Prisão de Bolsonaro repercute no plenário da Câmara de Curitiba
O debate foi aberto por Renan Ceschin (Pode), que classificou como “absurdo” e “abuso” a decisão do STF
Por Gazeta do Paraná

A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, decretada na segunda-feira (4) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), gerou debate entre os vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC). De acordo com o site do STF, a medida foi tomada diante do “descumprimento de medidas cautelares já impostas pela Corte”, após a publicação nas redes sociais de falas feitas por Bolsonaro, pelo telefone, durante as manifestações realizadas no último domingo (3). O ato foi entendido como a “continuidade da tentativa de coagir o STF e obstruir a Justiça”.
O debate foi aberto por Renan Ceschin (Pode), que classificou como “absurdo” e “abuso” a decisão do STF. O vereador disse não fazer uma defesa de Bolsonaro, mas do princípio da liberdade de expressão. “Quando a liberdade de expressão não é para todos, não estamos vivendo em uma democracia”, observou. Ele relatou ter vivido na Venezuela, em 2011, e de ter visto neste país a perseguição contra meios de comunicação. “Eu presenciei isso, um canal de televisão ser fechado. E o primeiro conselho que o presidente do clube me deu [Renan atuava como jogador de futebol à época], quando assinei o contrato, foi ‘não fale mal do governo, pois podem te prender’. E nós estamos indo por esse mesmo caminho, e isso é muito perigoso”.
O contraponto foi feito por Professora Angela (PSOL). Para a vereadora, a decisão foi “uma divisão de águas no Brasil”. “Trump ameaça o Brasil com taxação, fere a nossa soberania, e os falsos patriotas estão do lado dos Estado Unidos, chantageando o Brasil em troca de anistia para Bolsonaro”, acusou.
Professora Angela disse que defende a prisão de Bolsonaro desde quando ele ainda era presidente. “Foi um genocida: 700 mil mortes aconteceram nesse país por causa dessa pessoa”, disparou. A parlamentar também apontou envolvimento do ex-presidente com casos de rachadinhas e citou outras denúncias de corrupção, como no “caso das joias” e por ter tentando “descredibilizar as urnas eletrônicas, para criar um ambiente propício ao golpe”.
“A prisão de Jair Bolsonaro não é suficiente. Nós queremos que o Eduardo Bolsonaro, que está lá nos Estados Unidos conspirando contra o Brasil, seja não só cassado, mas também preso. E que Carla Zambelli pague por tudo o que fez. O PSOL tem lado e é o lado do povo brasileiro. Não contem conosco para defender os golpistas. Sem anistia e prisão para todos os envolvidos no 8 de janeiro e a todos os que conspiram contra o nosso país!”, finalizou.
Guilherme Kilter (Novo) rebateu o posicionamento de Professora Angela sobre os motivos da prisão de Bolsonaro. “Ele não foi preso por ser condenado, por roubar o INSS, ou porque a Odebrecht fez uma reforma no seu sítio, ou porque acharam dinheiro na sua cueca. Foi preso porque seu filho postou um vídeo falando com o pai, uma ligação de vídeo!”, criticou.
Kilter argumentou que o ex-presidente estava “em casa, de tornozeleira eletrônica” e questionou como essa situação pode ser interpretada como “conspirar para um golpe”. “Onde estão as evidências? É uma ditadura que estamos vivendo. Bolsonaro é o primeiro presidente preso sem ter envolvimento algum com corrupção”.
O parlamentar recordou das sanções impostas a Alexandre de Moraes pelo governo dos Estados Unidos, “pelo fato de o país ter identificado que o ministro viola direitos humanos”. Conforme Guilherme Kilter, Moraes, na verdade, queria “ocultar os arquivos do 8 de janeiro, que revelam prisões ilegais, sem provas, por posts em redes sociais, que a sua assessoria pediu a manutenção de prisões, mesmo com a PGR pedindo para soltar, porque ele queria revisar as redes sociais para ver se tinha crítica ao governo, ao Lula e ao PT”.
Por fim, o vereador do Novo apelou aos deputados e senadores para que façam uma “obstrução completa nos trabalhos” em Brasília. “Ou a gente para o Alexandre de Moraes ou ele vai parar o Brasil”, concluiu.
Outro parlamentar a se posicionar sobre o caso foi Rodrigo Marcial (Novo). Ele afirmou que a esquerda tenta fazer com que a discussão seja político-ideológica, “mas nós não estamos mais falando de ideologia, mas de direitos básicos sendo desrespeitados em nosso país com a liderança de Alexandre de Moraes”.
Marcial também comentou sobre acusações relacionadas a supostas irregularidades cometidas por Alexandre de Moraes, que entende como “a denúncia mais grave que nós tivemos envolvendo o Supremo Tribunal Federal na história do Brasil".
Segundo Rodrigo Marcial, um assessor de Moraes compartilhou mensagens nas quais “claramente o ministro indicava a prisão de pessoas por postarem coisas contra o governo Lula. Isso é uma ditadura”, definiu. O vereador aproveitou para divulgar o lançamento do site Dossiê Moraes, que é de sua iniciativa, e reúne “a memória de todos os abusos do ministro”.
“Estou cansado de falar isso nas minhas redes sociais, de ouvir semana após semana, abusos contra os direitos básicos de brasileiros há tantos anos. Já são 78 casos listados no dossiê, inclusive a prisão domiciliar, completamente ilegal, de Bolsonaro”.
O dossiê demonstra, segundo Marcial, não apenas uma razão para pedir o impeachment do magistrado, “mas todas as causas para pedir o impeachment, e por consequência a queda do governo Lula”, ao considerar que o ministro já cometeu diversos crimes de responsabilidade.
A decretação da prisão de Bolsonaro um dia após manifestações populares que pediam o impedimento de Moraes foram vistas por Rodrigo Marcial como um ato de zombaria do ministro a todos que participaram do protesto. “O ministro agora pune a maior voz de oposição no nosso país, aquela que melhor representa a direita no Brasil. Fora Lula e fora Moraes!”, finalizou.
“O 4 de agosto foi o dia em que a democracia brasileira foi assassinada”, resumiu Bruno Secco (PMB). Para o vereador, a prisão de Bolsonaro “sem qualquer condenação, sem crime” não se trata de justiça, mas de “tirania”.
“O Lula foi preso após ser condenado em duas instâncias, e por crimes de verdade, que envolviam quantias estratosféricas. Lula sim é um bandido, que merece cana. Mas qual é o crime de Bolsonaro? E não adianta vir com esse papo furado de golpe. Espero muito que a Lei Magnitsky siga dando lições contra a tirania instalada no nosso Brasil”, emendou.
Bruno Secco afirmou que o povo “não aguenta mais ver tanta injustiça acontecendo debaixo do nosso nariz” e cobrou a postura de senadores, para que pautem o impedimento do ministro. “São senadores que estão com seus rabos presos, são covardes e omissos, que nada fazem para nos libertar dessa ditadura”.
“Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, sigam firmes nos Estados Unidos! O Brasil mais do que nunca precisa de vocês. Bolsonaro, estamos juntos sempre, nas boas e principalmente nas más horas”, concluiu o vereador.
Assessoria/Câmara de Curitiba
