Uma empresa apontada pela Polícia Federal (PF) como integrante da estrutura de lavagem do dinheiro desviado do esquema de descontos ilegais em aposentadorias movimentou cerca de R$ 98 milhões entre setembro de 2023 e fevereiro de 2024. Metade desse montante — R$ 49 milhões — foi transferida pelo lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, considerado o principal operador de fraudes que podem ter alcançado até R$ 4 bilhões.
Segundo o relatório da PF, Antunes repassou à Arpar Participações e Empreendimentos quase todo o valor recebido de sindicatos e associações ligados às irregularidades. Parte dos recursos retornava para empresas associadas ao lobista e seus sócios. Uma fatia de R$ 3 milhões foi destinada ao advogado Paulo Boudens, ex-chefe de gabinete do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que à época atuava como assessor parlamentar.
As informações já foram entregues à CPMI do INSS, instalada no Congresso. Na semana passada, os parlamentares aprovaram a quebra dos sigilos bancário e fiscal da Arpar e discutem a convocação do proprietário da companhia.
O relatório destaca que a Arpar operava como “empresa de passagem”, com transferências rápidas que dificultavam o rastreamento do destino dos valores. Procurado, Boudens não se manifestou.
Com histórico de envolvimento em escândalos, ele foi apontado em 2021 pela prática de “rachadinha” no gabinete de Alcolumbre, assumiu a responsabilidade judicialmente e firmou acordo para devolver os valores desviados. Mesmo após o episódio, seguiu vinculado ao senador em diferentes cargos dentro do Senado.