Morre Walter Zimmermann, jornalista, escritor e radialista que marcou a comunicação no Paraná
Ex-vereador e secretário de Comunicação, autor de “Hienas e Crocodilos – Caso Deputado Tiago Novaes”, deixa legado que atravessa seis décadas de atuação na imprensa, na política e na literatura
Por Gazeta do Paraná

Faleceu neste domingo (10), aos 88 anos, Walter Zimmermann, jornalista, escritor, radialista e ex-vereador. Ele morreu em casa, no Recanto Tropical, em Cascavel, após complicações de saúde. Deixa a esposa, Neide, e seis filhos.
Nascido em Passo Fundo (RS) em 11 de julho de 1937, Zimmermann viveu a infância e a juventude no interior catarinense, em Faxinal do Irani, então distrito de Xanxerê. Aos 16 anos, iniciou a carreira como professor municipal na escola da comunidade, função que exerceu até os 19.
Em sua autobiografia, relembrou: “Desde os tempos de professorzinho, dos 16 aos 19 anos, na escola municipal de Faxinal do Irani, interior do município de Xanxerê (SC), eu já tinha a mania de escrever versinhos rimados que, a rigor, nunca chegaram a ser poesias de um gênero definido.”
Do magistério ao rádio
Em 1958, por indicação de um amigo, foi apresentado a Francisco Norberto Bonner, proprietário da Rádio Chapecó. Após teste de leitura no microfone, foi contratado e estreou no dia seguinte como apresentador à noite e locutor nas manhãs. “Após rápido teste ao microfone, depois de ler os textos que me entregou, deu aprovação na hora. Fazendo sinal de positivo, sorridente, foi dizendo: a partir de amanhã, será apresentador neste horário e locutor pela manhã, durante pelo menos uma hora, talvez uma hora e meia.”
A partir dali, percorreu diferentes cidades do Sul do Brasil, trabalhando em emissoras, ajudando a fundar rádios em Francisco Beltrão, Capanema e Céu Azul, e ocupando cargos de direção.
Atuação política e comunitária
Em 1972, foi eleito vereador mais votado de Capanema, no Sudoeste do Paraná, com mais de 500 votos. Em Céu Azul, onde também foi proprietário de emissora, presidiu a Associação Comercial.
A partir de 1983, estabeleceu-se em Cascavel, onde atuou por seis anos como secretário de Comunicação e assessor de imprensa. Participou da fundação do Clube Germânico, do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Estância Colorada e da Academia Cascavelense de Letras. Presidiu a Associação dos Jornalistas e concluiu o curso de Jornalismo nos anos 2000, estudando também História e Ciência Política.
Produção literária e investigação jornalística
Zimmermann publicou livros de memórias, poesias e obras históricas. Registrou a história de Céu Azul e, em novembro de 2023, lançou sua autobiografia, reunindo episódios da infância, juventude e trajetória profissional, com passagens sobre a vida no interior antes da televisão, a rotina como professor e o início no rádio.
Entre suas obras, destaca-se Hienas e Crocodilos – Caso Deputado Tiago Novaes (2005), resultado de uma pesquisa feita sobre o assassinato do deputado estadual e repórter policial Tiago de Amorim Novaes, ocorrido em 18 de dezembro de 2001, no centro de Cascavel.
No livro, Zimmermann escreve sobre a gravidade do caso: “O assassinato de um deputado estadual e jornalista policial, ocorrido em plena luz do dia, no coração da cidade, não poderia jamais ser tratado como um crime comum. O que estava em jogo era mais do que a vida de um homem: era a credibilidade das instituições.”
A obra apresenta registros de investigações, depoimentos e questionamentos sobre a condução do caso, descrevendo episódios como a ausência de CPI na Assembleia Legislativa e a recusa de autoridades em permitir a entrada da Polícia Federal.“As portas se fecharam para a Polícia Federal. O argumento: não havia motivação para sua entrada. O que havia, na verdade, era o temor de que a PF encontrasse o que a polícia local não queria — ou não podia — encontrar.”
Embora tenha como foco central a morte de Tiago Novaes, a obra de Zimmermann vai além da narrativa do crime. O autor contextualiza a estrutura do poder local e estadual, examina a relação entre imprensa e política e provoca o leitor a refletir sobre como a falta de transparência e a resistência a investigações independentes podem comprometer a Justiça. O livro se tornou referência em cursos de Direito e Jornalismo.
Reconhecimento
Em 3 de julho de 2024, recebeu o título de Cidadão Honorário de Cascavel, concedido pela Câmara Municipal, em reconhecimento à contribuição para a imprensa e para a vida comunitária da cidade. Na ocasião, dividiu a homenagem com a esposa e os filhos.
Legado
Em sua autobiografia, Zimmermann descreveu o momento atual de sua vida com simplicidade: “Hoje, um tempinho para leitura, outro para o computador, no pequeno escritório que acomoda ainda uma mini biblioteca aqui em casa no Recanto Tropical, na belíssima cidade de Cascavel.”
Ao longo de mais de seis décadas, Walter Zimmermann construiu uma trajetória que atravessou o magistério, o rádio, a política e a literatura, preservando a memória regional e exercendo um jornalismo atento aos fatos e ao contexto em que eles ocorrem. Seu trabalho permanece como registro e reflexão sobre a história do Oeste do Paraná e sobre os desafios da comunicação pública e investigativa no estado.
