Sem respostas: audiência pública sobre a Copel frustra moradores de Toledo
Copel foi convocada, mas não deu as explicações necessárias para moradores e autoridades presentes, o que causou indignação
Por Da Redação

O que deveria ser um espaço de esclarecimento e encaminhamento de soluções se transformou em um encontro marcado por frustração e mais dúvidas. A audiência pública realizada na noite de terça-feira (29) na Câmara de Vereadores de Toledo para discutir os problemas relacionados aos serviços prestados pela Copel foi marcada por críticas da comunidade, cobranças incisivas de vereadores e pouca efetividade nas respostas da Companhia Paranaense de Energia.
Convocada pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviços Públicos (CTA), a audiência foi motivada pelas constantes reclamações de consumidores, tanto da área urbana quanto rural, sobre quedas frequentes de energia, aumento expressivo nas contas de luz e falta de atendimento eficiente aos chamados. O auditório do Legislativo ficou lotado, demonstrando o tamanho da insatisfação da população com os serviços da empresa.
“De maio do ano passado até agora, de 251 kilowatts a 272 kilowatts que era a variação. Pasmem para o mês de abril deste ano: 1339 kw. De 274 reais para 1773 reais. Acredito que esse não seja um caso isolado porque senão a maioria não estaria aqui”, afirmou Fabio Rios, que é morador de Toledo e foi prejudicado com o aumento no valor das suas contas de energia elétrica.
Entre os relatos mais contundentes estiveram os de produtores rurais, que denunciam perdas na produção por conta da instabilidade no fornecimento de energia. Muitos afirmaram que os chamados abertos à Copel não são atendidos com a devida agilidade, e que os problemas se repetem com frequência preocupante.
Moradores da área urbana também manifestaram incômodo com cabos soltos nas ruas, além de dúvidas e críticas relacionadas à troca dos medidores tradicionais pelos chamados “medidores inteligentes”, acusados por parte da população de provocarem um aumento repentino nas faturas.
“O sentimento é de indignação, mas o objetivo é buscar melhoria. Precisamos sair daqui com um compromisso claro de solução”, declarou o vereador Marcos Zanetti, autor do requerimento que originou a audiência.
Representando a Copel, estiveram presentes Carlos Galina (Gerente do Departamento de Operação de Campo Oeste), Francisco Ávila (Equipe do Projeto Redes Elétricas Inteligentes) e Hemerson Orcesi (Gerente da Base de Serviços de Campo de Toledo). Embora tenham apresentado dados sobre os investimentos da empresa em Toledo e detalhado o processo de substituição dos medidores, que segundo a companhia, já atingiu cerca de 30% dos consumidores do município, as explicações não atenderam às expectativas dos presentes.
A fala técnica e sem encaminhamentos práticos da Copel foi alvo de críticas de parlamentares e moradores, que esperavam respostas diretas e medidas urgentes para os problemas enfrentados.
“Eu percebi que a Copel não está entendendo a realidade do estado do Paraná. Temos produtores de Cascavel que perderam toda a sua produção de peixe, cerca de R$ 300 mil de prejuízo. Temos em torno de 15 quedas de energia diariamente aqui pertinho de nós, em Capitão Leônidas Marques. É só entrar no Google e dar uma olhadinha no que está acontecendo. No Sudoeste há 30 dias atrás, produtores da bacia leiteira de Francisco Beltrão pararam na frente da Copel e despejaram seus leites na rua, porque os resfriadores estão queimando, porque estão tendo prejuízos com as suas ordenhadeiras e com as suas produções da agricultura familiar”, destacou o vereador Roberto Souza.
Uma equipe da empresa foi disponibilizada durante o evento para atendimento presencial, mas as ações pontuais não pareceram suficientes diante do acúmulo de reclamações.
“Identificamos mais recentemente alguns problemas como foi citado em Cascavel, com repercussão e audiência pública. Tivemos dois problemas apontados. O processo de troca de medidor, precisamos implantar várias informações do sistema, e são números pessoal. Os empregados receberam um treinamento, e nós identificamos falhas nesse processo. Trouxemos atendentes para coletar essas informações, e precisamos receber essa unidade consumidora para fazer a análise e dar o retorno para o consumidor em si, para entender se há uma falha humana”, disse Carlos Galina, Gerente de departamento de operações da Copel no Oeste.
Procon confirma reclamações
Durante a audiência, o Procon de Toledo confirmou que o número de reclamações contra a Copel aumentou em abril de 2025, com 49 registros, a maioria relacionada ao aumento repentino nas contas de energia.
“O Procon registrou um aumento significativo no número de reclamações direcionadas a Copel, nos últimos meses, especialmente no mês de abril. Eu trouxe uma tabela que faz um levantamento de todos os atendimentos que realizamos nos últimos três anos nos quatro primeiros meses. Em 2023 foram sete atendimentos em face da Copel. Em 2024 foram 18 reclamações. Esse ano, até dia 28 de abril, atendemos 75 consumidores que reclamaram contra a Copel. Somente no mês de abril foram quase 50 reclamações”, explicou Sueli Minarski, que é coordenadora do Procon.
Além de representantes da Copel e do Procon, participaram da audiência membros da OAB, Ministério Público, Associação Comercial e Empresarial de Toledo (Acit), além de diversos vereadores e lideranças comunitárias. O promotor de Justiça Giovani Ferri levou à tona outro ponto crítico: a existência de cabos e fiação solta pela cidade, evidenciada por levantamento feito pela Promotoria. Ferri informou que o Ministério Público está aberto para receber novas denúncias, mas reforçou que a responsabilidade e a solução devem partir da própria companhia.
“Sei que vocês têm as suas restrições administrativas, mas eu esperava como promotor que vocês viessem trazer soluções, e não trouxeram. Vocês trouxeram um cenário que é totalmente diferente da realidade de Toledo. Vocês acabaram de dizer que existem 200 reclamações registradas na Copel, mais 70 no Procon, mais 83 processos nas varas civis. A primeira ação coletiva eu movi e vão vir muito mais, podem se preparar porque o Ministério Público vai mover ações milionárias contra a Copel. Esperava que vocês trouxessem soluções. Nenhum momento a Copel explicou o porquê estão acontecendo essas constantes quedas e oscilações de energia. Nenhum momento a Copel explicou por que está respondendo a 83 processos de perdas e danos”, frisou Ferri.
Problema estadual
Os problemas enfrentados pela população de Toledo não são isolados. Em Cascavel, por exemplo, os mesmos tipos de queixas levaram a uma audiência pública recente, convocada pelo Legislativo da cidade, também para discutir a má qualidade dos serviços prestados pela Copel. Em várias regiões do Paraná, as reclamações se repetem: contas elevadas, equipamentos novos sem explicação técnica clara, falhas no atendimento e quedas constantes no fornecimento de energia.
A ausência de compromissos concretos por parte da empresa durante as audiências públicas tem gerado descrédito e insatisfação generalizada. Em Toledo, o encontro terminou sem soluções definitivas e com a promessa de que novos encaminhamentos serão discutidos nos próximos dias. Enquanto isso, cresce o apelo da população por um debate estadual sobre os serviços da Copel, com envolvimento direto da Assembleia Legislativa e dos órgãos reguladores.
Para os moradores, a cobrança continua, e a expectativa é que a mobilização pública force mudanças na postura da empresa diante das inúmeras falhas apontadas. Por ora, resta à comunidade a vigilância ativa e a pressão por melhorias que ainda não saíram do papel.