Suspensão do Mounjaro provoca reganho de peso e perda dos benefícios metabólicos, aponta estudo
Pesquisa publicada na revista Jama mostra reversão acelerada de avanços cardiometabólicos após a interrupção da tirzepatida, indicando necessidade de tratamento contínuo
Créditos: Jakub Porzycki/Getty Images
A interrupção do uso do medicamento Mounjaro, uma das chamadas “canetinhas emagrecedoras”, está associada ao reganho significativo de peso e à perda dos benefícios cardiometabólicos conquistados durante o tratamento. A conclusão é de um ensaio clínico publicado na revista Jama, encomendado pela Eli Lilly, fabricante da tirzepatida. O estudo demonstra que grande parte dos pacientes que suspenderam a medicação voltou a apresentar problemas como hipertensão, glicemia elevada e piora no perfil lipídico.
A análise baseia-se nos resultados do estudo Surmount-4, que acompanhou 308 voluntários. Após perderem pelo menos 10% do peso em 36 semanas de uso da tirzepatida, os participantes foram divididos aleatoriamente para continuar o tratamento ou migrar para placebo por 13 meses. Entre aqueles que tiveram a medicação interrompida, 82,5% recuperaram 25% ou mais do peso eliminado; quase metade voltou a ganhar 50% ou mais, e cerca de um quarto recuperou 75% ou mais. Um grupo de 9% terminou o estudo acima do peso inicial.
Os dados mostram que apenas 17,5% conseguiram limitar o reganho a menos de 25%, mesmo com acompanhamento nutricional e estímulo à atividade física. Segundo os autores, fatores individuais relacionados à fisiologia da obesidade influenciam diretamente a resposta após a suspensão do remédio.
Especialistas destacam que a obesidade é uma doença crônica e que os resultados reforçam a necessidade de tratamento contínuo. A endocrinologista Jamilly Drago explica que a ação da tirzepatida depende de aspectos como composição corporal, sensibilidade aos hormônios GIP e GLP-1, metabolismo basal e presença de comorbidades.
Estudos anteriores com os mesmos participantes haviam registrado melhorias consistentes em diversos marcadores metabólicos. Porém, a nova análise revela que boa parte desses avanços desapareceu rapidamente após a interrupção — especialmente nos primeiros quatro meses, com piora acentuada do controle glicêmico.
Segundo a nutricionista Taynara Abreu, o organismo responde antes mesmo do peso subir. Alterações hormonais, como queda do GLP-1 endógeno e aumento da grelina, contribuem para maior fome e menor saciedade, influenciando comportamento e metabolismo.
O estudo também apontou piora da pressão arterial e reversão dos efeitos positivos sobre triglicerídeos e colesterol não HDL. Para o endocrinologista José Marcelo Natividade, os resultados evidenciam que a manutenção do peso perdido não depende apenas de disciplina e estilo de vida, mas também de mecanismos biológicos que tendem a favorecer a recuperação dos quilos eliminados.
Os autores concluem que a obesidade requer abordagem contínua e de longo prazo, com acompanhamento médico e estratégias combinadas para preservar os benefícios alcançados durante o tratamento.
