Tubulações de cobre removidas da UPA João Pereira desaparecem após obra em Paranaguá
FASP aponta falhas e contradições na gestão anterior
Créditos: Divulgação
As tubulações de cobre retiradas durante a reestruturação da rede de gases da UPA João Pereira, em Paranaguá, desapareceram após serem, segundo a empresa responsável pela obra, entregues ao então diretor-geral da Fundação de Assistência à Saúde de Paranaguá (FASP), Jonathan Ribeiro Rozemback. A atual direção afirma não ter encontrado qualquer registro da entrada do material, nem vestígios de onde ele foi armazenado ou para onde foi remetido. A narrativa da Fundação e a da empresa contratada não se encontram em nenhum ponto seguro: ambas reconhecem que houve a retirada das tubulações antigas, mas apenas a ELO Medical Comercial Ltda. declara que elas teriam sido entregues ao diretor da unidade, enquanto a gestão que o sucedeu afirma desconhecer completamente o paradeiro do que foi removido da UPA.
A obra foi executada por meio da Dispensa Emergencial nº 20/2024, voltada à modernização da rede de gases medicinais da unidade. No relatório técnico encaminhado posteriormente, a ELO descreve a substituição das tubulações antigas por novas peças de maior diâmetro e afirma que “todos os materiais retirados foram entregues ao responsável da administração da unidade”, identificando Rozemback como o destinatário. Nenhuma fotografia, laudo ou comprovante de entrega foi anexado, embora a empresa reconheça ter sido formalmente solicitada a apresentar essa documentação.
Quando a nova direção da FASP buscou localizar o material, descobriu que nenhum servidor sabia da existência das tubulações retiradas. Em documentos internos, a Diretoria-Geral relatou que, ao tentar reconstituir a cadeia de guarda, ouviu da equipe que nenhum setor da Fundação havia recebido ou registrado a entrada das peças, nem tinha conhecimento de onde poderiam estar. A diretora Mayara Ariadne de Souza comunicou oficialmente à Secretaria Municipal de Saúde que o representante da empresa havia confirmado a entrega das tubulações ao diretor anterior, mas que a administração atual “desconhece a localização” do material, sugerindo que jamais houve incorporação das peças ao patrimônio sob a gestão subsequente.
A ausência de documentação, somada ao contraste entre as versões da empresa e da Fundação, levou à abertura de um processo administrativo interno. A Comissão Permanente de Sindicância analisou os fatos, mas constatou que não havia nenhum registro capaz de demonstrar o caminho percorrido pelo material após a obra. Em sua deliberação, a Comissão reconhece que a retirada de tubulações de cobre - material com valor econômico e sujeito a controle patrimonial - exige documentação mínima de guarda, e observa que o desaparecimento das peças indica falhas administrativas potencialmente lesivas ao erário. 
Paralelamente, a Procuradoria da FASP relatou dificuldade em obter resposta da empresa contratada. Após diversos e-mails formais, a ELO Medical não apresentou qualquer documento capaz de comprovar a entrega das tubulações, apesar de reiterar verbalmente que elas haviam sido destinadas ao ex-diretor. O setor administrativo da Fundação registrou que, até outubro de 2025, não houve qualquer manifestação da empresa por e-mail institucional ou outro meio oficial.
Com o impasse instalado - a empresa sustentando que entregou o material, a Fundação afirmando jamais tê-lo recebido e nenhum documento formalizando o ato - a administração pública esgotou as tentativas internas de reconstituir a situação. Quando ficou claro que não havia meios administrativos para esclarecer o desaparecimento, o caso foi encaminhado ao Ministério Público, que abriu procedimento para investigar a possível destinação indevida dos bens retirados da UPA. A atuação do MP surge aqui como consequência da falha estrutural: a Fundação não conseguiu localizar o material, não obteve documentos da empresa, e não encontrou registros deixados pelo diretor responsável no período.
Os documentos revelam, portanto, um cenário de ruptura administrativa: tubulações de cobre removidas em obra pública, afirmadas como entregues pela empresa, mas jamais localizadas pela gestão seguinte; ausência de protocolos; falta de registros de guarda; e um rastro documental insuficiente para comprovar o destino final do patrimônio. Enquanto a obra seguiu seu curso técnico com a instalação da nova rede de gases, as peças retiradas desapareceram no intervalo entre a execução do serviço e a transição de comando na Fundação. Nada, até o momento, explica onde foram parar.
