Nos anos 1970, o cantor Ney Matogrosso passou oficialmente dois anos proibido de pisar em Brasília. A revelação foi feita pelo próprio artista em entrevista ao Canal Brasil, onde relembrou os tempos de censura e perseguição durante a ditadura militar.

“Oficialmente, tinha uma relação de pessoas vetadas, que não podiam ir a Brasília”, contou o cantor, destacando o incômodo que sua figura gerava às autoridades do regime. Na época, Ney fazia sucesso com o grupo Secos & Molhados, mas chamava ainda mais atenção por seu visual andrógino, sua postura transgressora e por desafiar normas de gênero e comportamento.

Mesmo após o fim do veto, ele continuou enfrentando dificuldades para se apresentar. “Quando eu fiz o show do meu primeiro disco solo, eles não me deixaram ir para teatro nenhum. Eu fui parar no ginásio de uma escola Dom Bosco, onde nunca tinha acontecido show nenhum”, relatou. O álbum Água do Pássaro foi lançado em 1975.

Situação semelhante se repetiu em 1976, com o show do disco Bandido. “Eles também me proibiram de todos os lugares. Me liberaram lá no Iate Clube. Aí sim, eu tinha um número de plateia. Quando eu desci na plateia, todos de terno me olhando feio. E eu passava por eles requebrando”, ironizou o artista.

Apesar da repressão, Ney afirmou que não sentia medo. “Nenhum medo. Eu tinha tanto ódio deles”, disse, mencionando ter conhecimento das graves violações de direitos humanos promovidas pelo regime. “Eu sabia que eles jogavam gente viva dos aviões na Restinga da Marambaia. Sabia de tudo. Sabia da Operação Condor. A gente sabia de tudo.”

Com informações do Portal Metrópoles