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Vorcaro iria para Malta. Daphne morreu denunciando lavagem de dinheiro na ilha

Polícia Federal está próxima da grande lavagem de dinheiro internacional

Vorcaro iria para Malta. Daphne morreu denunciando lavagem de dinheiro na ilha Créditos: Reprodução

Daniel Vorcaro, empresário ligado ao Banco Master, à aviação executiva e a 20% do Atlético Mineiro, tornou-se símbolo do colapso de um modelo de enriquecimento acelerado no Brasil. Considerado parte da elite do chamado “dinheiro novo”, ao lado do empresário Rubens Menin — proprietário da CNN Brasil —, Vorcaro passou meses tentando evitar a quebra do banco sob seu comando. O processo envolveu aportes do governador Cláudio Castro, do Rio de Janeiro, e de Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, ambos utilizando recursos públicos, sem investimento pessoal.

Segundo as investigações, o Banco Master “emitia moeda” ao oferecer garantias lastreadas em papéis fictícios, com promessa de juros que chegavam a 40%. A operação teria sido sustentada por apoio midiático e por articulações políticas que buscavam manter a aparência de solidez. Na véspera da ação da Polícia Federal (PF), a Folha de S. Paulo noticiou que um grupo estrangeiro compraria o banco por R$ 3 bilhões, enquanto a CNN afirmou que Vorcaro estaria a caminho de Dubai no momento da prisão. A PF, no entanto, informou que o destino real seria Malta.

O Instituto Conhecimento Liberta (ICL), do ex-banqueiro Eduardo Moreira, divulgou que Vorcaro teria contado com consultoria do ministro Ricardo Lewandowski e apoio político do senador Jacques Wagner, informação que ambos não comentaram oficialmente.

Conexões com fundos árabes e a sombra de escândalos internacionais
O caso reacende o debate sobre a influência financeira e a falta de transparência nos países do Golfo Pérsico, como Catar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Regiões com grande volume de capital e sistemas financeiros opacos têm sido associadas a episódios de compra de influência, como a escolha do Catar para sediar a Copa do Mundo de 2022. Denúncias da revista France Football apontam que Michel Platini, então dirigente da UEFA, teria votado a favor do Catar a pedido do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, condenado posteriormente por corrupção.

A reportagem também cita o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, que, ao lado de Sandro Rosell e Cláudio Honigman, teria usado corretoras brasileiras para operações suspeitas envolvendo fundos árabes. O trio foi detalhado no livro O Lado Sujo do Futebol. Segundo as investigações, Vorcaro teria seguido o mesmo caminho ao anunciar que receberia US$ 3 bilhões de fundos árabes para salvar o Banco Master.

Tentativa de fuga para Malta e o histórico do país com lavagem de dinheiro
De acordo com a PF, Vorcaro planejava fugir para Malta, país conhecido por atrair fortunas em razão de benefícios fiscais e baixa transparência. A ilha ficou internacionalmente marcada após a jornalista Daphne Caruana Galizia denunciar esquemas de lavagem de dinheiro envolvendo autoridades locais. Daphne foi assassinada em outubro de 2017, após a explosão de seu carro, episódio atribuído a uma rede criminosa ligada a interesses financeiros obscuros.

Cooperação internacional
A PF tem buscado apoio internacional para avançar em diferentes frentes de investigação, como no caso das joias recebidas por Jair Bolsonaro na Arábia Saudita e vendidas nos Estados Unidos — apuração que conta com colaboração do FBI. O cenário é dificultado pela falta de transparência de países do Golfo e de Malta, que historicamente resistem a compartilhar dados sobre movimentações financeiras.

A complexidade aumenta após decisões judiciais, como a anulação pelo STJ do processo que prendeu o russo Alessander Rossa, acusado de lavagem de dinheiro no Brasil após aplicar golpes em seu país. Mesmo investigado, Rossa chegou a ser indicado para a Secretaria de Turismo de Atibaia pelo advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef.

O caso Vorcaro expõe um enredo que mistura fraude financeira, manipulação de informações, apoio político, tentativas de cooptação midiática e conexões com paraísos fiscais. A Polícia Federal segue apurando o fluxo internacional de recursos e a participação de intermediários, mas deve enfrentar barreiras significativas para obter informações de países envolvidos em escândalos recentes relacionados à corrupção e lavagem de dinheiro.

 

Com informações da revista Fórum

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