Governo e mercado divergem em projeções econômicas no PLOA 2026
De acordo com a nota, as previsões de crescimento do PIB feitas pelo Executivo são mais otimistas do que as calculadas pelo setor privado
Por Da Redação

As Consultorias de Orçamento do Senado e da Câmara dos Deputados divulgaram, na quarta-feira (1º), uma nota técnica conjunta sobre o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2026. O texto, formalizado no PLN 15/2025, foi enviado pelo Poder Executivo em agosto e tem como relator o deputado Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL). A proposta estima receitas e despesas de R$ 6,53 trilhões para o próximo ano, mas revela divergências entre as projeções do governo e as expectativas do mercado financeiro.
De acordo com a nota, as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) feitas pelo Executivo são mais otimistas do que as calculadas pelo setor privado. Para 2025, a diferença é de 0,35 ponto percentual — o que significa que a estimativa oficial é cerca de 16% superior à do mercado. O distanciamento aumenta nos anos seguintes: 30% em 2026, 35% em 2027 e 28% em 2028.
No caso da inflação, o alinhamento é maior no próximo ano, mas as perspectivas voltam a se distanciar a partir de 2026. O governo projeta índices mais baixos do que os previstos pelo mercado, com diferenças de até 0,84 ponto percentual em 2027.
O PLOA 2026 estima um resultado primário positivo de R$ 34,54 bilhões, sem considerar as despesas com precatórios. Quando incluído o pagamento de R$ 57,84 bilhões em precatórios, o saldo passa a ser deficitário em R$ 23,29 bilhões. O limite fixado para as despesas primárias no ano que vem é de R$ 2,42 trilhões.
Outro ponto destacado pelas consultorias são as chamadas renúncias fiscais, ou gastos tributários. Para 2026, o valor projetado é de R$ 612,8 bilhões, equivalentes a 4,43% do PIB. O montante representa aumento de R$ 68,4 bilhões em relação ao estimado para 2025, mas ainda indica tendência de estabilização, já que o percentual cai em comparação aos 4,89% previstos em 2024.
Na área social, a proposta reserva R$ 122,4 bilhões para o Benefício de Prestação Continuada (BPC), destinado a 6,2 milhões de pessoas, o que representa aumento de 7,7% frente a 2025. O Bolsa Família terá R$ 158,6 bilhões para atender 19,9 milhões de famílias, com valor médio mensal estimado em R$ 664,29.
Os gastos obrigatórios em saúde e educação também receberam reforço. O orçamento da Saúde foi fixado em R$ 245,5 bilhões, enquanto a Educação contará com R$ 233,4 bilhões, um acréscimo de 16,4% em relação ao projeto anterior. Já no Regime Geral de Previdência Social, a previsão é de déficit de R$ 335,4 bilhões. Segundo a análise técnica, a tendência é de estabilização temporária, mas o saldo negativo deve voltar a crescer em função da política de valorização do salário mínimo.
As emendas parlamentares seguem sendo contempladas. Em 2026, cada deputado e senador terá direito a cerca de R$ 40,2 milhões e R$ 74 milhões, respectivamente, por meio de emendas individuais. O total reservado para esse tipo de repasse é de R$ 26,6 bilhões, além de R$ 14,2 bilhões para emendas de bancada.
A nota técnica conclui que, embora os números indiquem esforço de ajuste fiscal, as divergências entre governo e mercado sobre crescimento e inflação refletem diferentes visões sobre a velocidade da recuperação econômica do país. O relatório do deputado Isnaldo Bulhões Jr. deve ser apreciado nas próximas semanas, em meio a negociações políticas que tradicionalmente marcam a tramitação do orçamento no Congresso.
