Incra inicia avaliação de terras para demarcação de áreas indígenas no oeste do Paraná
Trabalho vai atender 31 comunidades indígenas na região, que vive conflitos fundiários. Ação faz parte de acordo homologado pelo STF
Por Da Redação

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) começou nesta segunda-feira (23) a avaliação das terras que serão compradas pela Itaipu Binacional para destinação a comunidades indígenas no oeste do Paraná.
O trabalho inclui análise técnica de cada propriedade, levantamento cartográfico e visitas de campo. As áreas foram previamente indicadas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e somam cerca de 2.692 hectares, distribuídos em 23 locais.
De acordo com a Itaipu, essas terras vão beneficiar 31 comunidades indígenas que vivem nas Terras Indígenas (TIs) Tekoha Guasu Guavirá e Tekoha Guasu Okoy Jakutinga. As aldeias estão localizadas nos municípios de Guaíra, Terra Roxa, Foz do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu, Missal, Itaipulândia e Santa Helena, e reúnem aproximadamente 6 mil pessoas.
O coordenador da Funai em Guaíra, Celso Japoty, explica que, por enquanto, não é possível divulgar quais propriedades serão avaliadas, já que o processo inclui etapas como análises técnicas e negociações com os proprietários. A previsão é que a avaliação seja concluída até 30 de agosto.
Segundo a Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do Paraná, ainda não há definição de quais aldeias serão atendidas nesta primeira fase. A orientação, no entanto, é priorizar os territórios com maior histórico de tensão, como a aldeia Yvy Okaju, em Guaíra, que tem registrado conflitos recentes.
Um levantamento da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) mostra que a TI Tekoha Guasu Guavirá abriga 14 aldeias e se sobrepõe a 378 propriedades rurais. A pressão do agronegócio sobre a área é intensa. Atualmente, mais de 60% do território delimitado está ocupado por lavouras de soja e milho, enquanto as comunidades indígenas ocupam menos de 1%, segundo a entidade.
Além disso, a área da TI Tekoha Guasu Guavirá é alvo de 30 processos judiciais, entre eles ações de reintegração de posse, interditos proibitórios e litígios movidos por prefeituras e pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
Acordo homologado pelo STF
A avaliação das terras faz parte de um acordo de conciliação homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em março deste ano. O acordo autoriza a Itaipu Binacional a comprar até 3 mil hectares de terras, de forma emergencial, para atender comunidades indígenas impactadas pela construção da hidrelétrica.
O investimento previsto é de até R$ 240 milhões, com recursos próprios da Itaipu.
Após a homologação do acordo, as lideranças da comunidade Avá-Guarani divulgaram uma carta pública em que classificam o entendimento como “um misto de alívio e decepção”. “Alívio porque, durante todo o ano de 2024 e no início de 2025, nossas famílias sofreram ataques violentos, com armas de fogo, que deixaram pessoas feridas, pais e mães sem dormir e crianças traumatizadas”, diz o documento.
