Violência no Paraná recua, mas desigualdades ainda preocupam
De acordo com os dados compilados no relatório, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no Paraná caiu 40,1% entre 2012 e 2022
Por Da Redação

O Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), revela que o Paraná apresentou melhora significativa em diversos indicadores criminais ao longo da última década. Com uma queda expressiva nas taxas de homicídios e uma melhora geral nos índices de segurança, o estado se consolida como um dos que mais avançaram na redução da violência no Brasil, ainda que persistam desafios importantes, especialmente relacionados à violência racial e de gênero.
De acordo com os dados compilados no relatório, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no Paraná caiu 40,1% entre 2012 e 2022, passando de 28,3 para 16,9 mortes. No total, o número absoluto de homicídios registrados no estado caiu de 3.016 para 2.004 nesse período. A redução acompanha uma tendência nacional de queda na última década, ainda que o estado tenha oscilado em determinados anos.
A capital, Curitiba, também contribuiu para os bons resultados. Em 2022, a cidade registrou uma taxa de 16,6 homicídios por 100 mil habitantes, bem abaixo da média nacional, que ficou em 23,3. Além disso, os crimes contra mulheres, embora ainda alarmantes, mostraram tendência de estabilidade. Em 2022, foram 108 vítimas de homicídio feminino no estado, das quais 54 se enquadram como feminicídios, segundo classificação legal.
No recorte racial, no entanto, o Atlas evidencia uma disparidade preocupante: 69,6% das vítimas de homicídios no Paraná são pessoas negras, apesar de este grupo representar aproximadamente 30% da população do estado. A taxa de homicídios entre negros foi de 26,6 por 100 mil habitantes, mais do que o dobro da registrada entre não negros, que ficou em 11,5.
Outro dado relevante diz respeito aos jovens: 37,3% das vítimas de homicídio no estado tinham entre 15 e 29 anos. A taxa de homicídios nesse grupo foi de 38,9 por 100 mil habitantes em 2022, o que indica que, embora o estado tenha melhorado os índices gerais, a juventude segue particularmente vulnerável à violência letal.
Especialistas ouvidos pelos autores do Atlas atribuem a redução da violência no Paraná a uma combinação de fatores, como investimentos em tecnologia e inteligência policial, fortalecimento das políticas públicas de prevenção e reorganização de territórios urbanos, especialmente nas regiões metropolitanas.
Cascavel tem melhora expressiva
No âmbito municipal, Cascavel também apresentou um quadro expressivo de melhora em 2025. De janeiro até maio, o município registrou 20 homicídios e 2 feminicídios, totalizando 22 mortes violentas. O número é significativamente inferior ao registrado em 2024, quando foram contabilizados 63 homicídios e 3 feminicídios ao longo de todo o ano. Apenas entre janeiro e abril de 2024, haviam sido registrados 39 homicídios e um feminicídio. A queda expressiva está associada a ações mais articuladas de segurança, investimentos em inteligência e reorganização do policiamento ostensivo, embora ainda não haja avaliação oficial consolidada.
Brasil: queda geral nos homicídios
O cenário nacional também apresentou melhoras em relação à violência letal. Segundo o Atlas da Violência, o Brasil registrou uma queda de 21,2% nos homicídios entre 2012 e 2022, passando de 56.337 para 44.058 mortes. A taxa nacional de homicídios caiu de 29,3 para 23,3 por 100 mil habitantes nesse período.
Essa melhora, no entanto, não foi homogênea. Enquanto estados como São Paulo, Paraná e Espírito Santo conseguiram reduzir de forma sustentada os índices de violência, outras unidades da federação, como Bahia, Amazonas e Amapá, registraram altas preocupantes. A Bahia, por exemplo, lidera o ranking de mortes violentas, com taxa de 54,7 por 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional.
O Atlas destaca que 76,9% das vítimas de homicídios no país são pessoas negras, reforçando o padrão histórico de racismo estrutural. A taxa de homicídios entre negros foi de 34,2 por 100 mil habitantes, enquanto a de não negros foi de 12,3. Isso significa que, proporcionalmente, negros têm 2,8 vezes mais chances de serem assassinados no Brasil.
A violência contra mulheres também segue como uma preocupação central. Em 2022, o Brasil registrou 3.930 homicídios de mulheres, dos quais cerca de 1.400 foram classificados como feminicídios. Embora os feminicídios representem uma parcela menor do total, eles cresceram proporcionalmente nos últimos anos, revelando a persistência da violência de gênero.
Em relação à juventude, os números continuam alarmantes. Os jovens entre 15 e 29 anos representam 44,7% das vítimas de homicídio no país. A taxa nacional para esse grupo foi de 50,6 por 100 mil habitantes, mais que o dobro da média geral. Essa faixa etária é especialmente atingida em regiões periféricas das grandes cidades, onde a presença do Estado é mais frágil e a atuação de facções criminosas, mais intensa.
Outro destaque do Atlas é a análise dos impactos da pandemia da Covid-19 na dinâmica da violência. Os anos de 2020 e 2021 registraram aumento nos índices de homicídios em várias regiões, possivelmente devido à crise social, ao aumento do desemprego e à fragilidade dos serviços públicos. A partir de 2022, a curva voltou a cair, sugerindo uma possível retomada da tendência de queda.
Os autores do estudo defendem que a redução sustentada da violência no país exige políticas integradas, que combinem repressão qualificada, prevenção social, combate ao racismo e fortalecimento das instituições de justiça. Eles também alertam para o risco de retrocessos diante da flexibilização de normas sobre posse e porte de armas, cuja expansão pode contribuir para o aumento da letalidade.