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Nicolas Sarkozy se torna o primeiro ex-presidente francês preso desde 1945

Ex-líder é condenado a cinco anos por conspiração para financiar campanha com dinheiro de Muammar Khadafi

Nicolas Sarkozy se torna o primeiro ex-presidente francês preso desde 1945 Créditos: Divulgação

O ex-presidente da França Nicolas Sarkozy, de 70 anos, iniciou nesta terça-feira (21) o cumprimento de sua pena de cinco anos de prisão por conspiração para financiar ilegalmente sua campanha presidencial de 2007 com recursos do então ditador líbio Muammar Khadafi. Ele se tornou o primeiro ex-chefe de Estado francês a ser preso desde a detenção de Philippe Pétain, colaborador do regime nazista, em 1945.

Sarkozy, que governou a França entre 2007 e 2012, foi levado para a penitenciária de La Santé, em Paris, por volta das 9h40 (4h40 em Brasília), sob forte esquema de segurança. O ex-presidente ocupará uma cela individual de cerca de nove metros quadrados, equipada com banheiro, chuveiro, escrivaninha e televisão, na ala de isolamento da prisão — medida adotada para garantir sua segurança, já que o local abriga traficantes e condenados por terrorismo. Ele terá direito a uma hora de exercícios diários.

Apoio e protestos em Paris

Desde as primeiras horas da manhã, mais de cem pessoas se concentraram diante da residência de Sarkozy, no luxuoso 16º distrito da capital francesa, em uma manifestação organizada por seu filho Louis, de 28 anos. O ex-presidente mantém apoio de parte da população e de aliados políticos, mesmo após a condenação.

Em uma mensagem publicada na rede social X durante o trajeto até a prisão, Sarkozy reafirmou sua inocência:

“Não tenho dúvidas. A verdade prevalecerá. Mas quão esmagador terá sido o preço. [...] Não é um ex-presidente que estão prendendo esta manhã — é um homem inocente. Não sintam pena de mim, mas sinto profunda tristeza por uma França humilhada por um desejo de vingança.”

Apoio institucional

Na segunda-feira (20), o atual presidente Emmanuel Macron recebeu Sarkozy no Palácio do Eliseu. Macron justificou o encontro como um gesto “humano e republicano”. Já o ministro da Justiça, Gérald Darmanin, afirmou que visitará o ex-presidente na prisão para garantir sua segurança e o bom funcionamento da unidade prisional. “Não posso ser insensível à angústia de um homem”, declarou.

Caso Khadafi

O chamado caso Khadafi investiga um suposto esquema de financiamento ilegal da campanha presidencial de Sarkozy em 2007, que teria recebido milhões de euros do regime líbio. A promotoria sustenta que, em troca, Sarkozy teria prometido melhorar a imagem internacional de Khadafi junto às potências ocidentais.

Embora tenha sido absolvido da acusação de ter recebido dinheiro diretamente, Sarkozy foi condenado por associação criminosa com dois ex-assessores, Brice Hortefeux e Claude Guéant. Ambos teriam mantido encontros com representantes líbios, organizados pelo intermediário franco-libanês Ziad Takieddine — morto no Líbano pouco antes da condenação.

O ex-presidente, que nega qualquer irregularidade e alega perseguição política, apresentou recurso contra a sentença. Mesmo assim, a Justiça determinou o início imediato do cumprimento da pena, considerando “a excepcional gravidade dos fatos”. Até a análise do recurso, Sarkozy é considerado legalmente inocente, mas permanece detido.

A prisão do ex-presidente marca um capítulo inédito e turbulento na história recente da política francesa, reacendendo o debate sobre ética e impunidade entre as altas esferas do poder no país.

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