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Pedido de Pacheco para deixar relatoria ganha peso após revelação de 30 postagens contra Renato Freitas

Impasse no caso Muffato prolonga disputa no Conselho de Ética

Pedido de Pacheco para deixar relatoria ganha peso após revelação de 30 postagens contra Renato Freitas Créditos: Divulgação/Assessoria

Bruna Bandeira - Cascavel 

A reunião do Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Paraná desta segunda-feira (8) escancarou dois movimentos centrais na crise que envolve o deputado Renato Freitas (PT). O primeiro deles foi a decisão do deputado Márcio Pacheco (PP) de abrir mão da relatoria do processo movido pela diretora da Polícia Penal, Ananda Chalegre, no qual Freitas responde por suposta difamação, injúria e calúnia em sessões plenárias. O pedido ganhou peso político porque ocorre poucos dias após a oposição revelar que Pacheco publicou quase 30 postagens nas redes sociais atacando Freitas ao longo de 2025 - críticas políticas, comemorações de punições posteriormente suspensas judicialmente e a repetição de versões já desmentidas, como a suposta “invasão” da Igreja do Rosário. Para parlamentares da oposição, o histórico público de confrontos comprometeria a imparcialidade do deputado. A manifestação ocorreu em resposta à definição de Pacheco como relator no caso da briga no centro da cidade.

Ao justificar o pedido de redesignação, Pacheco afirmou que o processo de Ananda Chalegre exige tempo e dedicação que ele não poderia assumir no momento, porque precisa concentrar esforços na relatoria do caso da luta corporal ocorrida nas ruas de Curitiba, um dos processos mais volumosos e complexos contra Freitas, que reúne dez representações simultâneas.

A deputada Márcia Ussulac, que já relatava outros procedimentos disciplinares contra Freitas, assumiu também a relatoria deste caso.

O caso Muffato

O debate que dominou a reunião desta segunda, porém, foi outro: o processo disciplinar aberto após o protesto realizado por Freitas dentro de uma unidade do supermercado Muffato, em Curitiba, no dia 25 de junho de 2025.

Segundo a representação apresentada pelos deputados Ricardo Arruda e Tito Barrichello, Freitas teria organizado “um ato político-partidário” dentro do estabelecimento para protestar contra a morte de Rodrigo Bochen, jovem morto em confronto com um segurança. A denúncia descreve, com base em vídeos e relatos, que: o deputado e apoiadores gritaram palavras de ordem dentro do supermercado; houve interrupção do funcionamento do estabelecimento; clientes e funcionários foram expostos a “ambiente de tensão”; Freitas teria retirado cestas de compras das mãos de consumidores, ação apontada pela acusação como violação da esfera privada dos clientes.

Para os autores da representação, o comportamento seria “incompatível com o decoro parlamentar”.

A defesa, por outro lado, afirma que o protesto teve caráter legítimo, não violento e factualmente proporcional à gravidade do caso que motivou o ato: a morte de um jovem negro em circunstâncias controversas. Rebate as acusações afirmando que não houve obstrução deliberada, que as imagens foram interpretadas de forma distorcida e que o deputado agiu no exercício de suas funções políticas.

A oitiva das testemunhas - entre elas funcionários do supermercado e pessoas que participaram do ato - seria a fase mais crucial do processo, pois é o momento em que o Conselho colhe elementos que podem confirmar ou contrariar as versões disponíveis.

 

O impasse

A reunião desta segunda-feira tinha como principal objetivo justamente ouvir as testemunhas, mas o ato não ocorreu.

O advogado de Freitas, doutor Abdalla, pediu adiamento alegando: ausência de intimação pessoal do deputado; envio tardio do e-mail; falta do prazo mínimo de três dias úteis; inexistência de tentativa por aplicativo de mensagens; e incerteza sobre o recebimento das comunicações.

Segundo ele, não seria possível avançar com o processo sem que a defesa tivesse sido validamente intimada, sob pena de violação ao contraditório e à ampla defesa.

O Conselho reagiu apresentando outra versão dos fatos. O presidente, Jacovós, disse que uma servidora tentou notificar o deputado três vezes consecutivas no gabinete - em 2, 3 e 4 de dezembro - e que, em todas as ocasiões, foi informada por assessores de que Freitas estava de atestado ou viajando. Diante das três tentativas sem sucesso, sustentou que a Casa procedeu conforme o artigo 20 do Código de Ética, enviando a notificação eletrônica e considerando o parlamentar devidamente citado.

O relator do caso, deputado Artagão, afirmou que, em sua avaliação, todos os requisitos formais foram cumpridos e que a presença do advogado na reunião demonstrava que a defesa tinha ciência dos atos processuais. Mesmo assim, para evitar futuras alegações de nulidade, disse aceitar o adiamento.

Outros parlamentares discordaram. Tito Barrichello acusou Freitas de criar “imbróglios” para atrasar o processo, enquanto o deputado Leônidas afirmou não ver motivo jurídico para postergar a oitiva, mas concordou por pragmatismo.

Ao final, prevaleceu a decisão de adiar a audiência para fevereiro de 2026, logo após o recesso legislativo.

 

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