Sobe para 7 o número de supostas vítimas que teriam sofrido abuso de padre

Secretário de Segurança do Estado e delegada responsável pelo caso atualizaram o andamento das investigações. Até o momento, 18 pessoas foram ouvidas e outras 20, entre outros padres e funcionários da Igreja, deverão prestar esclarecimentos nos próximos dias.

Por Eliane Alexandrino

Sobe para 7 o número de supostas vítimas que teriam sofrido abuso de padre Créditos: Coronel Huson Teixeira

Eliane Alexandrino/Cascavel

O secretário de Segurança Pública do Paraná, coronel Hudson Teixeira, esteve em Cascavel nesta manhã (28), onde, juntamente com a delegada do Nucria, Thaís Zanatta, atualizou os dados sobre as investigações de denúncias de abusos sexuais envolvendo o padre Genivaldo Oliveira dos Santos, de 41 anos, que está preso temporariamente na Cadeia Pública de Cascavel. Além do padre, o arcebispo Dom Mauro Aparecido dos Santos, falecido em 2021, foi citado durante a entrevista coletiva.

As investigações tiveram início em julho deste ano, após denúncia formalizada pela tia de uma das vítimas. A operação incluiu o cumprimento de mandados de busca e apreensão em dois endereços: a casa do padre e uma clínica onde ele atuava como terapeuta, ambos em Cascavel, no último domingo (24).

De acordo com o coronel Hudson e a delegada Zanatta, subiu de seis para sete o número de vítimas que teriam sofrido abusos sexuais por parte do padre. Também há outros dois casos envolvendo o falecido Dom Mauro: um referente a um boletim de estupro de vulnerável registrado em 2008 e, no mesmo ano, outro que envolve uma criança de apenas 3 anos que frequentava um Cmei na região Sul de Cascavel.

“Já foram localizadas e identificadas sete vítimas do padre, que segue preso temporariamente. Também surgiu mais uma vítima confirmada do bispo falecido em 2021. Tudo isso está sendo trabalhado, todas as vítimas foram ouvidas, outros casos estão surgindo e estão sendo verificados. Entre eles, um acidente de veículo com o carro do padre e o estupro de vulnerável em 2008. Uma das vítimas disse que, depois da morte do bispo, levou o caso de volta à Igreja Católica. E queremos saber por que esse fato só veio ao conhecimento da segurança agora. Por que não foi tomada nenhuma providência e por que a polícia não teve conhecimento de todos esses crimes que ocorreram ao longo desses anos”, declarou o coronel Hudson.

Durante a entrevista, o coronel confirmou que autoridades religiosas tinham conhecimento dos casos. As respostas deverão vir após a conclusão do inquérito policial do Nucria.

“O que nós temos é o relato de sete pessoas de abuso, a princípio por parte do padre. Pelo bispo, uma vítima confirmada, e também estamos investigando uma situação de estupro de vulnerável que envolve uma criança. De 2021 pra cá está sendo avaliado pela polícia judiciária quem estava na gestão da Igreja Católica, se sabia dos fatos e, se sabia, por que não tomou nenhuma providência. E, se tomou, quais foram? Isso fará parte do inquérito que a dra. Thaís está elaborando junto à equipe”, afirmou Teixeira.

Ele também confirmou a existência de um boletim de ocorrência feito pela mãe da vítima de 3 anos.

“Existe, sim, um boletim de ocorrência de estupro de vulnerável de uma menina de 3 anos. Existe também um boletim de ocorrência relativo à situação do acidente do veículo do padre. Fora isso, não tenho conhecimento se essas pessoas foram submetidas a exame. Tem também a situação de um rapaz, uma das vítimas, que tentou suicídio em dezembro passado. Ele ainda está sendo tratado. O que chegou para nós agora, foi tomada providência de imediato. Os casos em que não foram tomadas providências, estaremos levantando os responsáveis”, acrescentou.

A delegada disse também que, além do bispo Dom Mauro, outro padre frequentava o Cmei São Francisco, no Bairro Guarujá, onde teria ocorrido o abuso da criança.

“Vão ser aprofundadas as investigações. A princípio temos o nome do bispo falecido e de um padre que frequentava essa creche na época dos fatos. Porém, ainda não temos nenhuma prova que possa ligar definitivamente esse bispo e o padre aos fatos ocorridos em 2008. Temos diversas testemunhas que serão ouvidas”, afirmou Zanatta.

