Alexandre Curi

Prefeito de Cuiabá é acusado de violência política contra professora

Abílio Brunini quis impedir docente de usar pronome neutro em palestra

Por Gazeta do Paraná

Prefeito de Cuiabá é acusado de violência política contra professora Créditos: Rennan Oliveira/Prefeitura de Cuiabá

Organizações que atuam na defesa dos direitos de mulheres, de pessoas negras e da saúde manifestaram repúdio a atitude do prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini, que culminou na saída da professora e doutora em saúde pública Maria Inês da Silva Barbosa da 15ª Conferência Municipal de Saúde nesta quarta-feira (30).

As entidades criticam o prefeito por agir de forma “antidemocrática”, “autoritária”, “racista”, “misógina” e praticar “violência política de gênero” contra a professora por se manifestar com o uso de pronomes neutros.

Maria Inês é mestre em Serviço Social, doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), docente aposentada do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), e uma referência no debate sobre racismo e saúde.

A professora e o prefeito discutiram durante a abertura da conferência, após a professora utilizar pronomes neutros durante a sua palestra. A conferência é organizada pelo Conselho Municipal de Saúde, órgão independente da Prefeitura de Cuiabá.


Na ocasião, o prefeito se irritou com o uso dos pronomes, que classificou como “doutrinação ideológica”. A professora rebateu na sequência, afirmando que a utilização do pronome seria uma forma de tratar pacientes de forma igualitária.

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) se solidarizou com a professora e classificou a atitude do prefeito como “atos racistas e de violência de gênero”.

“A atitude do agente público indica, para além da inabilidade na gestão, as diferentes formas de preconceitos, discriminações, violências, racismos e agressões instituídas na sociedade brasileira, frente à liberdade de expressão e também os mecanismos de opressão vivenciados cotidianamente pelas e pelos intelectuais negras e negros e indígenas, assim como pela população LGBTQIAPN+”, disse a associação.

A Rede de Mulheres Negras do Nordeste, articulação que conta com 35 organizações, expressou apoio à professora e classificou como autoritária a atitude do prefeito.

“Nós não vamos aceitar a tentativa de censura e apagamento das identidades, e, principalmente, o silenciamento de uma mulher negra, especialmente como a companheira Maria Inês, que teve um papel estratégico na formulação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”, diz a nota.

O texto defende que a linguagem neutra é uma ferramenta de acolhimento e reconhecimento das múltiplas existências humanas que compõem a sociedade brasileira. "Quem tem postura autoritária, antidemocrática e violenta não merece ocupar espaços de poder”, continua o texto.

A Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) também manifestou apoio à professora e repudiou a atitude de Bunini.

“É inadmissível que agentes públicos, eleitos pelo voto popular para atender as necessidades da população, se considerem acima das leis federais e das normativas do SUS [Sistema Único de Saúde], orientadas pelo Ministério da Saúde. Esses representantes não são donos dos municípios, e não devem impor suas próprias regras em detrimento dos direitos assegurados à população”, diz a nota.

A entidade ressaltou que ao destacar a importância do uso de pronomes neutros, afirmando que ‘o SUS é de todES’, a professora foi intimidada pelo prefeito, que ameaçou expulsá-la do evento e, diante da ameaça, a professora se retirou.

Outra organização que manifestou apoio à professora Maria Inês foi o Odara – Instituto da Mulher Negra, organização criada na Bahia por e para mulheres negras, que há mais de uma década atua em defesa dos direitos das mulheres negras, da justiça social.

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