Trump alivia taxação do agro, mas tarifaço ainda vale para outros produtos brasileiros nos EUA
Avanço diplomático dá alívio ao agronegócio e marca primeiros avanços nas negociações, enquanto parte do tarifaço continua valendo
Créditos: Agência Brasil
Eliane Alexandrino/Com agências
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (20) a retirada da tarifa de importação de 40% sobre uma ampla lista de produtos agrícolas brasileiros. Entre os itens divulgados pela Casa Branca estão café, chá, frutas tropicais e seus sucos, cacau, especiarias, banana, laranja, tomate e carne bovina, um alívio expressivo para setores do agronegócio que vinham pressionando o governo brasileiro por uma resposta ao tarifaço imposto por Washington.
A decisão aparece na ordem executiva publicada pela Presidência dos EUA, na qual Trump afirma que a medida foi tomada após conversa telefônica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o texto, ambos concordaram em iniciar negociações para tratar das questões abordadas no Decreto Executivo 14.323, que embasou as sobretaxas aplicadas no mês passado. Essas tratativas, de acordo com a publicação, ainda estão em andamento.
O governo norte-americano diz ter levado em conta recomendações de autoridades envolvidas no monitoramento do estado de emergência declarado no decreto. Esses pareceres apontaram que certas importações agrícolas do Brasil “não deveriam mais estar sujeitas à alíquota adicional de 40%”, uma vez que houve “progresso inicial” nas negociações bilaterais. A Casa Branca anexou ao documento a lista completa dos itens isentos, que supera 60 categorias e inclui desde cortes bovinos até chás verde, preto e mate, além de castanha de caju, manga, mandioca, goiaba e bambu.
Essa é a primeira vitória concreta do esforço brasileiro para reverter o tarifaço que atinge diversos produtos nacionais com sobretaxas que chegam a 50%. Analistas econômicos internacionais avaliam que a medida atende não apenas às tratativas diplomáticas, mas também ao interesse dos EUA em conter a inflação que pesa sobre a cesta básica americana. A suspensão das tarifas é retroativa a 13 de novembro.
Em São Paulo, o presidente, Lula, comemorou o anúncio, classificando-o como um avanço importante, ainda que parcial. “Não é tudo o que eu quero, não é tudo que o Brasil precisa, mas é uma coisa importante”, disse o presidente em vídeo gravado ao lado do vice Geraldo Alckmin e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antes de embarcar para a África do Sul, onde participará da Cúpula do G20.
Lula afirmou esperar reencontrar Trump, no Brasil ou em Washington, para “zerar qualquer celeuma comercial ou política” entre os dois países. “Vou lhe agradecer só parcialmente, e vou lhe agradecer totalmente quando tudo estiver plenamente acordado entre nós”, completou em entrevista a Agência Brasil.
Para o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, a retirada das tarifas sobre carne bovina, café, frutas e outros produtos “representa um avanço significativo na relação bilateral”. Ele destacou que setores como o de carne e café, dos quais o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores globais passarão a entrar no mercado americano com alíquota zero. Ainda assim, reforçou que boa parte dos produtos brasileiros permanece sujeita às tarifas elevadas.
Itamaraty vê “avanço inicial”
O Ministério das Relações Exteriores afirmou, em nota divulgada na noite desta quinta-feira, ter recebido “com satisfação” a revogação da tarifa adicional para uma série de produtos agropecuários. O Itamaraty citou que Trump acolheu recomendações de altos funcionários de seu governo indicando que determinadas importações brasileiras não deveriam mais estar sujeitas à sobretaxa diante do avanço das negociações.
A chancelaria destacou que a medida tem efeito retroativo à reunião de 13 de novembro entre o ministro Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em Washington, encontro no qual discutiram a redução das tarifas. O governo brasileiro afirmou ainda estar disposto a manter o diálogo para solucionar pendências entre os dois países, “em linha com a tradição de 201 anos de excelentes relações diplomáticas”.
Com o fim do tarifaço, produtos brasileiros voltam a acessar o mercado norte-americano em condições mais competitivas, reforçando o papel do país como um dos principais fornecedores globais de alimentos.
Confira a lista dos produtos sem tarifaço
-Carnes bovinas (carcaças, cortes com e sem osso, miúdos, carne curada, seca ou defumada);
- Frutas e vegetais (tomate, coco, limas, abacate, manga, goiaba, mangostim, abacaxi, papaya, mandioca e outras raízes tropicais);
- Café e derivados (verde, torrado, descafeinado, cascas, películas e substitutos com café);
- Chás, mate e especiarias (chá verde, chá preto, erva-mate, pimentas, noz-moscada, cravo, canela, cardamomo, açafrão, gengibre, cúrcuma e misturas);
- Frutos secos, castanhas e nozes;
- Polpas, sucos, óleos essenciais, cacau e derivados;
- Produtos processados, conservas, pães e itens para uso religioso;
- Fertilizantes à base de nitrogênio, fósforo e potássio.
Produtos com tarifaço
- Máquinas
- Motores
- Calçados
- Móveis
- Café Solúvel
- Pescados
- Mel
Foto: Agência Brasil/Ricardo Stuckert