Ainda em relação ao falecido Dom Mauro, a delegada disse na entrevista que uma das vítimas relatou que era comum o bispo aliciar seminaristas.

“A vítima relatou, no depoimento, que o falecido Dom Mauro tinha o hábito de aliciar os seminaristas dentro do seminário. Assediava passando a mão pelo corpo. Isso aconteceu entre os anos de 2012 e 2013”, acrescentou.

Omissão de autoridades eclesiásticas

Sobre o acordo (termo que foi assinado pela Igreja Católica) feito entre o padre Genivaldo e a vítima em 2008, a polícia agora irá investigar os responsáveis que estavam à frente da Arquidiocese em Cascavel.

“Em 2008, uma das vítimas relatou sobre um termo de acordo interno que fizeram. Talvez tenha sido coagido na época pelo bispo já falecido. Tudo isso está sendo levantado. Então, isso é o início de todo o processo. Vamos apurar quem eram os responsáveis na época”, destacou.

A mãe da criança deverá prestar esclarecimentos nos próximos dias, mas poderão surgir novas vítimas, afirma a polícia. O processo investigativo segue em andamento. Até o momento, entre 18 e 19 pessoas já foram ouvidas, e outras 20 ainda prestarão depoimento nas próximas semanas. Genivaldo segue preso temporariamente e poderá ter a prisão prorrogada por mais 30 dias.

Carro de padre se envolveu em acidente que matou um jovem

A Polícia Civil vai ouvir o vereador Sidnei Mazutti em investigação sobre um acidente ocorrido em 2019, em Cascavel, que resultou na morte de um jovem. O caso envolve o carro do padre Genivaldo dos Santos. Segundo relatos, o veículo estaria emprestado a outra pessoa, que atropelou a vítima.

A família denunciou que o episódio teria sido abafado na época, e novas testemunhas devem ser ouvidas para esclarecer as circunstâncias e responsabilidades. Mazutti será chamado a depor porque teria auxiliado o padre após o acidente.

“Isso tudo também foi apontado agora. Estamos verificando o porquê de não ter um procedimento instaurado em relação a este veículo. Pra nós, agora é um pouco cedo. O fato chegou para nós agora, é grave, então tudo isso está sendo verificado. É claro que os fatos serão apurados, mas temos conhecimento de que está relacionado com a mesma pessoa”, explicou Teixeira.

Sétima vítima do padre seria de Santa Lúcia

O padre Genivaldo foi transferido para uma paróquia em Santa Lúcia no fim do ano passado e estava atuando na igreja no início deste ano. A delegada Thaís Zanatta confirmou à imprensa que a sétima vítima de suposto abuso por parte do padre seria do município de Santa Lúcia.

“A vítima foi identificada, tem 16 anos e, na época do abuso, tinha 15. Segundo o relato, o abuso teria ocorrido após uma confissão para o padre. O menino havia contado que era homossexual e, após essa confissão, o padre iniciou os atos de abuso”, concluiu.

Quem é Genivaldo Oliveira dos Santos

Natural de Cascavel, ele foi ordenado em 2013 e atuou em diferentes paróquias da região. Em 2025, assumiria a Paróquia São Roque, em Santa Lúcia, após mais de uma década na Paróquia Imaculado Coração de Maria, no bairro Periolo.

Além das funções pastorais, destacou-se na comunicação religiosa. Criou a web rádio Deus é Maravilhoso, no ar por oito anos, que chegou a registrar 19 mil acessos mensais, com programação variada e interação com jovens. Também inaugurou uma FM comunitária para alcançar fiéis idosos.

Genivaldo foi ainda assessor da Pastoral da Sobriedade e da Renovação Carismática Católica, além de escritor. Entre suas obras está Palavras que curam, sobre meditações de cura interior. Sua prisão interrompe uma trajetória marcada por atuação pastoral, projetos de mídia e produção literária.

O que diz a Arquidiocese?

A Arquidiocese mantém a mesma postura: desde que recebeu a denúncia, o religioso foi suspenso de suas atividades e aberto um processo de investigação. Esse processo já está em andamento, com prazo de 90 dias, e depois será encaminhado ao Vaticano, que fará o julgamento. Também afirmou estar colaborando com toda a investigação policial. “Se confirmado, ele deixará de ser padre”, afirmou Dom José Mário Angonese.

Foto: Eliane Alexandrino

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