Lula critica indecisão da União Europeia sobre acordo com Mercosul e cobra definição
Resistências internas na União Europeia, especialmente por parte da França e da Itália, colocam em dúvida a formalização do acordo
Por Da Redação
Créditos: Ricardo Stuckert/PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (17) que ainda não há consenso dentro da União Europeia para a assinatura do acordo de livre comércio com o Mercosul, negociado há mais de duas décadas. Em declaração durante reunião ministerial, Lula reclamou da demora dos europeus em concluir o processo e disse que o bloco sul-americano já fez todas as concessões possíveis no campo diplomático.
A expectativa do governo brasileiro era de que o tratado fosse assinado durante a cúpula do Mercosul, marcada para este sábado (20), em Foz do Iguaçu. No entanto, resistências internas na União Europeia, especialmente por parte da França e da Itália, colocam em dúvida a formalização do acordo no encontro.
Segundo Lula, a própria União Europeia havia pedido o adiamento da reunião do Mercosul para dezembro com a justificativa de que precisaria de mais tempo para concluir os trâmites internos. “Essa reunião do Mercosul era para ser dia 20 de novembro. Eu mudei para o dia 20 de dezembro porque a União Europeia pediu, que só conseguiria aprovar o acordo no dia 19. Agora estou sabendo que eles não vão conseguir aprovar”, afirmou o presidente.
O petista disse que viajará a Foz do Iguaçu com a expectativa de uma resposta positiva, mas fez um alerta em caso de nova negativa. “Eu vou na expectativa de que eles digam sim, e não digam não. Mas, se disserem não, nós vamos ser duros daqui para frente com eles, porque nós cedemos a tudo que era possível ceder”, declarou.
As críticas foram feitas durante encontro com ministros na residência oficial da Granja do Torto, em Brasília, onde Lula promoveu um balanço do ano e discutiu metas do governo para 2026, ano eleitoral. O presidente voltou a citar diretamente os governos da França e da Itália como principais focos de resistência ao acordo.
No campo institucional europeu, houve avanços recentes, mas ainda insuficientes para a assinatura imediata. Na terça-feira (16), o Parlamento Europeu aprovou mecanismos de salvaguarda para importações agrícolas relacionadas ao acordo com o Mercosul, um passo considerado importante após 26 anos de negociações. O texto, porém, endureceu regras em relação à proposta apresentada pela Comissão Europeia em setembro, o que exige nova rodada de negociações com o Conselho Europeu, órgão que reúne os governos dos 27 países do bloco.
As discussões no Conselho Europeu começaram nesta quarta-feira (17) e devem continuar ao longo de quinta (18) e sexta-feira (19). Para que o acordo seja aprovado, é necessária maioria qualificada: pelo menos 15 países favoráveis, representando 65% da população da União Europeia. Caso esse aval seja obtido, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, poderá viajar ao Brasil para assinar o tratado durante a cúpula do Mercosul.
Apesar disso, líderes europeus sinalizam cautela. O presidente francês Emmanuel Macron afirmou que a França reagirá “com firmeza” a qualquer tentativa de impor o acordo sem que suas condições sejam atendidas. Segundo o governo francês, Paris exige garantias como medidas-espelho, cláusulas de salvaguarda e controles mais rigorosos sobre produtos agrícolas importados. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, também classificou como “prematura” a assinatura do tratado neste momento, posição que fortalece o pedido francês de adiamento para 2026.
A França é a principal voz contrária ao acordo, pressionada por agricultores que temem concorrência de produtos do Mercosul, considerados mais competitivos. Além de França e Itália, Polônia e Hungria demonstram resistência ao tratado, enquanto Áustria e Irlanda avaliam se posicionar contra. A Bélgica já sinalizou que pretende se abster. Como França, Itália e Polônia estão entre os países mais populosos do bloco, um alinhamento contrário pode ser suficiente para barrar a aprovação.
Do outro lado, Alemanha, Espanha e países nórdicos defendem a assinatura imediata. Esses governos argumentam que o acordo ajudaria a impulsionar exportações europeias, especialmente em setores como automóveis, máquinas, vinhos e destilados, além de reduzir a dependência da China ao ampliar o acesso a minerais estratégicos da América do Sul.
Caso entre em vigor, o acordo entre União Europeia e Mercosul criará a maior zona de livre comércio do mundo, envolvendo os 27 países europeus e os membros do bloco sul-americano: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Enquanto europeus ainda discutem salvaguardas, representantes latino-americanos demonstram impaciência. Integrantes do governo brasileiro avaliam que o tratado precisa ser fechado agora, sob risco de o Mercosul priorizar negociações com outros parceiros, como Japão, Índia e Canadá.
