COP 30 começa com defesa da transição energética e lembrança a Rio Bonito do Iguaçu
Lula afirmou que “a emergência climática é uma crise de desigualdade”, destacando que o colapso ambiental atinge de forma desproporcional os mais pobres e vulneráveis
Por Da Redação
Créditos: Bruno Peres/Agência Brasil
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) começou nesta segunda-feira (10), em Belém (PA), marcada pelo discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em defesa de uma “transição justa” para economias de baixo carbono e por apelos de urgência diante dos desastres climáticos recentes no Brasil e no mundo. Realizada pela primeira vez na Amazônia, a conferência segue até o dia 21 e reúne líderes de mais de 190 países.
Na abertura, Lula afirmou que “a emergência climática é uma crise de desigualdade”, destacando que o colapso ambiental atinge de forma desproporcional os mais pobres e vulneráveis. “Ela expõe e exacerba o que já é inaceitável. Aprofunda a lógica perversa que define quem é digno de viver e quem deve morrer”, disse. O presidente defendeu uma nova governança global que reduza as assimetrias históricas entre o Norte e o Sul global, responsáveis por séculos de emissões desiguais de carbono.
Em tom simbólico, Lula citou o xamã yanomami Davi Kopenawa: “O pensamento na cidade é obscuro e esfumaçado, obstruído pelo ronco dos carros e pelo ruído das máquinas. Espero que a serenidade da floresta inspire em todos nós a clareza de pensamento necessária para ver o que precisa ser feito.”
O presidente também reiterou o papel dos povos indígenas e das comunidades tradicionais na preservação ambiental. “No Brasil, mais de 13% do território são áreas demarcadas para os povos indígenas. Talvez ainda seja pouco”, disse, reforçando a responsabilidade dos países desenvolvidos em financiar ações climáticas nos países em desenvolvimento.
Tragédia no Paraná é lembrada
O primeiro dia da COP foi marcado também por uma menção direta à devastação causada pelo tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, na última sexta-feira. O presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago, destacou o desastre, que deixou seis mortos e mais de 700 feridos, como um símbolo da urgência climática.
“A questão da urgência é o elemento adicional, que está tão presente e somos lembrados, com grande tristeza, como, por exemplo, essa semana no Brasil, no Paraná, ou nas Filipinas, ou poucas semanas atrás na Jamaica. Temos uma responsabilidade imensa”, afirmou. Para o diplomata, tragédias como a de Rio Bonito do Iguaçu mostram que o impacto das mudanças climáticas já é uma realidade, não uma projeção. “Esta é uma COP de implementação, que precisa ouvir a ciência e agir.”
A citação emocionou a plateia e reforçou o contraste entre a destruição no interior do Brasil e a grandiosidade do evento sediado no coração da Amazônia.
“COP da verdade” e o combate à desinformação
Em outro trecho do discurso, Lula fez críticas aos negacionistas climáticos e defendeu o fortalecimento do multilateralismo. “Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos da cooperação internacional. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, afirmou.
Segundo o presidente, embora o mundo esteja “na direção certa”, a velocidade das ações ainda é insuficiente. “Sem o Acordo de Paris, o planeta estaria fadado a um aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século. Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada.”
Antes de iniciar o discurso oficial, Lula fez questão de agradecer ao povo do Pará e ressaltou o simbolismo de trazer o encontro para o coração da floresta. “A Amazônia não é uma entidade abstrata. Quem só vê floresta de cima desconhece o que se passa à sua sombra”, afirmou.
