Rondônia inspira novo seriado de Manaoos Aristides
Diretor paranaense retoma parceria com o roteirista Edmar Costa em uma grande produção audiovisual sobre a formação e o desenvolvimento do Estado de Rondônia
Créditos: Divulgação
Autor de “A Saga da Terra Vermelha Brotou o Sangue”, história da colonização do Paraná e do sul do Brasil, exibida em três temporadas na TV Brasil e em mais de 200 emissoras de todo o país, atingindo mais de 110 milhões de visualizações, Manaoos Aristides se revelou um diretor visionário. Hoje, aos 78 anos, comporta-se como um menino em busca da cena mais emocionante a ser feita e não cansa de acreditar em nós, diferentes, e naqueles que estão começando.
Sobre Rondônia, as pesquisas iniciaram em 1974, quando, como professor de arte, ministrou cursos em Porto Velho e, durante sua estada, criou e produziu o Primeiro Festival de Música de Rondônia, juntamente com Euro Torinho e Vinicius Danin, do jornal Alto Madeira. Manaoos, com sua visão e experiência em dramaturgia, hoje vive com seus personagens rondonienses para dar vida às histórias prontas.
“Rondônia, Estrelas, Caminhos e Diamantes” ou “O Outro Braço da Cruz” é uma obra de teledramaturgia que começa a sair da gaveta. Trata-se de um audiovisual — um seriado e um longa-metragem — com argumento e roteiro de Manaoos Aristides e Edmar Costa (falecido em 2017). Esse projeto, denominado Digital DH, mistura ficção e fatos reais, como ocorreu em A Saga. O pano de fundo é “O lado oeste do Brasil”.
RONDÔNIA... O OUTRO BRAÇO DA CRUZ
“Rondônia, Estrelas, Caminhos e Diamantes” ou “O Outro Braço da Cruz” é uma nova produção em teledramaturgia que começa a sair da gaveta. A princípio, surgiu em 1999 com o título “No Linear do Milênio”, hoje dividida em “O Outro Braço da Cruz” e “Rondônia, Estrelas, Caminhos e Diamantes”. Trata-se de uma produção audiovisual — um seriado e um longa-metragem — com argumento e roteiro de Manaoos Aristides e Edmar Costa (falecido em 2017).
Esse projeto (Digital DH) é um semi-documentário que não se perde na ficção. O pano de fundo é “O lado oeste do Brasil”, nos meados da virada dos anos 1950. A aventura pelos sertões do Brasil era assunto para a imprensa nacional. Entre outros, Folha de S. Paulo, O Globo e a revista Visão publicavam relatos sobre a aventura que era chegar ao Território Federal de Rondônia e ao Acre.
A construção da BR-29, hoje BR-364, tanto quanto a da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, é um feito épico, com efeitos muito mais visíveis e duradouros para a vida dos povos do antigo Território do Guaporé.
Entre as muitas resoluções que mudaram o Brasil, o então presidente Juscelino Kubitschek decidiu, em 2 de fevereiro de 1960, durante reunião com os governadores dos estados do Norte, construir a BR-29, ligando Cuiabá (MT) a Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC), abrindo o oeste brasileiro.
Citações do livro do Coronel Paulo Nunes Leal, ex-governador do Território Federal de Rondônia, retratam o nascimento dessa aventura, nos idos dos anos 1960, e da rodovia hoje BR-364. O que representou a estrada para a região pode ser bem avaliado pelo progresso e pela integração de Rondônia, que passou de um inexpressivo Território Federal ao atual Estado pujante.
O despertar aconteceu em uma conversa ao telefone entre o ex-governador Paulo Nunes Leal e o presidente Juscelino Kubitschek:
“Senhor Presidente, o senhor já ligou Brasília a Belém e a Porto Alegre e está ligando a Fortaleza. Por que não completa o outro braço da cruz, fazendo a estrada Brasília-Acre?”
“Uai, Paulo. E pode?”
“Pode, Presidente, mas é negócio para homem.”
“Então vai sair”, respondeu sorrindo.
Foi uma decisão corajosa, que quebrou o isolamento e integrou de fato a região ao restante do país.
OS INVENTORES DE RONDÔNIA
Este é o tema que o diretor e roteirista Manaoos Aristides escolheu para realizar nos próximos dois anos, no formato de um seriado e de um longa-metragem.
Manaoos, como é conhecido, realizou em 2014 o seriado “A Saga da Terra Vermelha Brotou o Sangue”, uma produção totalmente independente com 16 capítulos de uma hora, que contou com mais de cinco mil participantes, filmados em mais de 50 locações e em 30 cidades do Paraná. Muitos artistas de nome nacional fizeram parte — e assim será também nesta nova produção. A Saga foi exibida na TV Brasil em três temporadas, atingindo mais de 110 milhões de visualizações.
Manaoos já conta com a participação de atores consagrados, como João Vitti, Raymundo de Souza, Igor Rickli, Gabriela Alves, Débora Santos, Dalileia Ayala, Olga Bon Giovanni, Eduardo Villas Boas, Alceu Moreira, Tito Mendes, Denis Derkian, Munir Kannan e um elenco dos estados de Rondônia e do Amazonas, onde a trama será ambientada.
