De olho nas eleições, Lula irá lançar pacote de medidas populares
O conjunto de ações inclui um novo vale-gás, financiamento para reformas residenciais e crédito para motoboys e motoristas de aplicativo
Por Da Redação

O Palácio do Planalto prepara um pacote de programas sociais que deve ser lançado no segundo semestre de 2025, mirando diretamente as eleições de 2026, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve disputar seu quarto mandato. O conjunto de ações inclui um novo vale-gás, financiamento para reformas residenciais e crédito para motoboys e motoristas de aplicativo adquirirem veículos próprios. As informações são do Jornal O Globo.
A estratégia política prevê que Lula use as quintas e sextas-feiras para viagens pelo país, nas quais divulgará obras e ações do governo. A primeira iniciativa do “pacotão” deve ser o programa Gás para Todos, que substituirá o atual Auxílio Gás. A nova versão promete atender 16,6 milhões de famílias, quase o triplo das 5,4 milhões alcançadas hoje, com um cartão exclusivo para retirada de botijões de 13kg. O valor do auxílio será calculado com base no número de pessoas da família.
O custo estimado do programa é de R$ 2,6 bilhões ainda em 2025 e R$ 5 bilhões em 2026. A medida será enviada por Medida Provisória e, segundo auxiliares, o lançamento deve ocorrer até meados de agosto, com presença de Lula em um evento simbólico.
A aposta no vale-gás coincide com o anúncio de redução de 14% no preço da molécula de gás vendido pela Petrobras às distribuidoras. A estatal informou que, a partir de 1º de agosto, os novos valores refletem a queda de 11% no petróleo Brent e a valorização de 3,2% do real. Com isso, a molécula acumula uma redução de 32% desde dezembro de 2022, que pode ultrapassar 33% com incentivos extras oferecidos pela petroleira.
Outro ponto-chave do pacote é a criação de um programa de crédito para entregadores e motoristas de app adquirirem motos e carros próprios, reduzindo os custos com aluguel de veículos. O grupo é visto como majoritariamente simpático ao ex-presidente Jair Bolsonaro e foi resistente a propostas anteriores de regulação feitas pela atual gestão. A ideia é oferecer financiamento com recursos do fundo de R$ 10 bilhões do programa Acredita, voltado a micro e pequenos empreendedores. A proposta foi desenvolvida pelo Ministério do Desenvolvimento Social e está sob análise final da Casa Civil.
“Esses trabalhadores têm um custo que reduz sua capacidade de renda, com aluguel da moto e equipamentos. Boa parte deles está no Cadastro Único e no Bolsa Família”, afirmou o ministro Wellington Dias (PT).
Também está em fase de elaboração um programa do Ministério das Cidades para financiar reformas de moradias. Serão duas linhas: uma de até R$ 5 mil por família, para pequenas melhorias, e outra de até R$ 30 mil, para reformas estruturais. O foco é atrair a classe média, segmento considerado estratégico pelo Planalto. No entanto, há dúvidas internas sobre de onde virá o orçamento para viabilizar os empréstimos.
Segundo aliados, Lula está em “modo urgência” e tem pressionado os ministérios a acelerarem entregas. A orientação é que cada lançamento seja comunicado ao Planalto para que a equipe avalie a presença do presidente nos eventos. Os ministérios da Saúde e da Educação são os mais cobrados, com destaque para o programa Agora Tem Especialistas, que utiliza clínicas privadas para reduzir filas de exames e cirurgias no SUS.
O foco do governo é melhorar a avaliação entre eleitores de renda média, considerados um grupo “pendular” entre petistas e bolsonaristas. Levantamento da Quaest, divulgado neste mês, mostra que 43% dos eleitores com renda entre dois e cinco salários mínimos avaliam o governo Lula como positivo. Em junho, eram 39%. Ainda assim, 52% mantêm avaliação negativa.
Apesar da expectativa do Planalto, analistas políticos avaliam que o impacto eleitoral dos programas pode ser limitado. Para o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, o eleitor está mais exigente e deixou de ver os programas sociais como diferenciais.
“O eleitor já não tem medo de perder esses benefícios com uma eventual derrota do governo. E passou a encarar políticas sociais como uma obrigação do Estado”, afirmou Nunes.
O desafio será converter programas em apoio eleitoral em um cenário político mais competitivo e polarizado.
