Suspensão de investigação provoca troca de acusações entre vereadores de Foz do Iguaçu
Comissão de Justiça suspende processo contra bolsonarista e acirra crise no Conselho de Ética da Câmara Municipal

A sessão desta terça-feira (14) na Câmara de Foz do Iguaçu foi marcada por embates e trocas de acusações entre vereadores durante a discussão do processo ético contra Ranieri Marchioro (Republicanos), investigado por suposto uso de assessor em atividades particulares de sua clínica odontológica.
Durante o discurso, Ranieri pediu o afastamento do presidente do Conselho de Ética, Beni Rodrigues (PP), citando sua condenação judicial e afirmando que ele não teria “condições de conduzir o processo com isenção”.
“Considerando sua condenação em segunda instância e o não conhecimento do recurso no STJ, o senhor não tem o padrão de exemplaridade que o cargo exige”, afirmou o vereador.
Beni reagiu de imediato: “Vai lavar a boca com sabão de soda antes de falar de mim. Fui condenado por nepotismo, não por corrupção, e estou recorrendo. Não vou renunciar. Quem não deve, não teme”, rebateu.
O presidente do Conselho acrescentou ter ouvido um dos áudios anexados à denúncia contra Ranieri, no qual o ex-assessor Leandro Pinto é convocado a prestar serviços à clínica odontológica durante o expediente. “Eu ouvi o vereador chamar o Leandro Pinto: ‘vem urgente pra minha empresa que preciso de você pra filmar’. Isso é uso de servidor no horário de expediente”, disse.
Investigação suspensa por decisão da Comissão de Justiça
Em meio ao confronto, a apuração contra Ranieri foi suspensa pela Comissão de Legislação, Justiça e Redação (CLJR), que acolheu recurso apresentado pelo próprio vereador.
O Parecer nº 5.850/2025, relatado por Sidnei Prestes (Mobiliza), declarou nulo o despacho do Conselho de Ética, determinou o arquivamento provisório do processo e impôs suspensão cautelar de todos os atos até que o denunciante corrija a representação, indicando a conduta, as circunstâncias e as provas.
Em 16 de setembro, Prestes foi um dos cinco parlamentares que votaram para derrubar a investigação contra Ranieri. Uma semana antes, o mesmo pedido havia sido arquivado pela Mesa Diretora, com a assinatura do acusado, vice-presidente do Legislativo.
O processo foi aberto com nove votos favoráveis e instaurado a partir de denúncia do ex-assessor Leandro da Silva Pinto, que afirma ter sido obrigado a executar tarefas de marketing da clínica odontológica do parlamentar durante o expediente. O material inclui prints de mensagens, áudios e registros digitais.
Antes da suspensão, a relatora do Conselho de Ética, Valentina Rocha Virgínio (PT), havia validado a denúncia e determinado o prosseguimento da investigação.
“A representação preenche todos os requisitos formais e há elementos suficientes para o prosseguimento da apuração”, escreveu Valentina em seu despacho de 8 de outubro.
Três dias depois, Ranieri recorreu à CLJR. No parecer, Sidnei Prestes argumenta que o ato da relatora “violou o devido processo legal” por não especificar a conduta atribuída e autorizar instrução “com objeto indeterminado”.
Valentina criticou a decisão e classificou a intervenção da CLJR como “inédita e sem precedentes”. “Se o vereador não deve, por que tanto medo de que os fatos sejam esclarecidos? Esse processo não vai acabar em pizza. Nenhum pedido legítimo de investigação pode ser travado por conveniência política”, defendeu a vereadora.
Créditos: Bruno Soares