As cenas serão rodadas em São Paulo, Paraná, Amazonas, Rondônia e nos estúdios de Curitiba, contando com a equipe de A Saga, formada por Sérgio Cunha, Roque Corrêa, Beth Capponi, Jewan Antunes, Irineu Souza e Cláudio Ribeiro.
O roteiro e o argumento são de Edmar Costa, publicitário do Amazonas (Oana Publicidade). Edmar e Manaoos foram parceiros de longa data. Foi com Edmar que surgiu a ideia de transformar o Território de Rondônia em Estado, juntamente com o então governador Coronel Jorge Teixeira (Teixeirão), em 1977.
Edmar participou de todas as etapas, criou e dirigiu um audiovisual sobre o território e, com esse trabalho apresentado a todos os deputados federais em Brasília, foi aprovada a Lei Complementar nº 41, de 22 de dezembro de 1981, criando assim o Estado de Rondônia.
O Coronel Jorge Teixeira foi o último governador do Território e o primeiro governador do novo Estado, indicado e nomeado pelo general João Baptista de Oliveira Figueiredo. Assumiu em 1979 como governador do Território e foi empossado como governador de Estado em 29 de dezembro de 1981, governando Rondônia até 1985.
AEROPORTOS E ESTRADAS SURGIRAM A GOLPES DE FOICE, MACHADO E FACÃO
As histórias de luta, vida e morte fazem desse trabalho um mosaico de sagas que serão contadas por meio de relatos vividos e pesquisados durante anos.
Fatos como o do “Bandeirante”, um caminhão Ford F-600 que saiu de São Paulo com quatro toneladas de carga no dia 10 de outubro de 1959, com geradores de energia para Ilha das Flores e Costa Marques. O objetivo era chegar a Porto Velho (RO) cruzando todo o Centro-Oeste, quando sequer havia trilhas na selva.
Uma viagem inimaginável: o caminhão “Bandeirante” chegou ao destino em 19 de novembro de 1959, quarenta dias depois. A equipe que realizou essa epopeia era composta por três funcionários públicos — Manoel Bezerra (chefe de gabinete), Bismarque Marcelino (motorista, que “só não passava com um caminhão por onde Deus tivesse dificuldade”) e Ausier Santos (mecânico).
Praticamente toda a área do Território de Rondônia era selva — um imenso oceano verde, impenetrável e desconhecido. Para abrir uma estrada pioneira que o cruzasse, foi necessário implantar várias frentes de desmatamento, iniciando em Porto Velho e Vilhena, que poderiam ser abastecidas por terra, pela picada aberta.
Os problemas mudavam conforme o clima, exigindo soluções diferentes. A principal delas — e talvez sem a qual não existiria a BR-29 — foi a Força Aérea Brasileira, responsável pelo abastecimento das equipes. Em várias frentes, os suprimentos eram lançados de aviões em meio à selva.
Muitos pequenos aviões desapareceram, mas o trabalho prosseguiu. Como não havia campo de pouso em Vila de Rondônia (atual Ji-Paraná), o engenheiro José Fiel Fontes, chefe dos serviços de desmatamento, enviou 600 homens para o vilarejo para abrir “na foice e no facão” a pista de pouso.
O primeiro pouso em Vila de Rondônia foi de um Catalina, em 14 de maio de 1960. Em Vilhena, o primeiro pouso ocorreu em 4 de julho de 1960, com um DC-3 da FAB transportando o presidente Juscelino Kubitschek para a derrubada da última árvore. A pista asfaltada foi construída pela empresa Camargo Corrêa em apenas 25 dias.
Ao final do desmatamento, 22 campos de pouso permitiam operações de aviões DC-3, Catalina e monomotores.
Rondônia, para se tornar um Estado, exigiu o trabalho e a dedicação de muitas pessoas, e muitas ficaram pelo caminho. A fome, as doenças, os desafios da selva — animais selvagens e rios indomáveis — criaram barreiras naturais.
Essas e muitas outras histórias serão contadas no seriado “Rondônia, Estrelas, Caminhos e Diamantes” ou “O Outro Braço da Cruz”.
A produção também abordará trajetórias de figuras como o empresário Assis Gurgacz, de Cascavel (PR), fundador da Eucatur, empresa que começou em 1964 e se tornou dona da linha de ônibus mais extensa do mundo.
A história de Rondônia é a mais nova história dos brasileiros — a última fronteira, uma terra nova colonizada por sulistas, nordestinos e nortistas (incluindo povos indígenas). O Paraná lidera esse processo de colonização, ao lado de gaúchos e catarinenses, que abriram vilas e cidades hoje destacadas na produção agrícola nacional.
Rondônia, seu povo e sua história começam muito antes da emancipação, quando Porto Velho ainda era uma vila à beira do Rio Madeira, com uma estrada de ferro moderna que ligava o nada a coisa alguma.
Hoje, o Estado se destaca como exemplo de superação e desenvolvimento, fruto da coragem de colonos desbravadores que buscaram — e encontraram — a terra prometida.
Manaoos Aristides, com sua visão de cineasta e experiência em dramaturgia, vive entre os personagens rondonienses e as histórias que aguardam ser contadas. Assim como fez com a colonização do Paraná, ele promete revelar em “Rondônia, Estrelas, Caminhos e Diamantes” ou “O Outro Braço da Cruz” o espírito pioneiro e o legado de um povo que construiu o futuro a golpes de fé, coragem e determinação.
