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Déficit de armazenagem no Paraná acende alerta no campo

A expansão da colheita, que cresceu 19,5% nos últimos dez anos, não foi acompanhada na mesma medida pela ampliação da rede de silos e armazéns

Por Da Redação

Déficit de armazenagem no Paraná acende alerta no campo Créditos: Sistema FAEP

O Paraná, um dos maiores produtores de grãos do país, enfrenta um gargalo estrutural que ameaça a eficiência e a rentabilidade do agronegócio: a deficiência na capacidade de armazenagem. Com uma produção que deve alcançar 45,2 milhões de toneladas na safra 2025/26, o Estado tem hoje um déficit de armazenagem estimado em 12,6 milhões de toneladas. A expansão da colheita, que cresceu 19,5% nos últimos dez anos, não foi acompanhada na mesma medida pela ampliação da rede de silos e armazéns, que avançou apenas 12,8% no período. As informações são do Sistema FAEP.

Dados do Sistema de Cadastro Nacional de Unidades Armazenadoras (Sicarm) mostram que o Paraná possui 1.594 unidades e 2.513 silos cadastrados, com capacidade total de estocagem de 32,6 milhões de toneladas. Apenas 4,7% dessa capacidade está localizada dentro de propriedades rurais. O contraste com os Estados Unidos é gritante: lá, mais de 53% da estocagem ocorre nas fazendas, com estruturas que chegam a suportar entre 343 e 367 milhões de toneladas.

“Batemos recordes de produção safra após safra, mas as estruturas de armazenagem não acompanham esse ritmo. E não é por falta de interesse do produtor, mas porque os programas de financiamento não são atrativos”, afirma Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema FAEP.

O Plano Safra 2025/26, anunciado recentemente pelo governo federal, frustrou expectativas do setor. Foram disponibilizados R$ 4,5 bilhões para o Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) voltado a estruturas maiores, com juros de 10% ao ano, acima dos 8% reivindicados pelas entidades paranaenses. Já para armazéns menores (até 6 mil toneladas), o valor previsto é de R$ 3,7 bilhões, a juros de 8,5% ao ano, também superiores aos 7% solicitados.

“O produtor já precisa recorrer ao crédito rural para outras etapas do processo produtivo. Quando os juros da armazenagem estão entre 1,5 e 2 pontos acima do desejado, isso desestimula o investimento”, alerta Luiz Eliezer Ferreira, do Departamento Técnico e Econômico da FAEP.

Uma pesquisa da CNA, feita em 2022 com mais de mil produtores, revelou que 72,5% investiriam em armazenagem caso as taxas de juros fossem mais atrativas.

Além de facilitar o escoamento da produção, a armazenagem própria garante maior controle de qualidade e permite que o agricultor aguarde o momento ideal para comercializar os grãos, melhorando sua renda. É o que demonstrou o produtor Sérgio Fortis, de Goioerê. Após investir em silos próprios, a capacidade de armazenamento de sua propriedade saltou de 14 mil para 24 mil toneladas.

“É uma libertação. Agora eu consigo vender o milho até 25% acima do preço das cooperativas. Tenho controle total da operação e da qualidade do produto”, diz Fortis. Segundo ele, a independência em relação às cooperativas também evita descontos por parâmetros como o índice de grãos ardidos, que podem ser corrigidos com misturas feitas no próprio silo.

A decisão de investir, no entanto, quase foi abortada pela burocracia. Fortis relata que o processo pelo PCA travou, e ele só seguiu com a construção graças a uma cooperativa de crédito local que ofereceu as mesmas condições do programa governamental. “Se fosse depender do governo, não teria feito. É preciso descomplicar.”

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