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“Rei do Algodão” denuncia golpe de grupo ligado a venda de sentenças no STJ

Família alega ter sido vítima de fraude em meio a vulnerabilidade pessoal e financeira; caso se conecta a escândalo de venda de sentenças no STJ

“Rei do Algodão” denuncia golpe de grupo ligado a venda de sentenças no STJ Créditos: Folha do Estado

O Grupo Pupin, um dos maiores conglomerados do agronegócio em Mato Grosso e em recuperação judicial desde 2017, entrou com ação na Justiça alegando ter sido vítima de um esquema que lhe custou parte do patrimônio e o controle de seus negócios. A denúncia, feita em petição incidental protocolada na 1ª Vara da Comarca de Campo Verde, aponta como responsáveis o Grupo Fource — hoje denominado Midas Agro Investimentos S/A — e seus representantes, já citados em investigações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Polícia Federal sobre venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Segundo José Pupin, conhecido como “Rei do Algodão”, e sua esposa Vera Lúcia Camargo Pupin, os contratos firmados com a Fource/Midas foram assinados em um momento de extrema vulnerabilidade. Entre 2018 e 2020, Pupin enfrentava tratamento contra um câncer, enquanto sua esposa já convivia com os efeitos do mal de Parkinson. Essa fragilidade, somada à crise financeira, teria aberto espaço para o ingresso dos “parceiros” que prometeram soluções milagrosas.

Em 2020, o grupo Fource apresentou proposta de capitalização, renegociação de dívidas e governança. Foram firmados instrumentos que previam a criação de Unidades Produtivas Isoladas (UPIs) e, em dezembro daquele ano, uma procuração pública concedeu aos sócios Valdoir Slapak e Haroldo Augusto Filho poderes irrevogáveis sobre o patrimônio Pupin.

A confiança, no entanto, se transformou em suspeita. Segundo a petição, em vez de buscar a quitação de dívidas, a Fource/Midas teria direcionado recursos em benefício próprio, adquirido créditos para votar em assembleias de credores e realizado operações sem transparência, agravando a crise do conglomerado.

“Os contratos e a procuração foram utilizados como escudos de fraude, com o nítido escopo de transferir o patrimônio do Grupo Pupin para terceiros, em prejuízo dos credores e dos recuperandos”, afirmam os advogados Eumar Novacki e Raphael Vianna de Menezes.

O caso ganha contornos ainda mais graves porque os nomes de Slapak e Haroldo aparecem na Operação Sisamnes, da Polícia Federal, que apura compra de decisões judiciais no STJ e no Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Conversas extraídas do celular do advogado Roberto Zampieri — assassinado em Cuiabá em dezembro de 2023 — mostram citações diretas ao Grupo Pupin em tratativas suspeitas de bastidores.

Diante do cenário, a família Pupin pede ao Judiciário a suspensão imediata dos contratos, o cancelamento da procuração pública, a reversão de atos patrimoniais já praticados, a proibição de novas alienações de bens e a prestação de contas detalhada da gestão da Fource/Midas, sob pena de multa de R$ 1 milhão por dia em caso de descumprimento.

Em 31 de julho de 2025, os advogados do Grupo Pupin notificaram extrajudicialmente a Midas Agro e a Fource Consultoria, declarando rescindidos os contratos. Até o momento, as empresas não responderam, mas continuam na gestão do patrimônio.

A ação também requer ofícios à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para identificar cotistas e beneficiários dos fundos ligados às operações da Fource/Midas, além da intimação da administradora judicial e do Ministério Público para acompanhar o caso.

A Justiça de Campo Verde deve decidir se acolhe o pedido da família e se instaura medidas para investigar a atuação da Fource/Midas no processo de recuperação judicial do Grupo Pupin.

As informações são da Folha do Estado

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