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Contas de luz disparam e poder público cobra explicações da Copel

Há relatos em que o valor da conta de luz aumentou mais de 50%, assustando moradores e prejudicando o orçamento de várias famílias

Por Bruno Rodrigo

Contas de luz disparam e poder público cobra explicações da Copel Créditos: AEN

Moradores de Cascavel tem enfrentado problemas com a Companhia Paranaense de Energia, a Copel, devido ao aumento significativo das contas de energia elétrica. São dezenas de relatos de pessoas que sofreram um ajuste descabido no preço de suas faturas após a implementação do famigerado “medidor inteligente”, que passou a ser a ferramenta padrão de medida de consumo das residências em todo o Paraná. Os ajustes que à primeira vista pareciam “naturais” se tornaram um pesadelo, com alguns moradores tendo o valor de suas faturas dobrado após a instalação do novo registro de energia. 

Conforme dados do Procon de Cascavel, somente em 2025 foram 60 reclamações referentes à Copel, sendo que 90% delas são com relação ao aumento das contas de energia elétrica. A situação fez com que tanto a prefeitura de Cascavel quanto a Câmara de Vereadores entrassem na jogada para entender os motivos desse aumento descabido e trazer soluções para a população.

São reclamações como a de Dona Izaura que fizeram com que o poder público buscasse soluções. A dona de casa viu sua fatura aumentar mais de 50% após a implantação do medidor.

“Antes eu pagava cerca de 70, no máximo 80 reais. Hoje a fatura chega a 120 reais. Não que isso seja muito porque tem gente que gasta muito mais, mas para uma aposentada como eu, que recebe um salário pequeno, dói no bolso”, afirmou a idosa.

Seu José da Cruz sofre da mesma situação. Após a instalação do medidor inteligente, ele viu sua conta de energia, que girava em torno de R$ 200, saltar para R$ 320. Um acréscimo que causou transtornos.

“Em uma casa com quatro pessoas, qualquer aumento pode apertar o orçamento. Com esses 120 reais, por exemplo, eu poderia pagar a fatura da internet. Agora foi remanejado para a luz. Daí eu tenho que remanejar 120 reais de outra conta pra pagar a internet. E vira um efeito dominó, vou tirando de um lugar pra colocar em outro”, explicou José.

Conforme o procurador-chefe do Procon, Lucas Fracaro, o número de reclamações relacionadas a Copel em 2025 assusta. Isso porque em menos de três meses, as reclamações já são mais da metade do que foi registrado em 2024, quando foram 108 consumidores acionaram o órgão por conta da Copel. Uma reunião foi realizada em Cascavel com os diretores da Companhia na regional de Cascavel para esclarecimentos.

“Nós aproveitamos a reunião para entender melhor o panorama. A Copel nos esclareceu que os novos medidores não possuem interferência, uma vez que têm a mesma precisão de aferição dos antigos. No entanto, como os relógios antigos, uns de 20 anos, que estavam nas residências são mecânicos, por engrenagens, pode ser que havia uma leitura abaixo do consumo real, que agora com o medidor novo, faça a aferição correta", disse Fracaro, sobre o encontro. 

O procurador do Procon ainda explicou que a Copel deu dicas de como verificar qual o tipo de medidor, para identificação e seleção dos casos que devem ser trabalhados com relação a esses aumentos.

Câmara contesta

Em meio ao impasse com o aumento das faturas, a Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara de Vereadores de Cascavel, protocolou um ofício à Copel, pedindo que sejam tomadas providências para esclarecer e corrigir eventuais problemas que possam estar causando esse aumento incomum nas contas de energia elétrica. O presidente da Comissão, vereador Everton Guimarães (PMB) também enviou um ofício também à Procuradoria de Defesa do Consumidor (Procon) solicitando ação do órgão no caso.

“Você tem um medidor inteligente que foi instalado, terceirizado, simplesmente começa a aumentar a luz e a Copel só diz que ‘não tem problema nenhum’? Não foi feita uma perícia? Foi até os bairros fazer uma aferição aleatória de alguns medidores para ver se tem problema? Se a Copel fizer uma perícia e comprovar que não tem problema nenhum, aí sim vai ser satisfatório para nós”, afirmou Everton. 

Segundo o vereador, a Copel tem argumentado que o aumento dos valores se deve ao aumento do consumo normal no verão. A Comissão quer comparar as informações oficiais da Copel com um estudo a ser feito diretamente com os consumidores. 

“Estou levantando agora uma pesquisa de um histórico de 2023, 2024 e 2025. Estão falando que é o verão, então vamos comparar as contas de julho até janeiro dos anos anteriores até este ano para ver se tem diferença tão grande de consumo”, disse ele. O presidente da Comissão diz que pode convocar uma audiência pública. 

“Se não tiver essa diferença de consumo de um ano para o outro e a Copel não conseguir responder pra nós, podemos sim chamar uma reunião e toda a população vai poder participar”, completou.

Quedas de energia

Diante dos constantes relatos de interrupção no fornecimento de energia em Cascavel, o G8 (grupo das oito principais entidades patronais de Cascavel) está realizando uma ação conjunta para reivindicar, da Copel, a implantação de duas novas subestações para atender regiões do perímetro urbano.

O presidente da Acic, Siro Canabarro, informa que os relatos mais frequentes partem de dois extremos da cidade: regiões abrangidas pelo bairro Cataratas e entorno e do trevo da avenida Tancredo Neves em direção à BR-163. 

“Empresários, principalmente, entram em contato com Acic falando das dificuldades que enfrentam com as constantes quedas no fornecimento de energia. A situação precisa ser revertida, porque os prejuízos são enormes”, conforme Siro.

Com as quedas no abastecimento, empresas instaladas nas regiões citadas enfrentam perdas, principalmente dos materiais em processo de industrialização. 

“A situação da economia já não é boa e com agravantes como esse o cenário fica ainda mais insustentável”, destaca Siro, lembrando que líderes empresariais estiveram, dias atrás, em conversa com diretores da Copel.

Na oportunidade, foram expostas as situações relatadas e pedidas providências. Em carta à companhia, o G8 reivindica a instalação de duas novas subestações para encerrar os problemas e tornar confiável o abastecimento de um insumo fundamental a todos. Além da Acic, o grupo é formado por Sinduscon Paraná-Oeste, Sindicato Rural, Sociedade Rural, Amic, Subseção da OAB e Sindilojas.