Isolamento do Jardim Jupira derruba comércio e expõe lentidão em obra prometida
Quatro meses após o anúncio da trincheira de R$ 18 milhões, licitação ainda não foi lançada; bairro enfrenta queda nas vendas, prejuízos e nova onda de protestos
Créditos: Divulgação
Bruno Soares
Foz do Iguaçu
O fechamento do acesso ao Jardim Jupira pela BR-277, no fim de outubro, transformou um dos bairros mais antigos de Foz do Iguaçu em um território isolado e economicamente asfixiado. Desde que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) bloqueou a última entrada direta para o local, sob alegação de segurança viária, o comércio encolheu, o turismo de passagem praticamente desapareceu e os moradores convivem com a sensação de abandono.
O Jupira, situado às margens do Rio Paraná, na divisa com o Paraguai, cresceu nas décadas de 1970 e 1980 como bairro popular de trabalhadores ligados ao comércio fronteiriço. Apesar da localização estratégica, entre a Vila Portes e o corredor turístico, o bairro acumula décadas de carências urbanas e de dificuldades de acesso. As sucessivas intervenções na BR-277 reduziram as entradas, até restar apenas uma, agora fechada por tempo indeterminado.
“É o isolamento do isolamento”, diz Leomar Dutra Pereira, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Jardim Jupira (AMAJJ). “O comércio está morrendo, os turistas deixaram de entrar e a população está pagando por um problema que não criou”.
Desde o fechamento, o movimento nas lojas caiu mais de 50%, segundo comerciantes locais. A justificativa da PRF é que o trecho era usado irregularmente por motoristas que trafegavam em marcha à ré para furar a fila em direção à Ponte da Amizade. A corporação alega que a medida é definitiva e visa reduzir riscos de acidentes e delitos, mas moradores afirmam que não foram consultados e que não houve qualquer alternativa de acesso provisório.
O prefeito General Silva e Luna (PL) chegou a visitar o local após o bloqueio, diante das queixas de comerciantes e lideranças comunitárias. Em seguida, a Prefeitura buscou mediação com a PRF para reabrir a via, mas o órgão manteve o fechamento. O município sustenta que a solução definitiva para o impasse é a construção da Trincheira Jardim Jupira–Vila Portes, obra orçada em R$ 18 milhões e anunciada em 11 de julho como parte de um pacote de R$ 170 milhões em obras estruturantes financiadas pelo programa Paraná Cidades, do governo estadual.
SEM LICITAÇÃO
Quatro meses depois, no entanto, o projeto continua sem licitação. Segundo a Secretaria de Planejamento, o processo ainda tramita internamente para aprovação e posterior lançamento do edital, sem previsão de data. Para a comunidade, a demora reforça o descrédito em promessas antigas. “Anunciar é fácil. Difícil é tirar do papel”, critica o empresário Rabih Abdul Latif Amiri, que mantém um comércio na região há 20 anos. “Enquanto discutem burocracia, o bairro definha”.
A população realizou o primeiro protesto na última segunda-feira (03), pedindo diálogo e a reabertura imediata do acesso. Um segundo ato está marcado para este domingo (9), às 10h, na antiga entrada do bairro. “O primeiro protesto mostrou que o Jupira está unido. Agora queremos respostas”, diz Leomar Dutra.
Com o bloqueio, o único caminho de entrada e saída do bairro é pela Avenida Tancredo Neves, uma via turística congestionada que liga o centro da cidade a Itaipu. O trajeto diário de quem trabalha, estuda ou precisa acessar serviços básicos ficou mais longo e inseguro. “Demoramos o dobro do tempo para ir ao trabalho ou levar as crianças à escola. E ninguém apresentou uma alternativa provisória”, relata o morador.
Durante a Caravana Federativa, no fim de outubro, lideranças do Jupira e a vereadora Anice Gazzaoui (PP) entregaram um documento à ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, pedindo intermediação federal para o problema. O texto aponta o impacto econômico e social do fechamento e cobra que a Prefeitura e a PRF apresentem uma solução emergencial até que a obra da trincheira seja iniciada.
“O Jupira não quer isolamento, quer diálogo e respeito”, disse Anice. “Enquanto a trincheira não sai do papel, é preciso garantir o direito de ir e vir da população”, finaliza a parlamentar.
