SAÚDE: Hospital Universitário “perde” Ala de Queimados
Comissão deliberou o espaço para a destinação de cirurgias eletivas, mas mudança gera críticas devido a luta de mais de uma década para conquistar o espaço

A Ala de Queimados de Cascavel do HUOP (Hospital Universitário do Oeste do Paraná) está pronta desde 2016, mas nunca foi equipada e, pelo visto, não será. Em setembro de 2021, uma audiência pública chegou a ser realizada na Câmara de Vereadores da época para transformar o espaço em um centro de cirurgias eletivas.
No mês passado, uma jovem de 31 anos, Jeniffer Monteiro dos Santos, não resistiu à queimadura de 80% do corpo. Ela sofreu uma grave explosão no apartamento onde morava, no Bairro Riviera, em Cascavel, chegou a ficar internada, mas não resistiu. Se precisasse de tratamento, teria que se deslocar para os grandes centros.
Este é um dos casos de pacientes que sofrem queimaduras graves e precisam de um atendimento especial para a recuperação, mas a região Oeste não possui, atualmente, esse suporte.
Hoje, no Paraná, apenas duas alas atendem pacientes com histórico grave de queimaduras. Uma delas fica em Curitiba, e a outra, em Londrina, no norte do Paraná.
A ala construída no HUOP foi aberta de forma emergencial durante a pandemia de 2020 para tratar os pacientes em estado mais grave da Covid-19. O espaço, então, se tornou, na época, a Ala do Covid, totalmente equipada para tratar os pacientes que ficavam internados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Essa transformação da ala em centro cirúrgico foi criticada pela população e também por quem defende a causa. O ex-presidente da Associação dos Pré-Queimados do Oeste do Paraná, Vamor Lemainski, lamenta a falta de funcionamento da ala atualmente. Segundo ele, a luta para conseguir a construção do espaço durou 14 anos.
"Foi feito um acordo verbal para suprir a demanda das cirurgias eletivas. Como a estrutura da ala estava pronta, o pessoal achou que seria melhor dar esse suporte. A gente lutou por 14 anos para trazer a Ala de Queimados. Na época, cobramos muito da construtora responsável pelo atraso da obra, por conta dos pagamentos atrasados e do próprio Estado, e hoje não podemos deixar essa luta em vão", declara.
Para Lemainski, não apenas a população perde, mas os futuros médicos também, já que muitos estudantes de medicina precisam ir para outras cidades para terminar a especialização em cirurgias plásticas.
"É muito complicado, pois, além dos pacientes que precisam do tratamento terem que se deslocar para outras cidades, perde-se a qualidade humana. Os futuros cirurgiões plásticos também perdem, por não conseguirem fazer especialização dentro do próprio Hospital Universitário. A macrorregião também perde, pois a unidade iria atender municípios do Oeste e do Sudoeste. Abrir mão de algo que já temos... Agora o HUOP passa a dar cobertura exclusiva para a realização das cirurgias eletivas. Isso é um retrocesso", indaga.
O deputado Federal Nelsinho Padovani (União Brasil) já encaminhou R$ 5 milhões para a compra de equipamentos para o tratamento cardíaco no HU. Na opinião dele, a Ala de Queimados ajudou a salvar centenas de vidas durante a pandemia de 2020, mas precisa ser usada para o propósito para o qual foi construída.
"Muito importante a ala de queimados, que na época da Covid-19 foi utilizada para os pacientes mais graves, e agora para cirurgias eletivas. Mas tem que ter um espaço destinado para cada especialidade. Já cobrei muitas vezes do hospital, e a secretaria do Estado alegou que a demanda é baixa na região. Me coloco à disposição para a Sesa e para o HU para efetivarmos, definitivamente, a Ala de Queimados em Cascavel", conclui.
O que diz a Sesa?
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) esclarece que, após a pandemia, a CIR (Comissão Intergestores Regional) deliberou que o espaço originalmente previsto para atendimento a queimados no Hospital Universitário de Cascavel fosse destinado à realização de cirurgias eletivas. A decisão levou em conta a necessidade de reduzir a fila de procedimentos cirúrgicos na região, garantindo assistência ágil à população.
Desde a metade do ano passado, essa adequação tem permitido a realização de uma média de 400 cirurgias eletivas por mês, beneficiando com grande êxito os pacientes de Cascavel e municípios vizinhos. Essa medida também levou em consideração que os atuais leitos de UTI do SUS (Sistema Único de Saúde) têm suprimido a demanda de queimados no Paraná, sem prejuízo à assistência. Em casos de necessidade de transferência, os pacientes continuam recebendo atendimento especializado, assegurando que nenhum cidadão fique desassistido.
O Estado mantém uma rede estruturada de saúde com profissionais e equipamentos adequados para atender a diversas patologias, incluindo o tratamento de pacientes queimados, garantindo assistência de qualidade em todas as regiões do Paraná.
Levantamento
A direção do Huop afirma ter feito um levantamento entre novembro e dezembro de 2019 de quantos pacientes queimados o hospital tinha atendido, na época segundo a direção eram em torno de 22 pacientes em dois anos.
“Nós achamos que era muito pouco paciente da região que precisaria ser atendido em um centro de queimado frente ao número de pacientes represados pela eletivas na região. Antes da pandemia a gente tinha uma fila de 2,8 mil pessoas. Nós conversamos com o estado e entramos num acordo para usar o espaço para agilizar as cirurgias eletivas. Chegamos a ter 70 leitos de UTI durante a pandemia por cerca de 2 anos. E por conta da pandemia as eletivas foram suspensas, com isso chegamos a um total de mais de 4 mil pacientes aguardando por cirurgia”, afirma o diretor do Huop, Rafael Muniz.
O Huop atende atualmente 94 municípios (10ª Regional - Cascavel, 7ª Regional - Pato Branco, 8ª Regional – Francisco Beltrão, 9ª Regional – Foz do Iguaçu e a 20ª Regional - Toledo) aproximadamente 2 milhões de pacientes.
Eliane Alexandrino/Gazeta do Paraná
