Mudança de domicílio de Carlos Bolsonaro para SC gera reação e debate sobre representatividade no Senado

Cientistas políticos afirmam que mudança de domicílio de Carlos Bolsonaro para Santa Catarina gera problema de representação no Senado Federal

Por Gazeta do Paraná

Mudança de domicílio de Carlos Bolsonaro para SC gera reação e debate sobre representatividade no Senado Créditos: Guilherme Nery/CMRJ

 

A transferência de domicílio eleitoral de Carlos Bolsonaro (PL-RJ) para Santa Catarina, anunciada por Jair Bolsonaro nesta semana, causou surpresa tanto no Congresso quanto entre as lideranças políticas catarinenses. A possibilidade do vereador do Rio de Janeiro disputar uma vaga no Senado por SC em 2026 acendeu discussões sobre a representatividade no Senado e os reais interesses da família Bolsonaro.

Cientistas políticos ouvidos pelo portal ND Mais apontam que, embora seja legal perante a Justiça Eleitoral, o movimento escancara um uso questionável da regra de domicílio, especialmente considerando que o Senado é, por definição constitucional, a casa de representação dos estados. Na prática, essa estratégia reforça a tese de que a família Bolsonaro busca se fortalecer em redutos onde tem ampla aceitação, como Santa Catarina, deixando de lado disputas em territórios mais difíceis, como o Rio de Janeiro.

O senador Jorge Seif (PL-SC), que também migrou do Rio para SC em 2022, afirmou que “não participou das articulações, mas considera Carlos um ótimo nome”. Nenhum outro senador da bancada do PL confirmou participação na decisão. Líderes como Wellington Fagundes (PL-MT) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) também não se manifestaram.

Para o cientista político Rodrigo Stumpf Gonzalez, da UFRGS, a mudança é uma “estratégia de sobrevivência” da família. “É o reconhecimento de que Jair não será mais candidato e que qualquer outro resultado nacional não é mais prioridade”, disse. Na mesma linha, Julian Borba, da UFSC, alerta para o risco de enfraquecimento da representação estadual. “Afrouxar as regras de domicílio para atender projetos de grupos específicos é negativo para a democracia”, afirmou.

Borba também observa que, além de consolidar uma “trincheira bolsonarista” no Senado, a movimentação pode ter impacto nas alianças locais. Segundo ele, ao ocupar uma das vagas, Carlos Bolsonaro poderia facilitar uma articulação entre o PL e o PSD para garantir a reeleição do governador Jorginho Mello, deixando a outra vaga para um nome como o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD).

Especialistas ressaltam que, juridicamente, a transferência de domicílio é praticamente irrefutável. Basta apresentar um comprovante de residência até seis meses antes da eleição. “É um requisito meramente formal, não exige vínculo afetivo ou cultural”, explica Walber Agra, procurador do Estado e professor da UFPE.

Na prática, Carlos Bolsonaro repetiria o movimento do irmão Jair Renan, que é vereador em Balneário Camboriú (SC) desde 2022, reforçando o enraizamento da família no estado. Assim, SC se consolida cada vez mais como o principal reduto político do bolsonarismo no país, cenário que deve ganhar ainda mais força nas eleições de 2026.

 
 
 
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