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Viagem de trem de luxo pelos Andes: saiba tudo sobre a expedição

Belmond Andean Explorer passa por rios, vales e povoados em uma das ferrovias mais altas do mundo

Por Gazeta do Paraná

Viagem de trem de luxo pelos Andes: saiba tudo sobre a expedição Créditos: Divulgação

É de tirar o fôlego - literalmente. Entre as regiões de Arequipa e Vale do Colca, no sul do Peru, uma simplória estação de trem de carga descansa em um cenário cinematográfico. Vicunhas, parentes das lhamas, correm livres pela vegetação rasteira, enquanto um vulcão se impõe ao fundo. Nada de prédios, casas ou sinais urbanos: apenas um trilho que corta a paisagem dos Andes peruanos a 4.500 metros de altitude.

Serpenteando o horizonte, os vagões do Belmond Andean Explorer se aproximam e fazem os passageiros suspirar. É sinal de que a jornada de três dias e duas noites até Cusco, a antiga capital do Império Inca, está prestes a começar.

Primeiro trem noturno com cabines da América do Sul, o Belmond Andean Explorer percorre uma das ferrovias de maior altitude do mundo. As paisagens são dignas de filme e o trilho margeia rios, vales e passa no meio de cidades e de povoados. Não se trata de um meio de transporte para se locomover de um ponto a outro: aqui, o mais importante é degustar o próprio trajeto.

A missão é potencializada por paradinhas com caráter de expedição, como cavernas com pinturas rupestres, observação de estrelas, visita a sítios arqueológicos e a comunidades isoladas. Tudo é acompanhado por um guia especializado e por um médico disponível 24h, que carrega cilindros de oxigênio por onde quer que vá.

O Andean Explorer faz parte do portfólio da Belmond no Peru, que abrange outro trem, o Hiram Bingham, que liga Cusco a Machu Picchu, e ainda seis hotéis nos endereços mais pitorescos do país. Portanto, espere por luxo na medida certa, antecipações de desejos e uma equipe zelosa que te chama pelo nome.

Luxo e expedição

Além do luxo vintage que as viagens de trem evocam, o Andean Explorer adiciona uma estética contemporânea que emoldura a paisagem andina. O trem é composto por 20 vagões, transportando 70 passageiros na capacidade máxima, fora as 36 pessoas do staff.

O número reduzido faz com que a viagem se transforme em um encontro social, fato intensificado pela ausência de Wi-Fi.

Norte-americanos e britânicos são os principais públicos, mas brasileiros têm conquistado o terceiro lugar, como aponta Arnaldo Ponce, gerente-geral do trem. Na viagem atendida pela reportagem, uma família da Finlândia, um casal da Escócia e várias duplas dos EUA e Inglaterra trocavam experiências e brindavam no vagão do piano, ideal para coquetéis antes do jantar.

A jornada instiga as pessoas a se vestirem de acordo com a ocasião. Por que não colocar um blazer, separar um vestido longo e apreciar uma refeição em grande estilo regada a espumante?

Gastronomia nas alturas

Dois vagões são destinados ao restaurante, onde cafés da manhã, almoços e jantares são servidos. As refeições possuem cardápio com opções do dia. A manhã pode começar com ovos pochê, omeletes, queijos andinos, cumbucas de iogurte com grãos locais, cafés nacionais e sucos de frutas típicas.

Os almoços e jantares ocorrem em etapas, com amuse-bouche, entrada, saladinha, prato principal e sobremesa. Come-se muito, e come-se muito bem. Para se ter uma noção, podem ser servidos os seguintes itens: truta curada com leite de castanhas e caviar; leitão assado com purê de maçã; e pêssegos pochê com capim-limão. Isso sem citar massas, peixes, frutos do mar e sobremesas meticulosas.

Dê chance aos vinhos peruanos, como o tinto Patrimonial Negra Criolla, da vinícola Intipalka, que faz rótulos com uvas usadas na produção de pisco. Chás e digestivos finalizam o banquete, como o chá de muña, planta medicinal dos Andes que alivia os sintomas do mal de altitude.

Toda a “mágica” sai do vagão-cozinha, de onde o cheiro dos pães quentinhos perfumam a caminhada até o vagão-observatório. Com um deck aberto, ele é perfeito para admirar os poéticos pores do sol e para acenar à população local toda vez que uma cidadezinha entra na rota.

Ao todo, 11 vagões são destinados às cabines. São nove suítes, 17 cabines com duas camas de solteiro e outras nove com beliche. Como é de se esperar de um trem, as acomodações são compactas, mas não menos aconchegantes.

