Taxação já traz reflexos à indústria paranaense e Fipe cobra negociação técnica do governo
Para o presidente do Sistema Fiep, Edson Vasconcelos, é essencial que o Brasil atue com cautela e responsabilidade
Por Da Redação

A iminente entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros exportados para o país já causa prejuízos à indústria nacional e acende um alerta especialmente no Paraná. Diante do cenário, a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) cobra do governo federal uma negociação pautada por critérios técnicos e comerciais, livre de viés ideológico, como forma de tentar reverter ou mitigar os efeitos da medida.
Para o presidente do Sistema Fiep, Edson Vasconcelos, é essencial que o Brasil atue com cautela e responsabilidade na tentativa de reverter a taxação ou, ao menos, adiar sua aplicação. Ele afirma que o empresariado brasileiro tem sido unânime ao pedir que o governo adote uma postura diplomática e estratégica, deixando de lado retaliações que possam agravar ainda mais a situação.
“O empresariado vê a necessidade de se trazer a questão técnica e os aspectos meramente comerciais para a mesa de negociação”, afirma Vasconcelos. “O governo procurou e está ouvindo o setor produtivo, que é unânime em pedir que haja parcimônia e cautela na forma de negociação e que a Lei da Reciprocidade não seja usada. Nós temos que tentar buscar outros mercados, mas o fato é que o mercado norte-americano é o grande comprador do mundo, por isso é necessário deixar de lado qualquer agenda ideológica”, completou.
Uma das propostas defendidas pela Fiep é a busca por um prazo de prorrogação de 90 dias antes da entrada em vigor da tarifa, prevista para 1º de agosto. O objetivo seria permitir que contratos já firmados e cargas em trânsito não sejam prejudicados. Segundo Vasconcelos, muitos empresários já relatam o cancelamento de pedidos por parte de compradores dos Estados Unidos, o que coloca em risco contratos e compromete cadeias produtivas inteiras.
“Muitas indústrias têm cargas que estão em trânsito para os EUA e contratos que já foram cancelados, porque o comprador norte-americano que vai receber a carga após o dia 1º não está aceitando pagar 50% de adicional no preço de entrada”, explicou. “Além disso, a maior parte das empresas que tem os EUA em seu portfólio tem todo o ciclo de insumos e estoque comprometido em cima dessa venda ao mercado norte-americano, um problema que vai se agravar”, acrescentou.
Setor madeireiro na linha de frente da crise
No Paraná, um dos segmentos mais afetados pela taxação é o da indústria da madeira, altamente dependente do mercado norte-americano, especialmente no fornecimento de materiais voltados à construção civil. De acordo com dados levantados pela Fiep, apenas em 2024 o setor de produtos de madeira do estado exportou US$ 615 milhões para os EUA, o que representa cerca de 40% do total das vendas paranaenses ao país, que somaram mais de US$ 1,58 bilhão.
Indústrias de madeiras perfiladas, molduras e outros insumos da construção civil têm sua produção quase totalmente voltada ao mercado dos Estados Unidos, com casos de até 97% de sua produção sendo enviada para aquele país. Já segmentos como madeira compensada e serrada têm entre 40% e 50% de suas vendas destinadas ao mercado norte-americano.
“Temos indústrias desse setor no estado que, hoje, trabalham quase 100% para o mercado norte-americano. Algumas já deram férias coletivas aos seus colaboradores e podem ter até que fechar as portas a partir do dia 1º”, alertou Vasconcelos.
A indústria da madeira no Paraná emprega mais de 38 mil trabalhadores, segundo a Fiep. A entidade adverte que o aumento de custos e a perda de mercado decorrentes da tarifa de 50% poderão ter reflexos diretos no emprego e na renda de milhares de famílias. O temor é que o desaquecimento das exportações provoque demissões em cadeia, agravando o cenário econômico especialmente em municípios cuja base produtiva depende da exportação para os Estados Unidos.
Esforço diplomático e risco de retaliações
Desde o anúncio da nova taxação, o governo brasileiro vem buscando interlocução com autoridades norte-americanas para evitar prejuízos à indústria nacional. Ainda não há confirmação sobre uma possível prorrogação do início da vigência da tarifa, mas o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços têm realizado reuniões com entidades empresariais e representantes do setor exportador para avaliar estratégias.
A proposta da chamada “Lei da Reciprocidade”, que prevê a adoção de medidas retaliatórias em resposta à taxação estrangeira, não conta com apoio da Fiep. A entidade paranaense defende que o caminho mais eficaz seja a construção de uma agenda pragmática, priorizando o interesse econômico e evitando embates que possam comprometer ainda mais o acesso ao maior mercado consumidor do planeta.
“Não podemos transformar uma questão comercial em disputa política ou ideológica. O Brasil precisa mostrar maturidade diplomática, buscar o diálogo e proteger o que já foi conquistado pelas nossas indústrias exportadoras”, defende Vasconcelos.
Enquanto aguarda por um desfecho positivo nas negociações, o setor industrial do Paraná segue apreensivo. As próximas semanas serão decisivas para empresas que já sentem os efeitos da medida e que podem, em pouco tempo, sofrer consequências ainda mais severas se não houver uma flexibilização por parte do governo dos Estados Unidos.
