Dono do Banco Master é preso; fraudes podem chegar a R$ 12 milhões
Prisão de Daniel Vorcaro e liquidação da Master Corretora expõem suspeitas de fraudes bilionárias e provocam reação imediata do Banco Central, que afasta outros envolvidos
Por Da Redação
Créditos: Foto: PF
A prisão de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, desencadeou uma série de desdobramentos no sistema financeiro brasileiro e ampliou o alcance das investigações sobre fraudes bilionárias envolvendo a instituição. O empresário foi detido pela Polícia Federal (PF) na manhã desta terça-feira (18), no Aeroporto de Guarulhos, quando tentava deixar o país. Ele está custodiado na Superintendência da PF em São Paulo.
A ação integra a Operação Compliance Zero, que apura a fabricação e negociação de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que fazem parte do Sistema Financeiro Nacional. Segundo a PF, as investigações começaram em 2024, após o Ministério Público Federal requisitar apurações sobre carteiras de crédito supostamente forjadas por uma instituição que, depois de vendê-las a outro banco, teria substituído os papéis por ativos sem avaliação técnica adequada.
A operação desta terça-feira cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 25 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal. Entre os alvos da investigação, além de Vorcaro, estão o presidente do Banco Regional de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e o diretor de Finanças e Controladoria do banco, Dario Oswaldo Garcia Júnior. Ambos foram afastados de seus cargos por decisão judicial.
As suspeitas, segundo o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, podem ultrapassar R$ 12 bilhões. Em depoimento à CPI do Crime Organizado, Rodrigues afirmou que o esquema incluía operações de crédito inexistentes, usadas para inflar balanços, simular empréstimos e dar aparência de solvência financeira. Ainda nas primeiras horas da operação, a PF apreendeu R$ 1,6 milhão em dinheiro vivo na residência de um dos investigados.
O Banco Master tornou-se conhecido nos últimos anos por sua política agressiva de captação, oferecendo rendimentos de até 140% do CDI, índices bem acima da média de instituições de menor porte, que costumam pagar entre 110% e 120%. Operações envolvendo precatórios e tentativas frustradas de emissão de títulos em dólares também levantaram dúvidas sobre a real situação financeira da instituição.
Um dia antes da prisão, a Fictor Holding Financeira anunciou a compra do Banco Master. Não há, por ora, esclarecimento sobre como a operação será afetada pelo avanço das investigações e pela decisão do Banco Central, que tomou medidas drásticas após a deflagração da operação.
Ainda nesta terça-feira, o BC decretou a liquidação extrajudicial da Master Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Imobiliários, empresa do grupo. A medida torna indisponíveis os bens de controladores e ex-administradores e nomeia a EFB Regimes Especiais de Empresas como liquidante extrajudicial, com Eduardo Felix Bianchini como responsável técnico. A liquidação aciona automaticamente o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que cobre investimentos de até R$ 250 mil por instituição, limitado a R$ 1 milhão a cada quatro anos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o processo conduzido pelo Banco Central é “muito robusto” e destacou que a pasta está à disposição para lidar com eventuais consequências da liquidação. Ele também evitou comentar detalhes das apurações, mas reforçou que o BC mantém a autonomia necessária para conduzir investigações e fiscalizações.
O caso também repercutiu no BRB, que em março anunciou a intenção de comprar o Banco Master por R$ 2 bilhões, valor que, segundo a instituição, representaria 75% do patrimônio consolidado do banco. A operação foi vetada pelo Banco Central em setembro, antes de as suspeitas ganharem maior dimensão.
Ainda hoje, a Justiça decretou o afastamento temporário do presidente do Banco BRB, Paulo Henrique Costa, e do diretor de Finanças e Controladoria da instituição, Dario Oswaldo Garcia Júnior.![]()
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Em nota, o banco estatal do Distrito Federal confirmou que Costa e Júnior se afastarão de seus cargos por ao menos 60 dias e garantiu que seguirá operando normalmente, “preservando a segurança das operações, dos clientes, dos parceiros e de toda sua estrutura operacional”.
Na nota em que comentou os afastamentos, o BRB afirmou que sempre atuou sob normas de compliance e que seguirá colaborando com as autoridades.
Com prisões, afastamentos, liquidação extrajudicial e cifras bilionárias sob investigação, a Operação Compliance Zero se consolida como uma das maiores ações recentes contra crimes financeiros no país. As autoridades ainda não divulgaram quando a PF deve concluir o inquérito, mas novos desdobramentos são esperados nos próximos dias.
