Ponto 14

Obra de R$ 50 milhões na Carlos Gomes gera alagamentos e revolta em Cascavel

  Após as fortes chuvas, moradores e comerciantes cobram soluções para os problemas de drenagem, enquanto Comissão de Obras da Câmara pede esclarecimentos sobre o projeto

Por Gabriel Porta Martins

Obra de R$ 50 milhões na Carlos Gomes gera alagamentos e revolta em Cascavel Créditos: Alexandre Barea/GP

 


As fortes chuvas que atingiram Cascavel no último fim de semana causaram diversos estragos na cidade, incluindo alagamentos, queda de árvores e danos estruturais. Um dos locais mais afetados foi a Avenida Carlos Gomes, onde os alagamentos têm se tornado frequentes desde a revitalização da via no ano passado. Moradores e comerciantes relatam prejuízos e cobram soluções da prefeitura.
Para o comerciante Hermes Duarte, o cenário é preocupante e levanta questionamentos sobre a qualidade da obra. "Os transtornos que isso vem gerando para a população, para o comércio e para os moradores são enormes. O que é difícil de entender é que como um projeto de 50 milhões ficou mal feito. E agora ainda tem que pagar para consertar o erro. Como se explica isso?", questionou.
Gilberto Pereira, que possui uma oficina na região, destaca que a falta de um sistema adequado de drenagem tem dificultado a vazão da água. "A chuva forte acaba empoçando aqui na frente, gerando muita sujeira e dificultando nosso trabalho. Acho que fizeram poucas bocas de lobo para dar vazão suficiente", afirmou. Apesar de ainda não ter registrado uma reclamação formal, ele acredita que outras pessoas da região já fizeram pedidos à prefeitura.
Paulo Gambet, outro comerciante local, reconhece a importância da obra, mas aponta falhas na execução. "A revitalização era esperada e trouxe benefícios, mas o problema maior está na drenagem. Os buracos de escoamento na Rio da Paz e na Unioeste estão entupidos, e isso agrava o alagamento aqui na Carlos Gomes. A prefeitura já veio e desentupiu dois pontos, o que deve ajudar, e prometeram reforçar a galeria dessa região. Agora é questão de tempo para ver se as soluções serão eficazes", ponderou.
Os alagamentos na Avenida Carlos Gomes antes se concentravam apenas na região do Parque São Paulo, mas agora já atingem até a zona sul da cidade. No último fim de semana, crianças foram vistas brincando na enxurrada, uma cena curiosa que evidencia o problema e que também trouxe transtornos no trânsito, além de invadir casas e comércios.
O secretário de Obras Públicas, Sandro Camilo, afirmou que os pontos de alagamento não são novos e que intervenções estão em andamento para minimizar os impactos das chuvas. "Mesmo sem a obra de revitalização, esses problemas já ocorreriam. Estamos refazendo o emissário na região próxima ao Tarquínio, pois ele fica comprometido com as chuvas intensas, o que causa represamento da água", explicou.
Segundo Camilo, a alta impermeabilização do centro da cidade, somada à falta de áreas de absorção e ao acúmulo de resíduos, contribui para os alagamentos. No entanto, comerciantes e moradores seguem cobrando soluções mais efetivas para evitar novos transtornos em períodos chuvosos.

Comissão de obras na Carlos Gomes
A Comissão de Obras da Câmara Municipal de Cascavel realizou uma vistoria na Avenida Carlos Gomes para ouvir as reclamações de moradores e comerciantes afetados pela execução da obra, que teve um investimento superior a R$ 50 milhões. Durante a visita, o vereador Edson Souza (MDB) criticou a condução do projeto e cobrou explicações do secretário municipal de Obras, Sandro Camilo.
Edson Souza destacou que o secretário tem sido desrespeitoso ao justificar os problemas como se já existissem antes da obra. "Isso não ocorria. Estamos falando de um investimento vultoso, e a situação ficou pior do que antes. Queremos saber onde esse dinheiro foi aplicado e quem são os responsáveis por esse cenário", afirmou o parlamentar.
"O secretário está errado ao tratar o assunto dessa forma. Ele não pode permanecer no cargo agindo assim. Fala muito, mas não resolve nada", disse Souza, ressaltando que os problemas não se limitam à Avenida Carlos Gomes, mas se repetem em outras regiões da cidade. "Queremos uma discussão aprofundada. Não se pode investir tanto, criar expectativas de melhoria e entregar algo pior. Comerciantes, moradores e frequentadores estão sofrendo, e o secretário precisa dar respostas à população", concluiu.

Principais problemas identificados
Os vereadores constataram diversos problemas na obra, incluindo: Falhas no escoamento de água pluvial, com alagamentos frequentes durante chuvas; Pontos de ônibus que alagam por estarem abaixo do nível do asfalto; Iluminação insuficiente no canteiro central; Irregularidades nas calçadas e meios-fios.
Cidão da Telepar (Podemos), presidente da Comissão, afirmou que os alagamentos são resultado de falhas no projeto. "Antes da obra, não havia inundação. Agora, basta uma chuva mais forte para tudo alagar. Isso é falta de tubulação adequada para escoar a água. No meu entendimento, é erro de projeto", explicou.

Fiscalização e próximos passos
Durante a vistoria, os vereadores realizaram uma coletiva de imprensa em frente a uma das empresas afetadas pelos alagamentos e percorreram diversos pontos da avenida para mostrar os problemas. Eles também visitaram duas ruas abaixo da Carlos Gomes, onde houve rompimento das tampas das galerias de águas pluviais, que não suportaram o volume de água das chuvas recentes.
Ao final da fiscalização, a Comissão decidiu convidar representantes de órgãos do Executivo, como o Instituto de Planejamento de Cascavel (IPC), a Autarquia Municipal de Mobilidade, Trânsito e Cidadania (Transitar) e a Secretaria Municipal de Serviços e Obras Públicas (Sesop), além do fiscal da obra e da empresa construtora Petrocon, para prestarem esclarecimentos na Câmara.

Reunião marcada
Uma reunião está agendada para a próxima quarta-feira (26), às 10h, na Câmara de Vereadores. Além dos órgãos e empresas envolvidas, também foram convidados todos os vereadores e entidades da sociedade civil, como a Associação de Micro e Pequenas Empresas (Amic), a Associação Comercial e Industrial de Cascavel (Acic), a Associação dos Engenheiros e Arquitetos (Aeac), o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) e o Observatório Social.