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Rodrigo Paz é eleito presidente da Bolívia e encerra 20 anos de domínio da esquerda

Senador de centro-direita promete reformas graduais e aproximação com países ocidentais após vitória sobre Jorge Quiroga

Rodrigo Paz é eleito presidente da Bolívia e encerra 20 anos de domínio da esquerda Créditos: Reprodução/Facebook/Rodrigo Paz

O senador de centro-direita Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), venceu o segundo turno das eleições presidenciais na Bolívia neste domingo (19), ao derrotar o conservador Jorge “Tuto” Quiroga. Com 97% das urnas apuradas, Paz obteve 54,5% dos votos, contra 45,5% de Quiroga, encerrando quase duas décadas de governos do Movimento ao Socialismo (MAS).

Apesar da vitória, o PDC não conquistou maioria no Legislativo, o que obrigará o novo presidente a buscar alianças políticas para garantir governabilidade. A posse está marcada para 8 de novembro.

Em seu discurso em La Paz, após o reconhecimento rápido da derrota por Quiroga, Paz afirmou que o país precisa “abrir-se para o mundo”. Ele prometeu uma administração de diálogo e crescimento econômico com responsabilidade social.

Raízes políticas e trajetória

Nascido em 1967, em Santiago de Compostela (Espanha), enquanto sua família estava exilada, Paz é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989–1993). Seu pai governou sob um acordo político com o ex-ditador Hugo Banzer, em um pacto que ficou conhecido como “Acordo Patriótico”.

Durante aquele governo, Banzer e Paz Zamora implementaram privatizações e defenderam o uso medicinal da coca, enfrentando denúncias de corrupção e ligações com o narcotráfico — acusações nunca comprovadas judicialmente. Rodrigo herdou parte desse legado político, mas tem buscado construir uma imagem própria, mais moderada e conciliadora.

Nova etapa política

A vitória do senador marca uma virada política histórica na Bolívia, país que desde 2006 foi governado quase continuamente pelo MAS, de Evo Morales e Luis Arce. O discurso moderado de Paz, que mistura liberalismo econômico com compromissos sociais, atraiu eleitores insatisfeitos com o partido de esquerda, mas receosos com as políticas de austeridade prometidas por Quiroga.

Enquanto Quiroga defendia cortes drásticos e o retorno ao Fundo Monetário Internacional (FMI), Paz propôs reformas graduais, incentivos fiscais para pequenas empresas e autonomia fiscal regional. “Vamos construir uma economia para o povo, onde o Estado não seja o eixo central”, declarou em entrevista à Reuters antes do pleito.

Paz também afirmou que buscará reaproximar a Bolívia dos Estados Unidos e de nações europeias, após anos de forte alinhamento com Rússia e China. No final de setembro, ele anunciou planos para um acordo econômico de US$ 1,5 bilhão com autoridades norte-americanas para fortalecer o setor energético e o fornecimento de combustíveis.

Alianças e desafios

O sucesso eleitoral de Paz foi impulsionado por seu vice, Edman Lara, ex-policial popular nas redes sociais por denunciar casos de corrupção. Sua presença na chapa ajudou o PDC a conquistar apoio entre jovens e trabalhadores urbanos.

Entretanto, a vitória traz desafios imediatos. A Central de Trabalhadores da Bolívia (COB) já sinalizou oposição a qualquer tentativa de reduzir conquistas sociais obtidas nas últimas décadas. Movimentos indígenas e sociais também prometem manter a vigilância sobre o novo governo, defendendo “as conquistas da soberania nacional”.

Experiência política

Com mais de 20 anos de carreira, Rodrigo Paz foi deputado, vereador e prefeito de Tarija, onde enfrentou acusações de superfaturamento em obras públicas. Nos últimos cinco anos, atuou como senador pela aliança Comunidade Cidadã, do ex-presidente Carlos Mesa, período em que consolidou seu perfil de opositor pragmático.

Em 2019, Paz participou da Coordenadoria para a Defesa da Democracia, grupo que denunciou suposta fraude nas eleições daquele ano e pressionou pela realização de um segundo turno — episódio que culminou na renúncia de Evo Morales e em uma grave crise institucional no país.

Agora, eleito presidente, Rodrigo Paz herda uma Bolívia dividida, economicamente fragilizada e politicamente desconfiada. Sua promessa é clara: “Iniciar uma nova etapa democrática, com diálogo, reconstrução e abertura ao mundo”.

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