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Venda das concessões aeroportuárias da Motiva envolvem terminais paranaenses

Especialistas locais veem na venda uma chance de redesenhar o planejamento dos terminais paranaenses, sobretudo se o novo operador adotar estratégia mais segmentada

Por Da Redação

Venda das concessões aeroportuárias da Motiva envolvem terminais paranaenses Créditos: Motiva/CCR Aeroportos

A venda dos 20 aeroportos administrados pela Motiva (ex-CCR) ao grupo mexicano Asur, por R$ 11,5 bilhões, marca uma das maiores transações da história do setor e representa o fim de um ciclo que, no Paraná, foi acompanhado de perto, e com críticas, especialmente pelas cidades de Foz do Iguaçu e Curitiba. Os dois terminais, entre os mais relevantes do estado, eram parte do Bloco Sul de concessões e, segundo lideranças regionais, sofreram impactos diretos da política operacional da empresa.

O negócio foi anunciado na noite desta terça-feira (18), por meio de fato relevante. A operação envolve os 17 aeroportos concedidos à Motiva no Brasil, entre eles Confins (MG), Curitiba, Foz do Iguaçu, Goiânia, Palmas e Teresina, e três terminais no exterior, localizados em Quito (Equador), San José (Costa Rica) e Curaçao (Antilhas Holandesas). A Aeropuerto de Cancún, subsidiária da Asur, pagará R$ 5 bilhões em equity e assumirá R$ 6,5 bilhões em dívidas líquidas da empresa.

A conclusão da transferência depende da aprovação da Anac, de credores e também de reguladores internacionais, com expectativa de encerramento do processo em 2026. Até lá, a Motiva seguirá à frente da operação, mantendo o quadro de colaboradores e os investimentos previstos em contrato.

Entre os ativos vendidos, os aeroportos Afonso Pena, em Curitiba, e o de Foz do Iguaçu desempenham papel crucial não apenas pela movimentação, Foz é o terceiro aeroporto mais importante da Região Sul, mas pelo impacto na aviação internacional do estado. No entanto, a gestão conjunta dos dois terminais sob a mesma concessão alimentou questionamentos desde o início.

Críticos apontam que, ao unir aeroportos com perfis e demandas tão distintos, o modelo acabou privilegiando a capital em detrimento de Foz. A cidade fronteiriça, que historicamente tenta consolidar-se como hub regional de turismo e de voos internacionais, teria perdido protagonismo ao longo da administração da Motiva.

Essa percepção ganhou força com análises como a do ex-secretário de Turismo de Foz, Gilmar Piola, que avaliou a mudança de operador como positiva para o município em sua coluna no portal Diário de Foz. Ele criticou a antiga concessionária por atrasos em processos importantes, como a homologação da ampliação da pista, e por escoar rotas internacionais originalmente previstas para Foz para o aeroporto Afonso Pena, em Curitiba. Segundo ele, o movimento contribuiu para que Foz, hoje, ainda opere abaixo do fluxo registrado antes da pandemia.

Especialistas locais também veem na venda uma chance de redesenhar o planejamento dos terminais paranaenses, sobretudo se o novo operador adotar estratégia mais segmentada e transparente entre os dois aeroportos. A Asur, responsável por hubs turísticos como Cancún, Mérida e Cozumel, chega ao Brasil com reputação de experiência em destinos de alta demanda internacional, um aceno observado com atenção no Oeste do Paraná.

Reposicionamento da Motiva

Para a Motiva, a venda encerra uma etapa de diversificação iniciada ainda sob o nome CCR. O CEO Miguel Setas vinha reforçando nos últimos meses a intenção de focar em um reposicionamento que chamou de “volta ao básico”, concentrando os esforços da empresa em concessões rodoviárias e sistemas de transporte de alta densidade, como metrôs e trens urbanos.

A operação também melhora a estrutura financeira da empresa, reduzindo a alavancagem de 3,5 para menos de 3 vezes e abrindo espaço para disputar projetos que, somados, chegam a R$ 160 bilhões mapeados para os próximos anos. Recentemente, a Motiva venceu licitações consideradas estratégicas, como o Lote 3 das rodovias do Paraná e a Rota Sorocabana (SP).

Impactos

A chegada da Asur reforça a presença estrangeira na administração aeroportuária brasileira e, segundo o Ministério de Portos e Aeroportos, sinaliza confiança no crescimento do setor. O ministro Silvio Costa Filho classificou a negociação como “a maior transação aeroportuária em curso no mundo” e destacou o potencial de ampliação de voos entre Brasil e México, além de novas frentes de integração turística e comercial.

Em 2025, de janeiro a setembro, já foram registrados mais de 1,3 mil voos entre os dois países, com crescimento acima de 15% no número de passageiros. O governo vê na chegada do grupo mexicano uma oportunidade para aumentar a conectividade com outros mercados.

Para Foz do Iguaçu, a mudança é tratada como uma chance de rediscutir sua estratégia aeroportuária, buscar a retomada de voos perdidos e, sobretudo, recuperar o projeto de se tornar um hub regional. Já para Curitiba, a expectativa é de continuidade no processo de modernização e expansão, mantendo o Afonso Pena como um dos terminais mais eficientes do país.

O desafio da Asur será conciliar dois aeroportos paranaenses com perfis distintos e expectativas próprias, uma equação que, segundo lideranças locais, não foi plenamente solucionada pela antiga concessionária. A forma como a empresa mexicana conduzirá essa divisão de prioridades deve definir os rumos da aviação no estado pelos próximos anos.

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