pref santa tereza Setembro 2025

Governo inicia demissões de indicados de deputados que votaram contra MP; Paraná está entre os afetados

Exonerações atingiram superintendentes regionais ligados a MDB e PSD; no Paraná, Juliana Bianchini perdeu o comando do Ministério da Agricultura

Por Gabriel Porta

Governo inicia demissões de indicados de deputados que votaram contra MP; Paraná está entre os afetados Créditos: Antonio Cruz/ Agência Brasil

O governo federal iniciou uma série de demissões de indicados políticos de deputados que votaram contra a Medida Provisória (MP) que aumentava a arrecadação de impostos. A decisão, considerada uma retaliação direta do Palácio do Planalto, já teve reflexos no Paraná, onde a superintendente do Ministério da Agricultura, Juliana Bianchini, foi exonerada.

Ao todo, cinco superintendentes regionais de ministérios ligados ao MDB e ao PSD foram dispensados de seus cargos. Segundo integrantes do governo ouvidos pela Folha de S.Paulo, os aliados foram avisados de que a votação da MP era considerada decisiva para a base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quem se posicionasse contra, teria que “deixar o governo”.

As primeiras exonerações foram publicadas no Diário Oficial da União. Além do Paraná, as demissões atingiram as superintendências do Ministério da Agricultura nos estados do Pará, Minas Gerais e Maranhão. No Ministério dos Transportes, a superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) de Roraima também foi dispensada.

A movimentação causou insatisfação, principalmente no PSD. Deputados da legenda classificaram a atitude do governo como precipitada e “pouco inteligente”, uma vez que o partido foi o segundo que mais deu votos favoráveis à medida provisória, atrás apenas do PT.

O PSD havia orientado voto contrário à MP, por determinação do presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, mas a bancada se dividiu: 20 deputados votaram com o governo e 18 contra. O MDB também rachou: foram 16 votos favoráveis e 14 contrários, apesar de a sigla ter declarado apoio à proposta.

Parlamentares afirmam que as exonerações não se limitaram aos ministérios e atingiram também estatais, como os Correios e a Caixa Econômica Federal, com demissões de cargos comissionados e assessores regionais. Por se tratarem de funções administrativas, essas saídas não são publicadas no Diário Oficial.

A MP rejeitada era considerada essencial para manter o ritmo de arrecadação do governo e evitar cortes de investimentos em 2026, ano eleitoral. O impacto esperado era de R$ 20 bilhões no Orçamento. Com a derrota por 251 votos a 193, o Palácio do Planalto agora busca alternativas para compensar a perda de receita.

Além dos aliados infiéis, indicados de partidos formalmente na oposição também foram atingidos, como o PP e o PL. Entre os nomes exonerados está Rodrigo de Lemos Lopes, ligado ao vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), que deixou a vice-presidência de Sustentabilidade e Cidadania Digital da Caixa Econômica Federal. No lugar, assumiu interinamente Jean Rodrigues Benevides, atual diretor executivo de sustentabilidade da instituição.

Outro nome dispensado foi José Trabulo Junior, consultor do presidente da Caixa, Carlos Vieira, desde setembro de 2024. Piauiense e aliado do presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, Trabulo já havia ocupado cargos de destaque no governo anterior, como diretor da Conab e integrante do conselho fiscal da Caixa Corretora.

Fontes do Planalto afirmam que as próximas demissões devem atingir indicados de políticos do União Brasil e do PP, partidos que anunciaram oficialmente o rompimento com o governo e agora trabalham para lançar uma candidatura alternativa à de Lula em 2026.

No dia da votação da MP, PP e União Brasil puniram os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esportes) por permanecerem no governo, contrariando as orientações partidárias. Ambos foram afastados de funções de direção nas legendas, e Sabino deve responder a um processo de expulsão.

Mesmo com o distanciamento formal, lideranças desses partidos ainda controlam importantes órgãos federais, como a Caixa Econômica Federal, a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), a Telebras, diretorias dos Correios e diversas superintendências regionais.

Nos bastidores, a avaliação é de que o movimento de “limpeza” promovido pelo governo Lula tem como objetivo reorganizar o espaço político dentro da base aliada e preparar o terreno para as eleições de 2026. A estratégia é fortalecer quem permanece leal ao Planalto e eliminar indicados de grupos que já demonstraram inclinação para apoiar adversários do presidente.

Segundo interlocutores próximos ao governo, a ordem agora é “fechar o cerco”. A ideia é garantir que, ao longo de 2025, os cargos federais nos estados sejam ocupados apenas por nomes alinhados ao projeto político do PT, evitando surpresas nas próximas votações no Congresso.

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