corbelia setembro

Protestos em várias capitais cobram investigação independente sobre operação policial no Rio de Janeiro

Ação da Polícia Militar no Complexo da Penha deixou 121 mortos e é considerada a mais letal do país; movimentos sociais pedem federalização das investigações e responsabilização das autoridades

Protestos em várias capitais cobram investigação independente sobre operação policial no Rio de Janeiro Créditos: Paulo Pinto/Agência Brasil

Manifestações foram realizadas nesta sexta-feira (31) em diferentes estados do país em protesto contra a Operação Contenção, ação policial no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos nesta semana, o maior número já registrado em uma única operação no Brasil. Os atos ocorreram no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Maranhão, reunindo movimentos sociais, lideranças comunitárias e familiares de vítimas.

No Rio, moradores dos complexos da Penha e do Alemão caminharam pelas ruas mesmo sob chuva, partindo da Vila Cruzeiro, uma das comunidades mais afetadas pela operação. O ato teve a presença de mães e familiares de jovens mortos em ações policiais anteriores, que pediram o fim da violência nas favelas.

Em São Paulo, manifestantes se concentraram em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) e seguiram em passeata pela Avenida Paulista até a Rua da Consolação. O movimento negro e entidades sociais pediram a federalização das investigações e a criminalização do governador Cláudio Castro e dos policiais envolvidos.

Douglas Belchior, da Coalizão Negra por Direitos e da Uneafro Brasil, defendeu a criação de políticas de acolhimento às famílias das vítimas e reparações pelos danos morais e psicológicos causados. “Estamos denunciando uma política genocida do Estado brasileiro”, afirmou.

Durante o ato, entidades como o Movimento Negro Unificado (MNU), a Marcha das Mulheres Negras e a Unegro se uniram para denunciar o que classificaram como uma “guerra não declarada” contra a população periférica. “Mataram em um dia mais do que em Gaza. Lá é declarada a guerra, aqui não, mas ela existe e nós resistimos com consciência e mobilização”, disse Zezé Menezes, fundadora da Marcha das Mulheres Negras.

Em São Luís (MA), os protestos reuniram centenas de pessoas na Praça Deodoro, com faixas e cartazes criticando a ação policial. Jovens e professores destacaram que a operação representa uma política de extermínio das populações pobres e negras. “Não podemos normalizar um massacre em comunidades onde o Estado só entra com armas, nunca com políticas públicas”, afirmou Claudicéia Durans, professora do Instituto Federal do Maranhão (IFMA).

O estudante Alex Silva, de 18 anos, classificou a operação como um exemplo de necropolítica, prática em que o Estado decide quem deve viver ou morrer, e questionou a declaração do governador Castro, que chamou a ação de “bem-sucedida”.

Em Brasília, manifestantes se concentraram na Esplanada dos Ministérios pedindo uma investigação independente sobre a operação. O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) enviou um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o governador do Rio de Janeiro preste informações sobre a ação. O conselho também solicitou à ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, a realização de uma perícia autônoma para apurar denúncias de execuções.

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