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MPF recorre para barrar exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas

Segundo MPF, os leilões que antecederam a autorização para pesquisa e eventual exploração de petróleo deveriam ter sido precedidos por um Estudo de Impacto Climático

Por Da Redação

MPF recorre para barrar exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas Créditos: Geraldo Falcão / Agência Petrobras

O Ministério Público Federal (MPF) anunciou nesta sexta-feira (24) que recorreu ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) para tentar suspender a exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, localizada na chamada Margem Equatorial, no litoral do Amapá. O recurso contesta a decisão judicial que manteve o resultado do leilão dos blocos exploratórios e a concessão da licença ambiental à Petrobras para iniciar a perfuração na área.

Segundo o MPF, os leilões que antecederam a autorização para pesquisa e eventual exploração de petróleo deveriam ter sido precedidos por um Estudo de Impacto Climático (EIC), pela Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS) e por consultas prévias a comunidades indígenas e tradicionais. “A ausência desses estudos e da consulta na fase pré-licitatória representa grave ofensa ao ordenamento jurídico e aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil”, afirmou o órgão em nota.

Na última segunda-feira (20), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu à Petrobras a licença para a operação de pesquisa exploratória na Margem Equatorial. A autorização encerrou um impasse de quase dois anos entre a estatal e o órgão ambiental, que havia negado o pedido em 2023, exigindo complementação de dados e medidas de proteção mais robustas à fauna e aos ecossistemas da região.

De acordo com a Petrobras, a sonda exploratória está posicionada no bloco FZA-M-059, em águas profundas do Amapá, a cerca de 175 quilômetros da costa e 500 quilômetros da foz do rio Amazonas. A perfuração do poço, com duração estimada de cinco meses, tem o objetivo de coletar informações geológicas e avaliar a presença de petróleo e gás em escala econômica. “Não há produção de petróleo nessa fase”, informou a empresa em comunicado.

A estatal garante que cumpriu todos os requisitos exigidos pelo Ibama e classifica a licença como resultado de um processo “rigoroso e transparente”. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, chamou a autorização de “conquista da sociedade brasileira”, destacando que o licenciamento foi fruto de cinco anos de diálogo com governos e órgãos ambientais. “Vamos operar na Margem Equatorial com segurança, responsabilidade e qualidade técnica. Esperamos comprovar a existência de petróleo na porção brasileira dessa nova fronteira energética mundial”, afirmou.

O Ibama confirmou que a liberação foi concedida após um “rigoroso processo de licenciamento ambiental”, que incluiu a elaboração do Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), três audiências públicas e 65 reuniões técnicas em mais de 20 municípios do Pará e do Amapá. Também foram realizadas vistorias nas estruturas de resposta a emergências e um simulado pré-operacional com mais de 400 participantes.

Entre as condicionantes impostas, o instituto citou a criação de um novo centro de atendimento à fauna em Oiapoque (AP), somando-se ao já existente em Belém (PA). O Ibama destacou ainda que durante a perfuração será realizado novo exercício simulado de resposta a emergências, com foco na fauna marinha.

A Margem Equatorial vem sendo tratada como a nova fronteira do petróleo brasileiro, comparada por técnicos ao pré-sal. A região se estende do Rio Grande do Norte ao Amapá e ganhou destaque após descobertas significativas de petróleo nas costas da Guiana, do Suriname e da Guiana Francesa. No Brasil, o potencial da Bacia da Foz do Amazonas é estimado em até 10 bilhões de barris de óleo equivalente, segundo estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

A exploração, no entanto, é alvo de críticas de ambientalistas e especialistas em clima, que alertam para os riscos à biodiversidade e para a contradição com os compromissos de transição energética. O MPF reforça que a autorização foi concedida sem que o país tivesse concluído o debate sobre os impactos climáticos e sociais da exploração de petróleo na região.

Para a Petrobras, a operação é estratégica para garantir a autossuficiência nacional nas próximas décadas. A empresa afirma que, apesar do nome, a área de perfuração fica a mais de 500 quilômetros da foz do rio Amazonas e que o projeto incorpora as mais avançadas tecnologias de prevenção e resposta a vazamentos.

O TRF-1 deve analisar o recurso do MPF nos próximos dias. Até lá, a licença concedida pelo Ibama segue válida, e a Petrobras mantém o cronograma para o início da perfuração exploratória no litoral do Amapá.

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