Pedidos de recuperação judicial de produtores rurais crescem 61% em um ano
Levantamento da Aprosoja e Abramilho aponta endividamento crescente no campo e alerta para riscos financeiros no agronegócio
 Créditos: Jaelson Lucas/Arquivo AEN
                Créditos: Jaelson Lucas/Arquivo AEN
                Os pedidos de recuperação judicial apresentados por produtores rurais somaram 2.273 solicitações em 2024, segundo levantamento divulgado neste mês pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) e pela Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho). O número representa um aumento de 61,8% em relação a 2023, revelando o agravamento do endividamento no campo e as dificuldades enfrentadas pelo setor agrícola.
Somente até o segundo trimestre de 2024, já haviam sido protocolados 565 pedidos, reforçando a tendência de alta observada ao longo do ano.
Endividamento e crédito rural
De acordo com o advogado Alisson Giuliano, especialista em recuperação judicial, a medida é geralmente vista como “última alternativa” para produtores que enfrentam dívidas elevadas. Ele explica que o problema financeiro costuma ter origem na concessão de crédito sem análise adequada da capacidade de pagamento e da produtividade.
“A recuperação judicial é, para muitos produtores, a última chance de reestruturar o passivo financeiro e manter a atividade produtiva”, afirmou Giuliano.
Dificuldades no agronegócio
O diretor-executivo da Aprosoja Brasil, Fabrício Rosa, afirmou que o aumento dos pedidos reflete as dificuldades econômicas e operacionais do agronegócio.
“Essas análises de cenário são fundamentais para que os produtores se preparem para o novo ciclo e ajudam o público em geral a compreender os desafios da produção de alimentos”, disse.
Rosa também destacou a importância do planejamento e da prudência financeira, diante da volatilidade cambial e dos altos custos de insumos agrícolas.
Fatores que impulsionam o endividamento
O advogado empresarial Ermiro Ferreira Neto aponta dois fatores principais para o aumento do endividamento no campo:
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elevação dos custos de produção, impactada pela valorização do dólar e dos insumos; 
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alta da Taxa Selic, que encareceu o crédito rural e aumentou o custo do capital. 
Ferreira Neto lembra que, ao ingressar com o pedido de recuperação judicial, o produtor tem 180 dias de suspensão de cobranças e execuções judiciais — o chamado stay period — o que garante fôlego financeiro e a continuidade das atividades.
“O efeito mais importante é o stay period, que protege o patrimônio essencial e assegura a continuidade da produção”, explica o advogado.
Reestruturação e prazos ampliados
Os planos de recuperação judicial aprovados pela Justiça têm concedido carências prolongadas e prazos estendidos para o pagamento das dívidas, ajustando o fluxo financeiro ao ciclo agrícola.
“Os descontos são negociados individualmente, mas refletem a realidade de insolvência, com o juízo e os credores aceitando a reestruturação como a melhor forma de recuperar o crédito no longo prazo”, destacou Ferreira Neto.
Perspectivas
Para os especialistas, a recuperação judicial — quando conduzida com transparência e viabilidade técnica — é um instrumento legítimo de preservação da função econômica e social do campo, evitando a falência e a perda de empregos.
O aumento expressivo dos pedidos, segundo as associações, reforça a necessidade de políticas públicas e estratégias financeiras mais sólidas para garantir a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.
Com informações da CNN
 
                
                
            
 
																			 
																			 
																			 
																			 
																			 
																			 
																			 
																			 
                     
                     
                    