As suítes chegam a 13 m², com cama de casal e área com cadeiras e mesa. As cabines duplas possuem 7,4 m²; já as com beliche têm 5,5 m², ambas com sofás que se transformam em camas quando chega a hora de dormir.

Independente da categoria, todas possuem banheiros privativos com chuveiro e pia, além de ar-condicionado e cofre. Mimos são deixados no quarto todas as noites, que podem ir de chocolates a mantinhas de lã de alpaca. Como tudo é bastante compartimentado, malas grandes devem ir no armazenamento, sem possibilidade de acessá-las enquanto a locomotiva segue viagem.

Durante a madrugada, o trem não anda, tranquilizando quem teme o balanço do caminho. Caso queira relaxar e aliviar os efeitos da altitude, o comboio abriga até um spa, que oferece tratamentos exclusivos.

Jornada cinematográfica

Com pontapé em Arequipa nas manhãs de quintas-feiras, a jornada cruza os Andes com um desvio em Puno, à beira do Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo, a 3.810 metros de altitude. Duas noites depois, termina em Cusco, Patrimônio Mundial da Unesco. Esta é apenas uma das modalidades de itinerário do Belmond Andean Explorer - o trem ainda oferece o caminho contrário e roteiros de uma noite.

Apesar de luxuosa, a viagem é exigente, mas nada que o espírito aventureiro e um pouco de oxigênio não ajudem. Na rota que parte de Arequipa, a primeira parada acontece após o almoço, nas Cavernas Sumbay, onde pinturas rupestres de seis a oito mil anos preenchem os paredões.

O trem estaciona “no meio do nada”, ao lado de uma trilha na Reserva Nacional de Salinas y Aguada Blanca. Por ali, outras cavernas guardam tesouros, mas as de Sumbay, descobertas há 40 anos, são as mais famosas. Os vestígios de povos pré-incas incluem representações de vicunhas, lhamas e pumas.

Sob a luz da lua, uma paradinha rápida após o jantar proporciona um cenário de arrepiar, quando o céu pipoca de estrelas. Em um local ermo ao lado do Lago Saracocha, as fotografias de longa exposição captam cliques de fazer inveja. Só não esqueça das roupas de frio, já que a temperatura fica abaixo dos 10ºC.

De Puno a Cusco

O segundo dia é marcado pela permanência em Puno, capital folclórica do Peru. À beira do Lago Titicaca, a expedição começa cedíssimo para ver o sol raiar junto de chocolates quentes e fogueira. Com 190 km de comprimento, 60% das águas ficam em território peruano, com o resto na Bolívia.

“A partir desse momento, não somos mais visitantes, somos parte da família Aymara e Quéchua”, diz José Bustinza, guia responsável pela navegação. Após 50 minutos de barco, chega-se a uma das ilhas flutuantes dos Uros, um dos povos mais antigos do país e que se isolou da miscigenação espanhola.

Existem cerca de 20 pequenas ilhas, todas construídas de totora, uma planta aquática. Outros modos de viver ganham forma: aproximadamente cinco famílias vivem em cada ilhota, com autoridade centrada geralmente na figura de uma mulher. Com máximo respeito, é possível adentrar as casinhas e comprar artesanatos coloridos.

A rota pelo lago inclui uma tarde na ilha Taquile, onde a Belmond serve um almoço típico em um restaurante no alto de uma sossegada - e gelada - praia. Em dias límpidos, é possível avistar cidades do lado boliviano. Para o futuro breve, a promessa é que os almoços passem a ser feitos na areia.

Seguindo viagem, o trem corta um mercadão ao ar livre em Juliaca e faz a cidade parar por alguns minutos. Moradores acenam e o misticismo toma conta do ar. Nestas ruas, vende-se de tudo, desde roupas e celulares até fetos de lhamas.

Já a visita ao sítio arqueológico de Raqch'i antecede a despedida. No século 15, o local era uma cidade com templos, casas e armazéns. Sobraram ruínas, como as do templo para o deus Wiracocha, o criador de todos os seres, segundo a mitologia Inca.

A jornada é finalizada com um trajeto de beleza inquestionável entre Raqch'i e Cusco, em que o trem margeia o rio Urubamba. Enquanto as águas correm, um brunch é servido no vagão-observatório. Na estação de trens de Cusco, os passageiros se despedem da equipe ao som de aplausos, com sentimento de missão cumprida. Dali, a maioria segue para os hotéis da Belmond no centro histórico.

As informações são da CNN