Voe Pass: Um ano após a tragédia, relatório final do Cenipa ainda não foi divulgado

Eliane Alexandrino/Cascavel

Dia 9 de agosto de 2025, familiares das 62 vítimas do acidente aéreo da Voe Pass recordam com tristeza a perda de 62 pessoas na queda da aeronave em Vinhedo, São Paulo.

A Gazeta do Paraná, apurou junto à detalhes a  FAB (Força Aérea Brasileira), que a investigação está sendo conduzida por uma comissão composta por pilotos, mecânicos, especialistas em fator operacional, médicos/psicólogos entre outros profissionais. O grupo trabalha na análise integrada dos dados para identificar os fatores que contribuíram para a queda do avião.

De acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), a investigação ainda está em andamento. Foram coletados e catalogados os destroços, realizadas a leitura e análise dos gravadores de voo, e feita a reconstrução detalhada do voo, incluindo análise do desempenho da aeronave, comandos e alertas no momento do acidente, além da dinâmica da perda de controle.

Testes técnicos em componentes recuperados no local, análise de mais de 15 mil voos da frota da Voe Pass e levantamento meteorológico completo também fazem parte do trabalho. Foram utilizados dados de satélite que indicavam tempestades, turbulências e gelo no dia da queda. Simuladores de voo e voos experimentais foram empregados para reproduzir as condições enfrentadas pela aeronave.

O Cenipa está finalizando a análise técnica e o cruzamento de dados, preparando a minuta do relatório final SIPAER (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), que será encaminhada aos Estados participantes da investigação, incluindo a agência francesa BEA (Bureau d’Enquêtes et d’Analyses pour la Sécurité de l’Aviation Civile) e a canadense TSB (Transportation Safety Board), responsáveis pela fabricação da aeronave e dos motores, respectivamente. O relatório final será divulgado publicamente, mas ainda não tem data prevista.

 

Prazo para conclusão

O Cenipa afirma que a complexidade técnica e multidimensional do acidente, exige rigor analítico para a conclusão final e que segue o protocolo previsto na Lei nº7.565/1986 do CBA (Código Brasileiro de Aeronáutica). O relatório final do SIPAER deverá ser divulgado o mais breve possível, mas sem data prevista. 

 

Retrospectiva do voo

A aeronave da Voe Pass decolou às 11h58min (horário de Brasília) com 58 passageiros e 4 tripulantes a bordo. O voo partiu do Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva, em Cascavel, e tinha como destino ao Aeroporto Internacional de Guarulhos – Governador André Franco Montoro, em São Paulo (SP).

Durante o voo, a aeronave ingressou em uma região com condições meteorológicas propícias à formação de gelo severo.

“Às 13h21min, cumprindo sua navegação aérea, a aeronave realizou uma curva à direita momentos antes da perda de controle, entrando em uma condição chamada stall , vindo a perder sua sustentação em voo. Como resultado, os pilotos perderam o controle da aeronave, que entrou em atitude anormal de voo, descrevendo giros em torno do seu eixo (parafuso chato), culminando em sua colisão com o solo em uma área residencial do município de Vinhedo -SP”, afirma a Cenipa.

Alertas emitidos durante a queda

De acordo do relatório inicial, o sistema de detecção de gelo foi ativado a partir do nível de voo FL130 (13.000 pés), por volta das 12h14min. Vários alertas relacionados a esse sistema foram emitidos durante o voo.

O sistema de antigelo (nível 2) foi acionado pela tripulação durante a subida, e permaneceu ligado durante todo o voo. Por sua vez, o sistema de degelo (Airframe De-Icing ) foi ligado e desligado repetidas vezes. 

Foram registrados também alertas Cruise Speed Low (Baixa velocidade de cruzeiro) e, posteriormente, o alerta Degraded Performance (Performance degradada). 

Durante a curva à direita que antecedeu a perda de controle, foi exibido o alerta “Increase Speed” (aumente a velocidade), seguido de ruídos de vibração na cabine.

 

Homenagem às vítimas

Familiares das vítimas farão uma homenagem neste sábado (9), em Vinhedo – SP, no local onde a aeronave caiu.

Segundo a jornalista Adriana Ibba e também mãe de uma das vítimas, Liz Ibba de apenas 3 anos que estava acompanhada do pai, Rafael Fernando dos Santos, 41 anos que também estava no voo. Ao menos 85% dos familiares de Cascavel confirmaram a ida à São Paulo. 

“Um ano de memória e homenagem às vítimas do Voo 2283 será marcado por um ato ecumênico a partir das 8h30. Teremos a presença dos familiares, autoridades e todas as pessoas envolvidas naquele dia. Quase 300 familiares confirmaram presença. Às 9h teremos o ato ecumênico, em seguida as homenagens e depois um plantio de árvore pelos familiares”, destaca Ibba.

 

Em 10 anos Brasil teve 357 acidentes fatais 

A Gazeta do Paraná apurou também, que em 10 anos, a Cenipa registrou 357 acidentes fatais envolvendo queda de aeronaves. Também neste período foram registradas 819 mortes por consequências desses acidentes. O relatório apontou que o ano de 2024 foi o que teve maior incidência de acidentes e mortes, sendo: 175 acidentes, destes 44 fatais e um total de 152 óbitos. 

 

Foto: Divulgação