Alep recebe projeto que cria o “Dia do Livramento” em referência à prisão de Bolsonaro
Projeto protocolado na Alep propõe instituir o “Dia do Livramento”, fixado para 22 de novembro, e chama atenção pela forma inusitada com que chegou ao Legislativo
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Bruna Bandeira
Cascavel
A tarde de terça-feira na Assembleia Legislativa do Paraná começou com uma novidade capaz de mudar a inclinação de sobrancelhas em gabinetes inteiros: o Projeto de Lei nº 1140/2025, assinado pelo deputado Arilson Chiorato (PT), que propõe instituir no calendário oficial do Estado o “Dia do Livramento”, a ser celebrado anualmente em 22 de novembro - data da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, citada explicitamente na justificativa do texto.
O projeto é breve em sua parte normativa: “Fica instituído, no âmbito do Estado do Paraná, o Dia do Livramento, a ser celebrado anualmente no dia 22 de novembro”. Mas basta virar a página para que a sobriedade dê lugar a algo mais próximo de uma crônica política do que de uma peça legislativa.
Na justificativa, o deputado escreve que o 22 de novembro simboliza “o rompimento com um período sombrio da vida nacional” e menciona diretamente que a data remete à prisão do ex-presidente, tratada como marco de encerramento de um ciclo. Fala em “marco pedagógico e memorial” e sustenta que a criação do dia serviria para lembrar “as consequências devastadoras” - segundo ele - do período que descreve.
A proposta caiu na Assembleia não com indignação ou espanto solene, mas com aquele humor discreto que costuma circular quando a política decide flertar com o literário. Depois, a notícia fez o caminho tradicional: corredor, WhatsApp, print, café. Cada gabinete reagiu de seu modo: uns arqueando a sobrancelha, outros segurando o riso.
Mas fato é fato: o projeto está protocolado, numerado e oficialmente em tramitação. Seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça, depois para as comissões de mérito, antes de chegar ao plenário. Nada indica urgência, tampouco houve essa intenção. O texto funciona quase como fotografia política de um momento, desses que viram anedota antes mesmo da primeira reunião de comissão.
Chiorato afirma no documento que “não se trata de comemorar a prisão de um indivíduo”, mas de estabelecer um marco de memória democrática. Argumenta que a data deve servir para lembrar a sociedade dos riscos de “um ciclo de obscurantismo”. A interpretação, no entanto, ficou a cargo de cada leitor e entre os leitores havia, naturalmente, deputados de todas as tonalidades ideológicas.
No fim, para além dos debates que virão, o “Dia do Livramento” já cumpriu um papel: trouxe uma rara pausa narrativa ao Legislativo.
Se o projeto chegará a virar lei, o regimento dirá (mas é provável que não). Mas que já virou história de corredor, isso virou e toda boa história política começa assim: com um texto curto, uma justificativa longa e um suspiro coletivo de “ele realmente fez isso?”.
