CPI ouve secretária de Educação e ex-presidente de PAD em caso de abuso em CMEI de Cascavel

A CPI destacou falhas na condução do processo, como a falta de notificações formais aos demais membros da comissão

Por Da Redação

CPI ouve secretária de Educação e ex-presidente de PAD em caso de abuso em CMEI de Cascavel Créditos: CMC

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o caso conhecido como “Professor Monstro” viveu nesta quarta-feira (20) uma das sessões mais aguardadas desde o início dos trabalhos. Foram ouvidas testemunhas consideradas-chave para esclarecer o andamento do processo administrativo aberto contra o servidor acusado de abuso sexual em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) de Cascavel. Entre elas, a secretária de Educação, Márcia Baldini, e a ex-presidente do Processo Administrativo Disciplinar (PAD), Cátia Simone Wermuth.

O cronograma de oitivas começou pela manhã com o depoimento de Cátia, responsável pela condução inicial do PAD. Ela explicou que o processo foi instaurado em 12 de fevereiro de 2021, após uma investigação preliminar sumária, e permaneceu sob sua presidência até junho de 2024, quando deixou o setor. A principal justificativa para a demora no andamento do procedimento foi o seu “despreparo técnico”.

“Tenho especializações, mas minha formação é em psicologia. Eu conduzi o processo com orientação de colegas, como a procuradora do município, mas não tenho formação jurídica. Sempre pedi ajuda quando possível, porque nós não tínhamos apoio jurídico”, relatou.

Segundo a servidora, os prazos foram prorrogados pelo próprio entendimento de que seria necessário aguardar provas do processo penal. “Eu entendi que deveria aguardar a prova emprestada. Que faltavam elementos. Foi uma decisão minha, dentro da autonomia que eu tinha como presidente do PAD”, disse.

A CPI, no entanto, destacou falhas na condução do processo, como a falta de notificações formais aos demais membros da comissão. Josilene Nunes Ruiz e Maxsoel Schimidt, que constavam em portarias como integrantes, afirmaram que só tiveram conhecimento disso em 2024, por meio da mídia e de convocações posteriores.

“Oficiados não. Eu lembro de ter conversado informalmente, mas não oficiei por excesso de trabalho. Foi coisa da minha cabeça naquele momento”, reconheceu Cátia.

Outro ponto questionado foi a ausência de qualquer cobrança ou acompanhamento da Secretaria de Educação. “Nunca fui oficiada, nunca houve pedido formal ou informal. Nenhuma referência”, afirmou Cátia.

Apesar da morosidade, o PAD foi concluído apenas em novembro de 2024, já sob nova comissão, resultando na exoneração do agente de apoio. Em março de 2025, a Justiça condenou o servidor pelos abusos cometidos.

Secretária é cobrada

No fim da manhã, foi a vez da secretária de Educação, Márcia Baldini, prestar depoimento. O foco foi entender quais medidas a pasta adotou após a denúncia de abuso sexual chegar à secretaria.

Segundo Baldini, a denúncia foi recebida em 22 de fevereiro de 2021, acompanhada de atas do CMEI, oitivas da mãe da criança e funcionários, além do boletim de ocorrência. “O encaminhamento foi imediato. No dia 23 ou 24 já estava na corregedoria, com todos os documentos anexados”, disse.

Entretanto, a secretária confirmou uma falha: o Conselho Tutelar não foi comunicado.

“Como já havia boletim de ocorrência, entendemos que não era necessário. Geralmente é o Conselho que encaminha para a polícia. Encaminhamos diretamente ao Nucria e à corregedoria”, explicou.

Outro ponto questionado foi a manutenção do servidor em funções dentro de CMEIs mesmo após a denúncia. Márcia afirmou que orientou a direção do CMEI Canadá, para onde ele havia solicitado transferência, a mantê-lo em funções administrativas, sem contato com crianças.

“Determinamos que ele não ficasse sozinho e não tivesse contato com crianças. Mas não temos como verificar todos os dias em todos os CMEIs se a determinação foi cumprida”, declarou.

O presidente da CPI questionou por que a Secretaria não determinou o afastamento imediato. A secretária respondeu que não tinha poder para afastá-lo sem respaldo da corregedoria ou de decisão judicial.

“Era uma denúncia grave, mas naquele momento ainda era uma denúncia. Encaminhamos tudo dentro de uma semana e confiamos nos órgãos competentes para investigar. Não temos poder de delegado ou juiz”, afirmou.

Márcia também esclareceu que não partiu da Secretaria qualquer indicação de nomes para compor o PAD. “Não recebemos nada nesse sentido. A controladoria definiu os integrantes por conta própria”, disse.

Divergências e falhas expostas

Durante os depoimentos, ficou claro que houve problemas de comunicação entre setores, falhas de acompanhamento e ausência de procedimentos padronizados. A CPI lembrou que, mesmo após a denúncia, o servidor permaneceu em contato com crianças em sala de aula, contrariando a orientação da Secretaria.

Além disso, zeladoras relataram episódios de assédio por parte do acusado, reforçando a gravidade da permanência dele em ambiente escolar durante a investigação.

Já Maxsoel Schimidt, professor e assessor técnico da Secretaria, afirmou que, após esse caso, a pasta passou a cobrar com mais frequência a corregedoria sobre o andamento de processos. “Hoje fazemos solicitações quase quinzenais. Não influencia no trâmite, mas entendemos que é uma forma de acompanhar melhor”, disse.

Com os depoimentos desta quarta-feira, a CPI soma 33 oitivas desde o início dos trabalhos, em 11 de julho. A CPI deve seguir ouvindo testemunhas ao longo das próximas semanas antes da elaboração do relatório final, que poderá apontar responsabilidades administrativas, além das já definidas pela Justiça.

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