Laudo da Polícia Científica direciona avanço da investigação na explosão em Quatro Barras

Explosão deixou nove pessoas mortas

Por Gazeta do Paraná

Laudo da Polícia Científica direciona avanço da investigação na explosão em Quatro Barras Créditos: Corpo de Bombeiros

A Polícia Científica do Paraná (PCIPR) concluiu, em apenas 19 dias, o laudo que identificou as prováveis causas da explosão ocorrida na planta da empresa Enaex, em Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba. Nove pessoas morreram na explosão. O documento foi elaborado por peritos criminais e reúne análises técnicas, hipóteses de cenários e recomendações para o setor industrial.

“É um documento completo, com a apresentação dos cenários possíveis e inclusive com sugestões para a empresa e para outras do mesmo segmento, de forma a implementar melhorias de segurança”, destaca o perito oficial da PCIPR, Jerry Gandin. “Esse trabalho se soma a diversas ações concluídas em tempo recorde pela Polícia Científica do Paraná e pela Segurança Pública do Estado”.

Apesar da destruição total dos equipamentos e do ambiente desafiador para coleta de vestígios, os peritos apontaram que a baixa temperatura registrada no dia do acidente — cerca de 3°C no momento da explosão — pode ter contribuído de forma significativa para o incidente. O frio intenso teria favorecido a solidificação do pentolite (mistura de TNT e nitropenta), utilizado no carregamento dos busters que, ao colidir contra as bases dos agitadores, pode ter provocado a detonação. 

Para a análise técnica, a PCIPR dividiu o trabalho em duas frentes simultâneas: a primeira, dedicada à identificação das vítimas, com a aplicação do protocolo internacional DVI (Disaster Victim Identification), da Interpol, utilizado em desastres de grandes proporções; paralelamente, foi conduzida a análise da própria explosão, com o recolhimento de vestígios espalhados pela área atingida, avaliação da área e dos equipamentos, além do estudo de documentos técnicos e projetos da indústria. 

“É um trabalho complexo, que foge da análise tradicional da perícia”, explica Gandin. “Por isso, nestes casos, a gente aplica o método RCA (Root Cause Analysis), para a determinação da causa raiz. Ou seja, verificamos vários elementos contributivos para o incidente, semelhante ao que acontece, por exemplo, na queda de um avião. Nestes acidentes, não temos apenas uma causa. Nem sempre é só uma falha humana ou do equipamento, mas há a contribuição do clima, do tempo, do equipamento e dos operadores, e tudo isso pode contribuir para a ocorrência do acidente”, afirma. 

INVESTIGAÇÃO SEGUE COM PRIORIDADE E CAUTELA — A Delegacia da Policia Civil do Paraná (PCPR) segue atuando com prioridade e cautela na investigação do acidente. Desde o início, o trabalho tem se concentrado em apurar se houve alguma conduta dolosa ou culposa que possa ter contribuído para a explosão que vitimou os nove trabalhadores. Em razão da complexidade do caso e do grande volume de informações técnicas que ainda estão sendo analisadas, o inquérito será prorrogado por mais 30 dias. 

“A medida é essencial para que todas as diligências pendentes sejam realizadas com o devido rigor, garantindo que nenhuma hipótese seja descartada sem a devida verificação. O objetivo é entregar à sociedade e às famílias das vítimas um relatório final completo, embasado e responsável”, ressalta a delegada da PCPR, Géssica Andrade.

Para a continuidade da investigação, o laudo apresentado tem papel fundamental para subsidiar o inquérito. O documento reúne cenários e causas prováveis, oferecendo contribuições técnicas e científicas que poderão indiciar eventuais responsáveis. O material também serve de base para o Ministério Público e para a Justiça no andamento do processo.

RÁPIDA RESPOSTA À SOCIEDADE — A conclusão do laudo soma-se a outras ações realizadas em tempo recorde. A confirmação das identidades das vítimas, em apenas nove dias, foi possível graças ao trabalho conjunto e intensivo das equipes da PCIPR, responsáveis pela identificação genética de vestígios, e da PCPR, que atuou por meio da papiloscopia na análise de impressões digitais.

Do mesmo modo, a elaboração do documento reforça o esforço coletivo de técnicos e peritos criminais, que atuaram para garantir uma resposta rápida à sociedade e, principalmente, aos familiares das vítimas. 

“Realmente, é um trabalho complexo determinar a causa de uma explosão de grandes dimensões como essa, que aconteceu no último mês. Só foi possível chegar a este resultado com muito trabalho e um amplo contingente de profissionais, o que permitiu alcançar esse objetivo”, ressalta o perito da PCIPR.

Ao todo, a operação envolveu aproximadamente 80 profissionais da Polícia Científica, atuando de forma coordenada em diversas etapas simultâneas.

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