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Petrobras Sinfônica celebrou 90 anos do maestro Isaac Karabtchevsky

O evento, organizado em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc RJ) e o Theatro Municipal, trouxe de volta uma das marcas mais emblemáticas da trajetória do maestro: a popularização da música clássica

Por Gazeta do Paraná

Petrobras Sinfônica celebrou 90 anos do maestro Isaac Karabtchevsky Créditos: Tomaz Silva/Agência Brasil

A Orquestra Petrobras Sinfônica realizou na última sexta-feira (27), na Cinelândia, em frente ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, um concerto especial para celebrar os 90 anos do seu diretor artístico e maestro titular, Isaac Karabtchevsky. O evento, organizado em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc RJ) e o Theatro Municipal, trouxe de volta uma das marcas mais emblemáticas da trajetória do maestro: a popularização da música clássica.  

Durante décadas, Karabtchevsky esteve à frente de orquestras em concertos realizados em espaços públicos como praças e parques, proporcionando uma experiência única para grandes públicos. “Isso é algo totalmente inexplicável. É do ser humano ao se entusiasmar, se agitar. Esse é um conceito básico. A música tem esse poder mágico. Ela exerce sobre o ser humano uma função quase que imanente à sua formação sensorial. Por meio do nosso sistema nervoso, as notas se multiplicam e nos tomam por completo”, afirmou o maestro em entrevista à Agência Brasil.  

A ideia de levar a música clássica a um público mais amplo surgiu ainda na juventude de Karabtchevsky. “Eu pensava: tão pouca gente para arte tão grandiosa. Ainda jovem, já na adolescência, me ocorreu um impulso de que precisávamos fazer algo para que maior quantidade de público pudesse desfrutar de momentos tão lindos”, explicou.  

Um marco dessa proposta foi o Projeto Aquarius, criado em 1972 por Karabtchevsky em parceria com o jornalista Roberto Marinho e o gerente de promoções do Jornal O Globo, Péricles de Barros. Um dos eventos mais memoráveis do projeto ocorreu em 1986, com a apresentação da ópera Aída, de Verdi, na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro. Cerca de 200 mil pessoas compareceram para assistir ao espetáculo, que contou com um elenco de 470 artistas e teve mais de duas horas de duração. O público ocupou o gramado e até as águas do lago local para acompanhar a performance.  

Para o maestro, a conexão emocional que o público estabelece com a música é quase como um ritual. “Eles estão intimamente ligados. A origem do ser humano foi sempre por meio de grupos que, em tempos passados, se reuniam como congregações ou irmandades que cantavam em volta do fogo. Acho que a música impregnou a vida das civilizações passadas de uma maneira tão forte quanto hoje”, refletiu.   

O concerto de ontem reafirmou o compromisso de Isaac Karabtchevsky e da Orquestra Petrobras Sinfônica em aproximar a música clássica do grande público, transformando a experiência em um momento inesquecível para todos os presentes.

 

Iniciação

O interesse pela música surgiu cedo na vida do maestro, reconhecido como um dos mais relevantes da atualidade. “Eu verifiquei que o primeiro impulso já estava ali há muito tempo, desde que a minha mãe me amamentou e eu já a ouvia cantar. Então, era uma coisa instintiva, natural, orgânica. Ela veio com o primeiro amor, o primeiro carinho da minha mãe, que cantava em russo as canções de ninar. O elo de comunicação entre a matéria espiritual que é a música surgiu, certamente, com a minha mãe e de lá foi um crescendo contínuo”, contou.

Ainda criança, por orientação da mãe que tinha sido cantora mezzo soprano em Kiev, na Ucrânia, começou com aulas de canto com o professor australiano dela e, na sequência, vieram os instrumentos. “A minha mãe foi fundamental nesse processo, porque ela viu um talento natural, que o meu gesto era sempre sintomático com o conteúdo musical. Ela intuiu isso e me pôs imediatamente em contato com o professor de canto dela aqui no Brasil, em São Paulo, que se chamava Fan Krause, um austríaco que imigrou para o Brasil e dava aulas de canto e continuava ensaiando com ela. Eu assistia todos os ensaios e ele começou a me preparar para a futura carreira. Eu fazia exercícios, cantava muito, foi a minha primeira vocação, o meu primeiro ingresso no universo musical percorreu o canto. Devo muito, em primeiro lugar à minha mãe e, em segundo, ao professor que me introduziu nos segredos da música” relatou.

O estudo de canto era sempre com músicas clássicas, em geral Tchaikovsky, e trechos de óperas. “Isso durou mais ou menos até 12 anos de idade, quando ela me fez estudar música mais seriamente. Aí eu tinha professor de teoria e solfejo, nada em relação a regência ainda, mas essa a primeira fase foi a que cristalizou e solidificou minha carreira musical. Foram os primeiros passos, que são sempre tortuosos, até chegar a um ponto em que eu pudesse andar livremente.

O primeiro instrumento foi o piano e depois desenvolveu-se em outros. “O oboé foi uma decorrência natural disso. Por que um instrumento de sopro? Porque era um instrumento que cantava, então escolhi um instrumento de sopro, o oboé, que tinha uma sonoridade pastoril, íntima, linda. Até hoje quando me lembro das frases emitidas pelo oboé, é uma sensação de plenitude”, descreveu.

Créditos: Agência Brasil