Deputado Barichello diz que PCC pode ter lavado dinheiro também no interior

O parlamentar abriu uma CPI em abril passado, mas até agora conseguiu apenas cinco assinaturas para dar andamento à comissão que visa apurar a atuação do crime organizado na venda de combustíveis na capital e região metropolitana

Por Gazeta do Paraná

Deputado Barichello diz que PCC pode ter lavado dinheiro também no interior Créditos: Divulgação

Em entrevista à Gazeta do Paraná, o deputado delegado Tito Barichello (União) detalhou o que motivou a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito ) na Alep (Assembleia Legislativa do Paraná), em abril deste ano, com foco nas investigações sobre compra, venda e distribuição de combustíveis em Curitiba e na região metropolitana.

A iniciativa ganhou força após uma megaoperação nacional revelar um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis, com participação direta da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). O deputado reforça o pedido de instauração da CPI, que conta, até o momento, com apenas cinco assinaturas, ou seja, número insuficiente para sua abertura.

A operação mobilizou 1,4 mil agentes públicos e cumpriu mandados em oito estados, incluindo o Paraná. Segundo as investigações, o esquema envolvia sonegação de R$ 7,6 bilhões, adulteração de combustíveis com metanol, lavagem de dinheiro e uso de fintechs e fundos de investimento para ocultação de patrimônio, com conexões diretas com o Porto de Paranaguá.

A CPI tem como objetivo investigar a atuação de organizações criminosas no setor, especialmente a lavagem de dinheiro, formação de cartéis, uso de violência contra concorrentes e possíveis conivências de agentes públicos. Barichello afirma ter tomado conhecimento dos fatos por meio da Paranapetro, de denúncias anônimas e da constatação de preços excessivamente similares dos combustíveis em Curitiba, o que indicaria um cartel.

O documento que solicita a abertura da comissão aponta a necessidade de apurar indícios de que postos de combustíveis estão sendo utilizados como instrumento de lavagem de capitais provenientes de atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e outros crimes patrimoniais. Há suspeitas de vínculos estruturais entre redes de postos e organizações criminosas, que atuariam de forma coordenada para dominar economicamente uma parte significativa do setor, inclusive com eliminação violenta da concorrência.

“Tomamos conhecimento do problema por meio do presidente da Paranapetro, durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa, e em reunião com a Comissão de Fiscalização. Notamos preços muito similares entre os postos de Curitiba, um claro indício de cartel. Isso é crime. Já em abril, por informações extraoficiais, tomei conhecimento de que o PCC vinha controlando a compra e venda de combustíveis no estado. Posteriormente, essas informações foram confirmadas oficialmente pela Polícia Federal e Receita Federal”, explica o deputado.

Barichello ressalta que, para dar continuidade aos trabalhos, é fundamental que a CPI seja instaurada, o que ainda não ocorreu devido à baixa adesão de parlamentares.

“A CPI está parada porque conseguimos apenas cinco assinaturas, e são necessárias 15 [um terço dos 45 deputados]. Não se trata apenas do prejuízo ao consumidor com a qualidade do combustível, ou da concorrência desleal com outros proprietários de postos. O mais grave é que o dinheiro gerado vai financiar atividades ilícitas. As investigações, se continuarem, certamente revelarão esquemas em outras cidades, principalmente no interior. Não sei por que os demais deputados não assinam. A CPI visa apurar os fatos, não punir. Se for instaurada, pretendo presidi-la. Mas até agora não temos apoio suficiente. Presumo que alguns tenham temor. Apesar de ser da base do governador Ratinho, tenho independência. Ainda não falei com ele pessoalmente sobre o tema”, acrescenta.

Até o momento, além de Barichello, assinaram o pedido os deputados: Fabio Oliveira (Podemos), Dr. Leônidas, Flávia Francischini (União) e Requião Filho (PDT).

 

PCC pode estar no interior

Barichello acredita que o esquema criminoso já atua também no interior do Paraná. Ele afirma que, com o avanço das investigações da Polícia Federal e da Receita Federal, novos desdobramentos devem surgir.

“Acreditamos que o esquema vai além da capital. O interior também está sendo afetado. O que chama atenção é o preço dos combustíveis no interior, chegando a ser R$ 1 mais barato que em Curitiba. Isso é estranho, já que o produto sai da capital e pela lógica, o frete deveria encarecer o preço. Empresários nos informaram que o custo do frete chega a R$ 0,27 por litro para que está longe da Capital. A coincidência nos preços também nos chamou a atenção. A própria investigação da Polícia Federal já comprovou a adulteração dos combustíveis com álcool. Isso configura estelionato. Estima-se que bilhões de reais tenham sido lavados com a venda de combustíveis. Esses produtos entraram pelo Porto de Paranaguá. A Receita e a Polícia Federal já têm essa informação. Recebemos denúncias anônimas que apontam a atuação de grupos criminosos dominando o setor”, destaca.

Segundo o deputado, o caso é também uma questão de segurança pública e exige uma resposta firme das autoridades.

“Estamos lidando com algo que vai além da economia: é uma questão de segurança pública, de integridade das instituições e de proteção à população paranaense. O Estado precisa agir com firmeza. Fiz o pedido de CPI em abril porque havia indícios graves. Com a comissão, teremos poder de investigar, requisitar documentos, fiscalizar, e até pedir medidas judiciais como prisões ou buscas, dentro dos limites legais. Assim como a PF e a Receita investigaram os 46 postos envolvidos com o PCC”, ressalta.

A justificativa do pedido da CPI inclui dados de operações policiais, relatórios de inteligência, reportagens e denúncias, que indicam a presença de facções como o PCC, o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Grupo Catarinense (PGC) no controle de redes de postos de combustíveis. Estima-se que até 30% dos postos em São Paulo estejam envolvidos com essas fraudes,  um modelo que, segundo Barichello, pode estar sendo replicado no Paraná.

“A Assembleia Legislativa tem o dever de reagir à altura dessa ameaça. Vamos investigar a fundo, responsabilizar os culpados e propor mudanças reais para proteger o povo paranaense”, finaliza.

 

Fiscalização no Porto de Paranaguá

O deputado também afirmou que, se a CPI for instaurada, a comissão pretende fiscalizar o Porto de Paranaguá. Segundo ele, é necessário entender a origem do combustível, sua rota e o destino final.

“Temos que investigar toda a cadeia: compra, venda e distribuição. De onde está vindo esse produto? Como ele passa pelo porto até chegar aos postos? Não se adultera combustível comprando do posto vizinho. Se a CPI for instaurada, poderemos requisitar todos os documentos relacionados ao Porto de Paranaguá para verificar e apurar os fatos. Essa operação mostrou o que muitos já suspeitavam: que o crime organizado se infiltrou no coração da economia formal. O Paraná não será refém do crime organizado”, conclui.

 

O que diz a Paranapetro?

Em nota, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Derivados de Petróleo e Gás Natural do Paraná (Paranapetro) declarou:

"A infiltração do crime organizado no segmento de combustíveis em todo o Brasil é um problema grave, que vem sendo denunciado e investigado pelas autoridades competentes nos últimos anos. O Paraná é especialmente sensível por conta da entrada de produtos importados pelo Porto de Paranaguá, utilizados ilegalmente em adulterações, conforme informações já levadas ao conhecimento dos órgãos fiscalizadores. A operação em curso é fundamental para combater a ilegalidade no setor, que se espalhou por toda a cadeia: produção, distribuição e revenda, em diversos estados do Brasil”, finaliza.

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