corbelia setembro

Implantação do sistema da Elotech expõe contradições entre usuários e Prefeitura de Foz do Iguaçu

Contadores relatam paralisação, perda de funcionalidades e suporte insuficiente; Gestão Silva e Luna diz que cronograma foi cumprido e que instabilidade é “fase natural”

Implantação do sistema da Elotech expõe contradições entre usuários e Prefeitura de Foz do Iguaçu Créditos: Reprodução

Bruno Soares

Foz do Iguaçu

 

A implantação do Sistema Integrado de Gestão Municipal da Prefeitura de Foz do Iguaçu, contratado por R$ 8,4 milhões com a empresa Elotech, continua gerando instabilidade, perda de serviços e queixas de usuários mais de um mês após sua ativação. Enquanto contadores relatam paralisação de rotinas, perda de funcionalidades e suporte insuficiente, a administração municipal governada pelo General Silva e Luna (PL) afirma que não houve atraso e que todas as etapas previstas foram cumpridas.

O novo sistema, que reúne módulos de arrecadação, fiscalização, governo digital e recursos humanos, entrou em operação em 3 de outubro. Entre os dias 3 e 17 daquele mês, contadores e demais usuários ficaram sem acesso a consultas, cadastros e abertura de empresas.

Para a contadora Elizangela De Paula Kuhn, o impacto foi generalizado e a normalização completa pode levar de 60 a 90 dias. “Ficamos do dia 3 ao dia 17 sem acesso a sistema nenhum. A abertura de empresas ficou paralisada. Ainda acho que vai uns 60 a 90 dias para ter normalidade”, afirmou.

O presidente do Sindicato dos Contadores e Técnicos em Contabilidade de Foz do Iguaçu (SINCOFOZ), Leandro Corrêa, confirma a paralisação e diz que a retomada só ocorreu no fim de outubro. “Do dia 3 ao dia 17 não podia nem gerar processos. Isso se regularizou no final do mês”, disse.

O representante dos contadores critica também a discrepância entre a comunicação oficial sobre o serviço prestado pela Elotech e a experiência real dos usuários. “A propaganda deles é legal, mas o sistema não funciona. A notícia era de um jeito e a realidade de outra”.

A crítica contrasta com nota publicada pela própria empresa em 8 de outubro, que descrevia a implantação como “bem-sucedida”, com “absoluta estabilidade” e mais de 3 mil emissões de notas no primeiro dia.

Conforme apurado pela reportagem, a estrutura de governança do sistema também foi criada tardiamente. O Comitê Gestor do Projeto Elotech só foi instituído pelo prefeito Silva e Luna em 15 de agosto de 2025, menos de dois meses antes da ativação, apesar de o Decreto nº 33.866 reconhecer a “complexidade” dos 1.726 itens do contrato. O colegiado é coordenado pelos secretários Luiz Teixeira (Tecnologia), Eduardo Garrido (então Finanças, atual gabinete do prefeito) e Larissa Ferreira (Administração). O contrato, firmado em fevereiro, foi licitado ainda na gestão do ex-prefeito Chico Brasileiro (PSD), mas coube à atual gestão conduzir a transição.

O Plano Estratégico de Gestão Tributária, publicado em setembro passado, fixava como meta a implementação completa do sistema até outubro deste ano, o que não ocorreu. Ainda neste mês de novembro, contadores e empresários relatam que parte das funcionalidades segue inoperante, especialmente o módulo do contador, que permitia acessar e gerenciar informações de clientes.

Outra mudança que elevou a burocracia foi o cancelamento de notas fiscais. Antes, o procedimento podia ser realizado diretamente pelo emissor dentro do período de apuração. Agora, cada cancelamento exige processo administrativo e, em alguns casos, anuência do tomador do serviço. “Cada cancelamento demanda processo administrativo e, em muitos casos, exige a anuência do cliente”, relatou a Elizangela.

Os profissionais ouvidos também afirmam que o diálogo com a gestão só foi iniciado após os problemas se tornarem públicos. “A Prefeitura não ouviu a classe contábil antes da mudança. O diálogo só veio depois que o problema apareceu”, disse o presidente do sindicato.

Mesmo após a retomada parcial dos serviços, usuários afirmam que a instabilidade permanece. “Até hoje estamos com sérios problemas ainda em várias questões”, afirmou Leandro, que aponta prejuízos a contribuintes, contadores e ao próprio município na fase de transição.

A Prefeitura, em nota, sustenta que todo o cronograma foi cumprido. A administração classifica o momento atual como “fase natural de estabilização”, afirma que atua diariamente para corrigir falhas, que as solicitações da categoria estão em análise e que o retorno do módulo do contador depende de critérios técnicos e de segurança. Segundo a gestão Silva e Luna, as medidas em andamento “garantirão um sistema mais rápido, mais seguro e confiável”.

Procurado, o responsável pela gestão de projetos da Elotech, Jovenir Junior, não respondeu à reportagem.

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