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Áudios apontam esquema de arrecadação na Sanepar, expõem dívidas de campanha e revelam rede de personagens nos bastidores do governo

Áudios vazados apontam suposto esquema de arrecadação dentro da Sanepar para cobrir dívidas de campanha, enquanto documentos oficiais revelam gastos elevados, déficit eleitoral e uma rede de cargos e relações políticas nos bastidores do governo

Por Gazeta do Paraná

Áudios apontam esquema de arrecadação na Sanepar, expõem dívidas de campanha e revelam rede de personagens nos bastidores do governo Créditos: Sanepar

Gravações que vieram a público nos últimos dias colocaram a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) no centro de um conjunto de denúncias que sugerem a existência de um esquema de arrecadação de recursos a partir da estrutura da estatal, com possível destinação para cobrir dívidas de campanha eleitoral do governador Ratinho Júnior. 

Os áudios foram divulgados pelo deputado estadual Arilsom Chioratto, líder da oposição na Assembleia Legislativa do Paraná, que afirma ter encaminhado o material ao Ministério Público e solicitado esclarecimentos formais ao governo do Estado e à presidência da Sanepar.


O esquema de arrecadação 

Nos trechos divulgados, interlocutores falam abertamente sobre valores milionários, pressão sobre cargos e disputa por influência dentro de estatais. Em um dos diálogos, atribuído a Rafael Sanita Malaguido, há referência direta ao assédio sobre empresas públicas: "Os caras estão vindo babando em cima de Sanepar, Copel e Coapar.”

Em outro trecho, atribuído a Jaime Antônio de Camargo Ferreira, surge a menção explícita a valores e à campanha estadual: "Isso aí é 4 milhões que você falou pra mim, é da campanha do governador.”

As gravações também mencionam o Programa de Participação nos Resultados (PPR) da Sanepar — benefício trabalhista previsto em acordo coletivo — como possível alvo de retenção informal de valores por parte de funcionários indicados politicamente. Segundo as falas, parte do PPR teria sido exigida para cobrir despesas eleitorais, prática que, se comprovada, pode configurar abuso de poder econômico e desvio de finalidade administrativa.

 

Dívidas de campanha
A denúncia ganha relevo quando confrontada com dados oficiais da prestação de contas eleitoral da campanha de reeleição de Ratinho Junior em 2022, disponíveis no sistema DivulgaCandContas, do Tribunal Superior Eleitoral.

Os documentos mostram que a campanha: declarou aproximadamente R$ 11 milhões em receitas; registrou cerca de R$ 14 milhões em despesas contratadas; apresentou dívida de campanha superior a R$ 3,4 milhões.

As despesas totais superaram o limite bruto de gastos, embora a legislação permita a exclusão de determinados itens — como honorários advocatícios e contábeis — do cálculo do teto. Isso significa que o estouro aparente não implica, automaticamente, irregularidade, mas evidencia um cenário de campanha financeiramente pressionada, que terminou o pleito com valores a quitar.

É nesse contexto que os áudios passam a ser politicamente relevantes: eles sugerem a existência de mecanismos paralelos de arrecadação para cobrir déficits de campanha, utilizando o peso e a capilaridade de estatais estratégicas.


Quem é quem nos bastidores

Malaguido manteve vínculo com a Sanepar por mais de 17 anos, entre 2005 e novembro de 2022, conforme registros oficiais da companhia. Seu cargo formal era de técnico operacional, com atuação como agente de suporte administrativo, lotado na gerência regional de Apucarana.

Após deixar a estatal, tornou-se sócio-administrador de empresas privadas. Ele figura no quadro societário da Vestir com Amor Ltda, aberta em abril de 2023, e é o único sócio da Malaguido Corretora de Seguros Ltda, criada em 2024. Ambas estão ativas e regularmente registradas.

Jaime Antônio de Camargo Ferreira é um quadro político de longa circulação na estrutura do governo do Paraná e assessor de confiança de Guto Silva desde o período em que este exercia mandato como deputado estadual.

Registros oficiais indicam que Jaime atuou como assessor parlamentar no gabinete de Guto Silva na Assembleia Legislativa do Paraná, acompanhando o então deputado em sua atuação legislativa. Com a migração de Guto Silva para o Executivo estadual, Jaime passou a ocupar cargos comissionados em sequência, acompanhando o mesmo grupo político.

Após a passagem pela Assembleia Legislativa, Jaime foi nomeado para cargo comissionado na Secretaria de Estado do Planejamento, já sob a gestão de Guto Silva no Executivo. Em seguida, passou a exercer função comissionada na Casa Civil, área estratégica do governo estadual, responsável pela articulação política e administrativa.

Mais recentemente, registros funcionais indicam que Jaime ocupa o cargo de diretor de Operações Municipais do Paraná Cidade, entidade vinculada ao governo do Estado, função ativa desde 2025. O histórico demonstra continuidade funcional e política, sempre em cargos de confiança e em estruturas diretamente ligadas ao núcleo do governo.

Além da atuação administrativa, Jaime também disputou eleição municipal em 2016. É nesse contexto — de assessor político com trânsito por diferentes instâncias do governo e vínculo prolongado com o núcleo decisório — que o nome de Jaime aparece nos áudios divulgados, como interlocutor em conversas que mencionam arrecadação de recursos e campanha eleitoral.

A apuração também identificou que a esposa de Jaime, Jussieli Duraes Grube Ferreira, possui trajetória própria como servidora e comissionada do Estado do Paraná.

Registros públicos mostram que Jussieli ocupou cargos comissionados no Executivo estadual, atuando como servidora em estruturas do governo antes de sua ida para o Legislativo. Posteriormente, passou a exercer função comissionada na Alep.

Desde 2025, Jussieli atua como assessora política no gabinete do deputado estadual Hussein Bakri, líder do governo na Assembleia Legislativa. O cargo é de livre nomeação e integra a estrutura de sustentação política do Executivo dentro do Parlamento.

Assim como o marido, Jussieli também disputou eleição em 2016, a cargo de vereadora.

Presidente da Sanepar, Cláudio Stábile, mencionado nos áudios como alguém que teria recebido valores relacionados à campanha. Não há, até agora, manifestação pública de Stábile nem imputação formal contra ele. As referências permanecem restritas ao conteúdo das gravações divulgadas.

Créditos: Redação Acesse nosso canal no WhatsApp