Alexandre Curi

Trump sinaliza abertura para diálogo e governo Lula avalia ligação

Washington e Brasília trocam gestos públicos que podem indicar reabertura de diálogo

Por Da Redação

Trump sinaliza abertura para diálogo e governo Lula avalia ligação Créditos: Getty Images/Marcelo Camargo/Agência Brasil

A escalada das tensões diplomáticas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos ganhou um novo capítulo nesta sexta-feira (1º), com declarações públicas do presidente norte-americano, Donald Trump, e reações imediatas do governo brasileiro. Após aplicar um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, o maior entre todos os parceiros comerciais dos EUA, e anunciar sanções punitivas contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Trump afirmou que está disposto a conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “quando quiser”.

A declaração foi feita durante entrevista à imprensa na Casa Branca. Questionado sobre a possibilidade de negociar diretamente com Lula para rever as tarifas, Trump disse: “Ele pode falar comigo quando quiser. Vamos ver o que acontece, mas eu amo o povo do Brasil”. Na mesma resposta, contudo, acrescentou uma crítica direta à atual administração brasileira: “As pessoas que estão comandando o Brasil fizeram a coisa errada”.

O tom dúbio, conciliador ao mencionar o povo brasileiro e crítico ao governo, chamou a atenção em Brasília, mas foi interpretado como uma oportunidade para reabrir canais de diálogo direto entre os dois presidentes, especialmente diante da gravidade das medidas unilaterais adotadas por Washington.

Ainda na noite de sexta-feira, o presidente Lula respondeu às falas de Trump por meio de uma publicação em suas redes sociais. Sem entrar em confronto direto, o presidente brasileiro reiterou a disposição para o diálogo, mas destacou que cabe apenas aos brasileiros decidir os rumos do país.

“Sempre estivemos abertos ao diálogo. Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições. Neste momento, estamos trabalhando para proteger a nossa economia, as empresas e nossos trabalhadores, e dar as respostas às medidas tarifárias do governo norte-americano”, escreveu Lula.

A nota segue a linha adotada pelo Palácio do Planalto desde a assinatura da ordem executiva por Trump, no dia 30 de julho, que impôs as novas tarifas comerciais. Na ocasião, o governo brasileiro também reagiu às sanções contra Alexandre de Moraes, aplicadas com base na chamada Lei Magnitsky, instrumento legal dos EUA que permite punir estrangeiros acusados de corrupção ou violações de direitos humanos.

Haddad vê sinal positivo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também comentou a declaração de Trump. Para ele, o gesto é “ótimo” e reforça a disposição do governo brasileiro para o entendimento. Haddad afirmou que o país nunca saiu da mesa de negociações e que agora é fundamental preparar o terreno para um possível encontro entre os dois presidentes.

“Acho ótima [a declaração de Trump]. E a recíproca, tenho certeza que é verdadeira. Conforme disse antes, é muito importante a gente preparar essa conversa”, disse o ministro, ao deixar o ministério na noite de sexta.

Como parte desse processo, Haddad revelou que se reunirá nos próximos dias com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, ainda sem data definida. O objetivo é discutir os efeitos das tarifas comerciais sobre a economia brasileira e esclarecer pontos da legislação americana que embasaram as sanções contra Moraes.

“Ainda não tem data fixada. Penso que a reunião [minha] com Bessent é muito importante. Entendemos que relações comerciais não devem ser afetadas por política. Nós estamos trabalhando no sentido de nos aproximarmos, reestabelecermos a mesa de negociação, talvez fazer uma reunião presencial”, afirmou Haddad.

Lei Magnitsky

Além das tarifas, a reunião entre Haddad e Bessent deverá abordar diretamente a aplicação da Lei Magnitsky, utilizada pelos EUA para sancionar o ministro Alexandre de Moraes. A sanção foi interpretada pelo governo brasileiro como uma grave interferência nos assuntos internos do país, especialmente por se tratar de um magistrado da mais alta corte responsável por processos envolvendo tentativa de golpe de Estado e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Para o ministro da Fazenda, há desinformação circulando sobre o funcionamento do sistema de Justiça brasileiro, o que torna o diálogo com autoridades norte-americanas ainda mais urgente.

“A reunião é muito importante porque, entre outras coisas, está sob a alçada do secretário do Tesouro a lei que disciplina essa coisa de contas-correntes de autoridades. Até por essa razão, vale essa conversa com Bessent antes para esclarecermos como funciona o sistema judiciário brasileiro”, explicou.

Caminho aberto, mas incerto

Apesar do gesto inicial de Trump, o clima entre os dois governos ainda é de cautela. Não há, até o momento, qualquer indicação de que a Casa Branca pretenda revogar ou reduzir as tarifas impostas. Tampouco houve sinais de flexibilização em relação às sanções contra Alexandre de Moraes.

Se o diálogo direto entre Lula e Trump acontecer, será a primeira conversa entre os dois desde que o presidente estadunidense assumiu o governo do país norte-americano.

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