Pessoas com deficiência ocupam apenas 1% dos cargos de alta liderança no país
Especialista alerta que presença ainda se limita ao cumprimento da lei de cotas e defende mais investimento em formação e promoção profissional

Apesar dos avanços e do crescente debate sobre diversidade e inclusão nas empresas brasileiras, a presença de pessoas com deficiência (PCDs) em cargos de liderança ainda é mínima. Dados da plataforma Diversitera, compilados entre julho de 2022 e agosto de 2025 e envolvendo mais de 114 mil profissionais, mostram que apenas 1,2% das posições de alta liderança são ocupadas por pessoas com deficiência. Entre os cargos de média liderança, esse número sobe para 2%, enquanto 97,7% das funções continuam sendo exercidas por pessoas sem deficiência.
Além disso, o levantamento aponta que 72% das pessoas com deficiência estão concentradas em funções operacionais, como auxiliares, assistentes e aprendizes. Os números indicam que, embora a inclusão seja um tema cada vez mais presente nas empresas, o avanço ainda ocorre de forma lenta e desigual.
A assistente social e especialista em Educação Inclusiva, Responsabilidade Pessoal e Gestão de Pessoas, Yvy Abbade, que também preside a Federação Nacional do Emprego Apoiado (FANEA), avalia que ainda existe um longo caminho entre o discurso e a prática da inclusão nas organizações.
“Muitas vezes, a presença da pessoa com deficiência nas empresas se limita ao cumprimento da lei de cotas, sem estratégias reais de formação, promoção e desenvolvimento de carreira”, afirma Yvy.
Falta de dados regionais
No Paraná, segundo a especialista, tanto o Ipardes quanto o IBGE apresentam levantamentos sobre a participação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. No entanto, não há dados públicos específicos sobre a presença em cargos de liderança, o que dificulta a criação de políticas direcionadas.
“Isso reforça a importância de ampliar a produção de dados regionais e nacionais, para que possamos desenhar políticas públicas e empresariais mais assertivas e transformadoras”, explica Yvy.
Liderança inclusiva e formação profissional
Para mudar esse cenário, Yvy defende que as empresas invistam em liderança inclusiva, mentorias e capacitação profissional, garantindo acessibilidade e oportunidades reais de crescimento. Ela também destaca o papel do poder público na fiscalização da lei de cotas e no fortalecimento de políticas de educação e qualificação.
Um dos caminhos, segundo a especialista, é o emprego apoiado, metodologia promovida pela FANEA há mais de uma década em todo o país. O modelo propõe que toda pessoa pode trabalhar, desde que receba o suporte técnico adequado, em um ambiente acessível e com acompanhamento profissional.
“O emprego apoiado parte da ideia de que a inclusão precisa garantir pertencimento, permanência e resultados sustentáveis para todos. É o que chamamos de inclusão de verdade”, pontua Yvy.
Exemplos positivos e transformação
Embora o cenário ainda seja desafiador, a presidenta da FANEA ressalta que há exemplos inspiradores de pessoas com deficiência em cargos de gestão e coordenação em diferentes regiões do país. Para ela, esses casos mostram que a mudança é possível quando há compromisso, conhecimento e apoio.
“A inclusão é uma jornada coletiva. Quanto mais diversidade trouxermos para os espaços de decisão, mais justas, humanas e inovadoras serão as nossas organizações e também a nossa sociedade”, conclui Yvy.
Créditos: Gabriel Porta