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PF aponta que lobista e ex-servidor do STJ usaram empresa de fachada em Cuiabá para lavar dinheiro da venda de sentenças

Relatório de 400 páginas indica transações superiores a R$ 1,2 milhão e revela indícios de corrupção em três gabinetes do Superior Tribunal de Justiça

PF aponta que lobista e ex-servidor do STJ usaram empresa de fachada em Cuiabá para lavar dinheiro da venda de sentenças Créditos: Reprodução

A Polícia Federal identificou indícios de que o lobista mato-grossense Andreson de Oliveira Gonçalves e o ex-servidor do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Márcio Toledo utilizaram uma empresa de fachada em Cuiabá para lavar recursos obtidos por meio da negociação de sentenças judiciais. A apuração integra o relatório parcial de 400 páginas encaminhado ao ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), no último dia 6 de outubro.

Segundo o documento, obtido pelo site Olhar Jurídico, a transportadora Florais, de propriedade de Andreson, teria transferido mais de R$ 1,2 milhão à Marvan Logística, registrada em nome da esposa de Márcio, Vanessa Toledo. A empresa, criada em 2021, não possui empregados nem movimentação operacional compatível, e seria usada para dar aparência de legalidade às operações financeiras. A sigla “Marvan”, aponta a PF, resulta da junção dos nomes “Márcio” e “Vanessa”.

Esquema de repasses

A análise bancária revelou mais de 40 transferências da Florais à Marvan entre maio de 2021 e dezembro de 2023, muitas de alto valor — como dois repasses de R$ 250 mil feitos no mesmo dia, além de outros de R$ 100 mil, R$ 150 mil e R$ 200 mil. O maior montante individual identificado foi de R$ 1,2 milhão em 2021.

O relatório aponta que os valores integravam um “fluxo de corrupção intermediado por Andreson”, com destino final ao núcleo familiar de Márcio, que atuava no gabinete da ministra Isabel Gallotti, do STJ. O ex-servidor é acusado de forjar minutas de decisões posteriormente assinadas pela ministra, beneficiando o lobista e o advogado Roberto Zampieri, morto em 2023.

Exoneração e novas diligências

Em setembro, o STJ exonerou Márcio Toledo após um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), tornando-o o primeiro servidor desligado desde a revelação do escândalo. O delegado responsável solicitou a manutenção das medidas cautelares impostas aos investigados, incluindo o afastamento de servidores, para impedir a retomada das atividades ilícitas.

A investigação também envolve o contador Nilvan Marques Medrado, responsável técnico por mais de 150 empresas, a maioria do setor de transportes. Segundo a PF, a multiplicação de firmas e a fragmentação das movimentações financeiras serviam para mascarar o fluxo de dinheiro e dificultar o rastreamento.

Operação Sisamnes e novos alvos

As descobertas fazem parte da Operação Sisamnes, que já teve mais de dez fases e resultou em buscas na mansão de Andreson, em Primavera do Leste (MT). A ofensiva levou ao afastamento dos desembargadores Sebastião de Moraes, João Ferreira Filho e do juiz Ivan Lúcio Amarantes, suspeitos de negociar decisões judiciais.

Além do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), a PF investiga indícios de corrupção em três gabinetes do STJ — os das ministras Isabel Gallotti e Nancy Andrighi, e do ministro Og Fernandes. Os principais servidores apontados são Márcio Toledo, Rodrigo Falcão e Daimler Alberto Campos.

Em trecho do relatório, o delegado afirma que o grupo atuava “de forma organizada e estruturada, reproduzindo padrões típicos de organizações criminosas”, com repasse pulverizado de valores para dificultar a detecção das movimentações ilícitas. A PF defende a continuidade das investigações para aprofundar o rastreamento do dinheiro e o envolvimento de novos agentes públicos.

Com informações do Mídia News/Olhar Direto

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