DO PARANÁ:
Foto: Divulgação
