Paranhos depõe na CPI do “Professor Monstro” e defende condução do PAD
Paranhos destacou ter receio de que o relatório final possa produzir provas para a defesa do acusado
Por Da Redação

O ex-prefeito de Cascavel e atual secretário de Turismo do Paraná, Leonaldo Paranhos, foi ouvido nesta sexta-feira (5) pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura a condução do processo administrativo disciplinar (PAD) contra o servidor condenado por abusar sexualmente de crianças em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) da cidade. Conhecido como “professor monstro” no curso das investigações, o caso mobilizou a comunidade escolar e provocou forte reação no município.
Paranhos administrou Cascavel entre 2017 e 2024 e foi o responsável por assinar as portarias de abertura e sucessivas prorrogações do PAD instaurado contra o servidor. Em seu depoimento, afirmou que os trâmites seguiram o padrão estabelecido na prefeitura, com a Controladoria enviando ao gabinete do prefeito os documentos já analisados e assinados pelo então controlador, Cletírio Feistler.
“Confesso que esqueci o início da CPI, pelos motivos que levaram à implantação. Passei a pensar no relatório final. A minha preocupação pessoal é que essa CPI, que confio plenamente nela, possa consolidar um ato inédito em Cascavel: pela primeira vez na história um prefeito demite um pedófilo e, cinco meses depois, a Justiça o condena a 30 anos. Minha preocupação é que os defensores dessa pessoa, condenada administrativa e juridicamente, possam se valer do relatório da comissão para tentar construir provas de defesa”, afirmou o ex-prefeito.
Paranhos detalhou como se davam os procedimentos administrativos. Segundo ele, era rotina que a documentação chegasse já com a assinatura do controlador ou secretário responsável, o que dava segurança para que o despacho final fosse realizado no gabinete. “Vinham 15, 20 sindicâncias em trâmite, com relatório único, já assinado do secretário. Pegava a assinatura do prefeito para a prorrogação e despachava com o gabinete. Essa era uma exigência minha, até para que eu pudesse me nortear. Se viesse sem assinatura, devolvia”, explicou.
O ex-prefeito também destacou a rapidez da Secretaria de Educação diante da primeira denúncia formalizada por uma mãe, que chegou à pasta já acompanhada de boletim de ocorrência na polícia. “A secretária Marcia, em cinco dias, encaminhou o processo para a Corregedoria e para o Nucria. E a partir desse momento veio um documento para abrir a sindicância, que nós instauramos. Nesse caso específico, eu não poderia fazer mais do que fiz. O que nunca aceitei foi arquivar processos sem relatório final. Eu cobrava isso, e pedia: se a pessoa foi inocente, escreva no papel; se foi culpado, escreva também. E se não deu tempo de fiscalizar, que se pedisse prazo maior”, declarou.
Durante a oitiva, Paranhos reafirmou que, assim que a comissão processante concluiu pela responsabilidade do servidor, sua demissão foi imediata. “Não tinha como, neste caso, eu fazer mais do que fiz. Quando a comissão fundamentou a decisão e me encaminhou, prontamente demitimos o servidor”, disse. Questionado sobre falhas na tramitação, respondeu que eventuais responsabilidades individuais devem ser apuradas e punidas.
Apesar das explicações, vereadores da comissão avaliaram que a fala do ex-prefeito acrescentou pouco ao que já constava nos documentos e nos depoimentos de servidores. “A gente sentiu que o prefeito não quis incriminar alguém ou apontar um erro, seja na Secretaria, seja na Corregedoria. Mas nós já identificamos falhas, tanto na Corregedoria quanto na Secretaria de Educação e nos próprios CMEIs”, afirmou o presidente da CPI, vereador Everton Guimarães (PMB).
Para o vereador Dr. Lauri (MDB), a investigação deixará um legado preventivo para a rede municipal. “Essa CPI será um marco de prevenção. A lei tem dois caracteres: repressivo e preventivo. E a CPI também, para que se criem mecanismos e medidas de proteção às nossas crianças e para dar uma satisfação a toda a sociedade, que cobra o posicionamento desta Casa de Leis”, disse.
Com o depoimento de Paranhos, a fase de oitivas da CPI está praticamente concluída. Ao longo dos trabalhos, os parlamentares receberam centenas de documentos e ouviram diferentes gestores e servidores ligados ao caso. O relator Hudson Moreschi (Podemos) deve finalizar o relatório no prazo de 30 dias. Além dele e de Everton Guimarães, a comissão conta com o vereador Contador Mazutti (PL) como secretário, e com os membros Valdecir Alcantara (PP) e Dr. Lauri (MDB).
A expectativa agora é sobre o conteúdo do relatório final, que pode apontar falhas administrativas e recomendar mudanças no sistema de fiscalização e acompanhamento de denúncias dentro da rede municipal de ensino. O documento também deve servir de base para eventuais responsabilizações.
Paranhos, por sua vez, reiterou confiança no trabalho da comissão, mas reforçou a preocupação de que o resultado não seja usado para tentar atenuar a pena do agressor, condenado pela Justiça a 30 anos de prisão. “O meu objetivo sempre foi prestar contas à população e principalmente à família, dizendo que quem investigou chegou a uma conclusão”, explicou.
